sábado, 18 de setembro de 2010

Geografia da Fome – de Josué de Castro

AUTARQUIA EDUCACIONAL DE SERRA TALHADA – AESET
FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE SERRA TALHADA – FAFOPST
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA





GEOGRAFIA DA FOME




EQUIPE: Vandeilson Nascimento dos Santos
Nelcineide Rodrigues dos Santos
Luara Keite de Lima
Janice Emília do Nascimento Santos
Mª Lucidalva P. de Carvalho Souza





SERRA TALHADA
2010


Geografia da Fome – de Josué de Castro
           
No primeiro prefácio, nota-se que a ideia principal da obra de Josué de Castro é que o termo “fome” evoca simplesmente a insuficiência de nutrientes na alimentação das populações das diferentes regiões brasileiras, provocando a subnutrição e a “morte pela fome”. Onde se passa a saber de uma coisa: que não é apenas quando nossa alimentação é insuficiente que estamos ameaçados. Também o estaremos se ela for mal constituída. Neste ultimo caso, surgi uma serie de casos de subnutrição.
Josué de Castro já demonstrava, exaustivamente, a influência dos fatores socioeconômicos sobre os próprios fatores biológicos de nossa população. Segundo Josué de Castro, questões não só como do sexo, mas a da própria fome, eram pouco ou mesmo não abordadas, isto é, eram tabus, realidades que a humanidade (principalmente a parte que compreende as civilizações ocidentais) preferia “esconder”. E essa omissão provinha das elites que dominavam os países. Ainda segundo Josué de Castro, para cada 1000 obras escritas tratando da temática “guerras”, por exemplo, 1 uma era escrita para a temática “fome”.
No período entre guerras, situado na primeira metade do séc. XX, é que órgãos internacionais, como a Liga das Nações e a FAO (Organização de Alimentação e Agricultura das Nações unidas) deram início aos estudos e trabalhos sobre o problema da alimentação a partir de 1928, estavam com o intuito de buscar soluções para os problemas da fome, embora até os dias atuais não se mudou muita coisa a respeito do disso, principalmente nos países em desenvolvimento.
Chama-se de “fome endêmica” as manifestações permanentes de fome. Já a “fome epidêmica” são as manifestações transitórias de fome. Conforme Josué de castro, as áreas de fome no Brasil, era a Área Amazônica, o Sertão do Nordeste e o Nordeste Açucareiro. E as áreas de subnutrição são o Centro e Sul do país.

