quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Que lição tirar?

ZUENIR VENTURA
Que lição tirar?

Se Dilma Rousseff for eleita presidente da República, como as pesquisas ainda indicam, muitas crenças sobre comportamento e tomada de decisão dos eleitores terão que ser reavaliadas. A primeira é se é possível saber o que leva alguém a escolher um candidato e de que é feita essa fidelidade — se é um processo exclusivamente emocional ou se a racionalidade tem também um peso na escolha. O que faz a nossa cabeça: imprensa, família, amigos ou um pouco de tudo? Ou, em vez disso, é o bolso, ou seja, o acesso ao consumo? Em matéria de entretenimento cultural — filmes, peças, livros, shows — parece que o boca-a-boca funciona mais do que a crítica impressa. Mas em meio às paixões de uma campanha eleitoral não é fácil entender a situação, mesmo quando se pretenda ser mais testemunha do que juiz e se persiga uma posição de equilíbrio e equidistância.

Aparentemente, a principal formadora de opinião de um país é a chamada mídia: jornais, revistas, TV, rádio, internet. Mas se é assim, como é que a candidata do PT mantém seu favoritismo, ainda que em queda, quando a maioria dos veículos está contra ela? E se não é assim, se a imprensa não tem todo esse poder de influenciar, por que Lula se revoltou tanto, desqualificando o seu papel? Quais são as razões pelas quais um líder esperto como ele, no auge da popularidade, capaz de transferir votos e eleger a sucessora, desnorteou-se na reta de chegada e iniciou uma desenfreada escalada de ataques? Por desconhecimento é que não foi. Uma das melhores explicações para a relação poder x imprensa, é dele: "Notícia é o que o governo quer esconder; o resto é propaganda."

Pode-se alegar que é da natureza de todos os governantes maldizer a mídia e tentar controlá-la quando são contrariados. Inclusive os mais liberais. Até o tolerante JK, que aboliu a censura logo após chegar à presidência ("Quero a imprensa desatada, mesmo para ser injusta comigo"), proibiu Carlos Lacerda de falar no rádio. O próprio FHC, também um democrata, saiu do governo queixando-se e insinuando que um ou outro jornal queria o seu impeachment. Lula talvez tenha sido o que mais xingou e foi xingado pelos jornais e revistas (é impressionante o ódio que desperta em algumas pessoas). O presidente cometeu a besteira de acusar a imprensa de golpista e recebeu a classificação, também injusta, de fascista, quando na verdade falou mais bobagem do que fez — até porque nessa matéria, quando pensou fazer, com o "controle social", a sociedade reagiu.

Não se sabe se alguma lição vai ser tirada dessas eleições. Especialistas em pesquisa disseram que o eleitor não gosta de tiroteio, de troca de acusações. Se isso é verdade, há o que aprender com essa campanha.
Publicado no Globo de hoje.

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