Área Amazônica

A região amazônica representa, sob o ponto de vista ecológico, um tipo unitário de área alimentar muito bem caracterizado, tendo como alimento básico a farinha de mandioca, os limites geográficos desta área são bem nítidos. Com as suas terras atravessadas lado a lado pela linha equatorial, estende-se para o norte até o sistema montanhoso das guianas e para o sul até alcançar a região semi-árida do nordeste brasileiro, onde seu revestimento vegetal se transforma em vegetação de campo aberto do tipo xerófita. Os contrafortes ocidentais da cadeia dos Andes a constituem a oeste. Suas terras banhadas pelo gigantesco sistema fluvial do amazonas e recobertas na quase totalidade por um espesso manto de floresta, abrangem uma extensão de cerca de 5 milhões de km2. Nesta região florestal vivem disseminados seis milhões de pessoas. Da simples coleta dos produtos nativos, da caça e da pesca. Da colheita de sementes silvestres, de frutos, de raízes e de cascas de arvores.. do látex, dos óleos e da resinas vegetais. E daí em diante nunca a Amazônia conseguiu sair de sua economia de colheita de produtos de floresta, dessa enganosa sedução da riqueza verde, riqueza que faz miséria do amazonas, como o verde da cana de Nordeste, e como o amarelo do ouro de Minas.
Apenas em zonas limitadas e utilizando uma cultura primitiva de certos produtos de alimentação, como o da mandioca, do milho, do arroz e do feijão. Tal tipo de farinha regionalmente chamado de farinha d’água, constitui um complemento obrigatório de quase tudo que se come na região – e foi por isso que Teodoro Peckolt o chamou de “Pão dos Trópicos”. O seu uso mais abundante se fazia na forma de farofas, mingaus, beijus e bebidas fermentadas (como o caium). A população indígena do Planalto Mexicano alimenta as crianças logo que é cortada a amamentação materna. Segundo Araújo Lima, em certa região do baixo amazonas – região do lago andará – os trabalhadores se alimentam dias seguidos exclusivamente com mingau de mandioca. A pesca rende muito mais e contribui para a dieta local com elementos mais ricos e variados, sejam peixes de água doce, os quais o amazonas possui uma infinita variedade, sendo os mais comuns o piracui e o peixe-boi.
A floresta é um obstáculo a criação de gado. As arvores frondosas, com as copas cerradas impedindo completamente a penetração da luz, não permitem o crescimento da vegetação rasteira que forma as pastagens. Não podem criar gado por que a umidade da floresta ameniza e faz morrer os bois , os carneiros e os cavalos.
Estas limitações que a natureza impõe a pecuária, a falta de transporte entre as zonas de criação e o resto da região amazônica, não facilitam o abastecimento nem de carne nem de leite. Estes são produtos que não entram praticamente na alimentação habitual nesta zona. Somente o recurso da caça-carne de anta, de pato-bravo, de macaco, ou do peixe, cujo consumo está mais limitado as populações que vivem nas margens dos rios, dos igarapés e das lagoas que as enchentes formam e as chuvas mantêm. Flagelados por falta de água. Flagelados por excesso de água, “o Nordeste durante as secas e a Amazônia durante as inundações constituem desgraçadamente modelos de incontrastáveis no catalogo das grandes tragédias coletivas”. Os principais defeitos deste tipo de alimentação da Amazônia nutrição. A influência do clima sobre o metabolismo, sobre o ritmo das trocas energéticas e, consequentemente, sobre as necessidades calóricas do homem habitante dos climas tropico - equatoriais.
O clima amazônico de tipo quente superúmido, com uma umidade relativa do ar que anda pela casa dos 90%, alcançado a todo momento o ponto de saturação do ar em umidade, condiciona forcosamente o organismo humano a uma sensível baixa de seu metabolismo.
Esta baixa de metabolismo na região amazônica é representada por cerca de 20% do total calórico das cifras de standard universal: um total de 2400 calorias. Este tipo regional de alimentação, que em sua manifesta insuficiência seria mortal em tempo, conduzindo o organismo a morte num clima frio ou temperado.
A mandioca é muito pobre em proteínas, mais pobre mesmo do que o milho, e qualitativamente inferior. Qual a razão pela qual o branco se fadiga mais depressa do eu o negro ou o índio? Pode haver varias razões explicativas: é que o negro trabalhou sempre despido. Seja nas plantações de cana das Antilhas, seja nos algodoes norte americanos, seja na área de açúcar do nordeste brasileiro, sempre o encontramos com menos roupa possível, tanga, com o torso e as pernas nuas, os índios, usando pouco vestuário, levavam também sobre o branco um grande vantagem para a defesa contra o excesso de insolação, usavam eles o processo da urucuização ou embichamento, que consistia em untar o corpo com uma mistura de corante das sementes de urucu, com gordura de jacaré, de capivara, de peixe ou com resinas vegetais. Os únicos colonos europeus que se alimentaram realmente nos trópicos, podendo concorrer nos trabalhos com os nativos, foram os portugueses. E verdade que se trata raramente de carências totais, de absoluta ausência desses princípios acarretando o que se chama de avitaminoses típicas. São deficiências parciais, chamadas de hipoavitaminoses, avitaminoses latentes e frustas. Áreas de beribéri, doença causada pela carência de vitamina B1, também chamada tiamina: a área amazônica, na America, a área da bacia do congo, na África. Contudo, as manifestações predominantes desta carência se assentam sobre o sistema nervoso. São as paresias e as paralisias que constituem o eixo sintomático dessa doença conhecida no oriente desde a mais remota antiguidade e denominada beribéri. O beribéri é uma típica carência, e foram mesmos os estudos experimentais que vieram a esclarecer isso. A floresta virgem cobrou caro a ousadia dos primeiros que tentaram arrancar a riqueza maldita do seio da selva tropical. E a sua vingança predileta fora exatamente o beribéri. Defumavam a borracha. Vendiam o produto por preços fabulosos. E quando estavam se sentindo donos do mundo, começavam a sentir o chão fugindo debaixo dos pés á sentir as pernas bambas, a dormência subindo dos pés até a barriga, uma cinta apertando-lhes o peito como uma garra, e que sem o excesso de dinheiro para queimar a toa, para comprar as bebidas finas e carned-beet inglês, o homem da Amazônia teve que voltar a seus antigos misteres da era de antes da borracha. Outras manifestações de carências alimentares na Amazônia são: a cegueira noturna, com a xeroftalmia e a querotomalacea. Com as conjuntivites e as blefarites, as córneas opacas levando a cegueira incurável. Como na Índia, por exemplo, onde vive o maior numero de cegos do mundo, que cegaram por falta de vitamina A, como no México, onde o numero de crianças com xeroftalmia é enorme.
Outra carência alimentar se manifesta através do escorbuto, causado pela falta de vitamina C. O feio escorbuto se faz apodrecer as gengivas e sangrar as mucosas de suas vitimas de maneira impressionante. O raquitismo é raro na região amazônica. E a mortalidade por certas doenças tem sido um fator de alta importância na deficiência alimentar. Segundo Josué de Castro, a tuberculose estava em fase epidêmica na capital paraense: onde o mesmo Josué, realizando o primeiro cadastro tuberculino por via fluvial, verificou-se que a cidade de Belém estava disseminando a tuberculose pelas zonas rurais da Amazônia. Não só Belém constitui um dos focos de alta incidência do mal como este foco se estende uniformemente por toda a zona rural atravessada pela estrada de ferra de Bragança, tendo a peste branca penetrado e sido disseminada no campo pelo trem de ferro e tendo infectado em massa estas populações nativas sem nenhuma defesa imunológica.
Deve ser posto em destaque que o ocorrido na Amazônia não foi uma exaltação desse espírito de iniciativa privada que caracterizou toda a colonização portuguesa, no Brasil, neste aspecto semelhante a espanhola no resto da América. Com o advento da valorização da borracha o fenômeno da dispersão se acentuado ainda mais, penetrando o homem mais longe, avançando pelos afluentes do grande rio até as cabeceiras e se infiltrando pelas entradas dos seringais do mato adentro, cerca de 90.000 aventureiros assim se espalharam pelo sertão do Acre. O homem perdido na Amazônia é engolido irremediavelmente pela floresta.

Nordeste Açucareiro

Em se falando da região do Nordeste Açucareiro, Josué de Castro relata os problemas da subnutrição e da carência alimentar. Durante a história, os colonos destruíam as florestas do litoral do Nordeste para plantar a cana-de-açúcar, deixando-se iludir pelos lucros, até suprimirem as culturas de sustentação e edificarem sua fortuna. A preocupação com a paisagem do litoral nordestino, impregnada de história, é justamente onde se destaca o elemento criador de uma vida econômica – a cana-de-açúcar. Da cultura da planta por todo o Nordeste com as queimadas e destruição das florestas houve a desvalorização da cana. Com isso, a consequente crise do açúcar veio agravar a situação alimentar. Nos primeiros séculos de colonização, o trigo foi importado, mas, era de tão má qualidade, mofado e rançoso, que preferiam o pão da terra, a mandioca. A alimentação da região era muito escassa e pouco saudável. Pode-se concluir que, desde o início da colonização brasileira até hoje, a alimentação do nordestino é e foi de má qualidade.
Na região do nordeste açucareiro, do que mais se morria era de fome. Com quantidades insuficientes de alimentos como o feijão, farinha, charque, café e açúcar. Não poderia ser de outro modo pelo salário que aquela gente ganhava através das lavouras agrícolas raramente presentes nas zonas canavieiras. Sempre com o lema de indivíduos bem nutridos e não de subalimentados.
Em cenas se mostram as pessoas na seca, em situação de fome. E não só as pessoas, como também os animais.
Estas pessoas precisavam de uma boa alimentação, visto que elas trabalhavam muito, logo deveriam ser bem alimentados para suprir a energia que foi gasta na jornada de trabalho.

Área do Sertão do Nordeste

A área do sertão do Nordeste é um caso excepcional entre as diversas zonas de alimentação á base de milho no mundo,todas elas ares de fome,de graves deficiências alimentares ,como a America Central,os Estados Unidos da America,Itália e da Romênia.Verifica-se que no mundo inteiro,as áreas de milho são áreas de misérias alimentar,à exceção do serão nordestino.Nesta área criaram complexo alimentar em que as graves deficiências protéicas e vitamínicas do milho são compensadas por outros componentes habituais de dieta.Se o sertão não estivesse exposto à fatalidade climática das secas,Talvez não figurasse entre as áreas de fome.
A base da criação de gado e da agricultura de sustentação e de certos recursos um tanto escasso do meio ambiente da caça e da pesca,o sertanejo usando métodos de preparo e de cozinha apreendidos de outro continente,adaptando novos ingredientes da terra criou um tipo de alimentação característico.Alimentação solida,bem, equilibrada,a qual constitui um bom exemplo de como pode um grupo humano retirar de um meio pobre recursos adequados às necessidades básicas de sua vida.
            A chamada área do sertão do Nordeste se estende desde as proximidades da margem direita do Rio Parnaíba,no seu extremo norte,até o Rio Itapicuru,abrangendo as terras centrais dos Estados do Piauí,Ceará,Rio Grande do Norte, Paraíba,Pernambuco,Alagoas,Sergipe e Bahia. Nestas extensas zonas semi-áridas chamada de polígono das secas, vivem num regime que tem como alimento o milho. Permitindo que fora das quadras dolorosas das secas,vivam em perfeito equilíbrio alimentar,num estado de nutrição bastante sastifatório.
A fauna do sertão fornece poucos recursos alimentares. Os rios e os próprios açudes,tem as suas águas bem mais pobres em peixes do que a zona da mata.Só o Rio São Francisco mantêm apreciável riqueza em suas águas.A fauna terrestre está longe  de fornecer grande auxilio alimentar.Se não possuir carnívoros de grande porte, que ponha em perigo a vida do homem  na região,alguns animais de rapina,como as raposas,gaviões e caracarás,que disputam ao homem alguns dos recursos mais importantes da fauna comestível.Não só da selvagem mas da domestica,das suas criações de galinha,cabra e ovelhas.
A flora de toda região é do tipo xerófita, adaptada à falta d’água no solo e do vapor d’água da atmosfera. Entre a flora xerófita destacam-se as cactáceas, como as palmatórias, as mandacarus,os xiquexiques e os facheiros. Plantas que ajudava gente e o gado a escapar aos seus rigores mortíferos. Dando cor e características á flora do sertão, estão as resistentes bromeliáceas, as suas macambiras, cróias e croatais.
A flora do sertão é bastante pobre em espécies que forneçam alimentos. Está longe de possuir uma riqueza tão espetacular em frutas como a do outro Nordeste, o Nordeste de mata tropical. Afora o umbuzeiro e o pequizeiro.As plantas nativas do sertão produzem frutos de segunda classe que não despertam interesse ao apetite do sertanejo.As quixabas,os juás,os frutos dos cactos,dos xiquexiques.dos cordeiros,quase são aproveitados nas grandes épocas das secas.
A vitamina A existe em relativa abundância em vários componentes de dieta normal do vaqueiro:o leite e manteiga são suas fontes centrais;o milho amarelo e a batata-doce .De pvitaminas do completo B não há déficit parente no sertão nordestino.O beribéri,forma clínica da carência de vitamina B1.As arriboflavinoses caracterizados por feias boqueiras que assolam os meninos dos engenhos só surgem no sertão na época das secas.Tanto esta como as outras formas de carências em vitamina B2 são raridades clinicas entre os sertanejos com sua economia organizada.o leite se revelou no sertão apreciável teor de vitamina C.Principalmente o leite de cabra que o sertanejo consome e que se  mostrou quase duas vezes mais rico nesta vitamina do que o leite de vaca.Não é só leite que mostra bem provido desta vitamina na área sertaneja.O milho verde,o feijão verde e o jerimum,contêm ácido ascórbico em doses que não estão longe das encontradas nas frutas cítricas.
Além do leite,tem  o sertanejo uma fonte liberal de proteínas na carne de boi,carne de carneiro e,principalmente carne de cabrito.Matando o animal para se alimentar o sertanejo come no dia da matança,as vísceras e partes mais perecíveis em famosas buchadas e paneladas,reservando para outro dia a carne de músculos,fresca ou seca como charque.
Analisando a proporção em que entram os outros alimentos simples na ração sertaneja, vê-se que não quebram o seu equilíbrio harmônico.A dieta sertaneja é dieta de poucas,de raras sobremesas.É uma dieta de poupança de verdadeira defesa contra as carências relativas em vitaminas B1,sempre latentes.O sertanejo,quase sem comer frutas nem verduras,consegue escapar por outros meios aos malefícios das avitaminoses e das carências minerais patentes.O que ocorre é que muitos outros alimentos,além das verduras e das frutas conhecidas,são capazes de abastecer o organismo tanto de sais minerais como de vitaminas.O matuto não apresenta carência cálcica por consumir quantidade liberais de leite e  de queijo que são as mais ricas fontes naturais desse principio mineral.Também as águas sertanejas são águas calcárias  que ajudam no abastecimento em cálcio.Escapas as anemias ferroprivas,que assolam os brejeiros,comendo carne fresca e seca,feijão,favas,milho e principalmente a rapadura ,que é  muito superior ao açúcar por seu conteúdo tanto de ferro como em outros princípios minerais.Apesar de sofrer grande espoliação em cloreto de sódio,pela sudação abundante que o clima condiciona,o sertanejo equilibra o seu metabolismo deste outro mineral com a sua alimentação rica de sal,o qual constitui o tempo por excelência do sertanejo.
Com estudo da Amazônia e do Nordeste açucareiro foram apresentadas duas áreas de fome endêmicas no Brasil.
Desfavorável á vegetação,foi a criação de cabras,no entanto,muito favorável à alimentação regional,pois tanto a sua carne como o seu leite são consumidos.
E não é só o milho que consome o leite em abundância no sertão do Nordeste, mas de muitas outras formas com café pela manhã, ou como coalhada, manteiga ou queijo.
Este consumo de carne,numa área onde o milho constitui a alimentação básica é verdadeiramente excepcional e faz do Nordeste uma zona privilegiada.Já os ovos constituem um alimento raro.Além do milho,do leite e da carne,fazem habitualmente parte da alimentação do sertanejo  e o feijão,a farinha a batata -doce,o inhame,a rapadura e o café.O feijão é usado em diversas variedades  como de arrancar e de rama de corda.A batata -doce  colabora com o milho substituindo o pão.Na Bahia e Pernambuco havia uma pobreza muito grande da dieta em verduras e frutas.As refeições que ofereciam ricas em carne de boi,porco,carneiro,cabrito não continham uma só verdura nem um só fruto.
Importante elemento da fauna para a alimentação do sertanejo e que merece um destaque especial é a abelha,cujo mel substitui muitas vezes o açúcar e rapadura no tempo dos alimentos.Café com mel de abelha é uma combinação de largo uso nos períodos de seca do nordeste.Os gatos do mato,capivaras,tamanduás,tatus,coelhos do mato,preás e mocós completam,com os micos e as serpentes a fauna desta região.
Não há problema de vitamina D para o sertanejo. O céu límpido,quase sempre despido de nuvens,e o ar seco,quase isento de umidade,permitem que o sol despeje como maná divino muita vitamina D no sertão.A síntese da vitamina D ao nível da pele garante as necessidades do organismo neste principio alimentar.
Não se constitui o sertanejo num agricultor de produtos de  exportação,para fins comerciais,como se praticava nas terras do  litoral,mas um plantador de produtos  de sustentação para seu próprio consumo.Um semeador,em pequena escala,de milho feijão,fava,mandioca,batata-doce,abóbora e maxixe,plantados nos vales mais sumosos,nos baixios,nos terrenos vê vazante,como culturas de hortas e jardins.A este tipo de policultura do sertanejo é chamada “roça do matuto”.
No sertão nordestino vai se encontrar um novo tipo de fome, inteiramente diferente.Não mais a fome atuando de maneira permanente,mas apresentando-se episodicamente em surtos epidêmicos.Surtos agudos de fome que surgem com as secas.As epidemias de fome destas quadras calamitosas não se limitam,no entanto,aos aspectos discretos e toleráveis das fomes parciais,encontradas nas outras áreas.São epidemias de fome global quantitativa e qualitativa,alcançando os limites extremos da desnutrição e da imaginação aguda e atingindo a todos,ricos e pobres,fazendeiros e trabalhadores do eito,homens,mulheres e crianças,todos açoitados de maneira impiedosa pelo terrível flagelo das secas.
No sertão nordestino escapam as populações porque o milho, embora seja um alimento básico, consumido quase que pela totalidade de seus habitantes e em quantidades relativamente altas e mais ainda em plena zona rural,não constitui,a fonte obrigatória nem de proteínas,nem de vitaminas,nem de sais minerais do sertanejo.Mas apenas  a sua base calórica.Usado sob as mais variadas formas,como angu,canjica,cuscuz,o milho é quase sempre consumido juntamente com o leite,completando a caseína do leite as deficiências de aminoácidos da zeína do milho.
O característico desta extensão de área geográfica é do seu clima semi-árido.Clima tropical,seco,com chuvas escassas e principalmente irregulares.Com uma temperatura média elevada o ano inteiro.Onde há água em abundância e a vegetação frondosa,o clima se apresenta mortífero,e onde a água é escassa e a vegetação exígua,o clima é salubre. No solo do sertão,desenvolvem-se três tipos de vegetação que permitem a  caracterização de três subáreas:o agreste,a caatinga e alto sertão.No ponto alimentar,podemos englobar as três subáreas numa só:na área do milho do sertão nordestino.
O componente fundamental da dieta do sertanejo é o milho, alimento muito incompleto, com falhas graves põe seu baixo teor protéico.
Com  as secas desorganiza-se completamente a economia regional e instala-se a fome no sertão.Normalmente as  crises climáticas,mesmo as mais extensas,ficam adstritas ao período de um ano,mas não é raro que esse desequilíbrio alcance um período maior,dois anos e até três.Nesse caso trata-se de uma seca excepcional,de intensidade extraordinária,de conseqüências indescritíveis,com o cortejo de misérias e humilhações do conhecimento de todos os brasileiros.As crises do Nordeste estão sujeitas a intervalos diferentes:a seca parcial que obedece a um período da ordem de 4 a 5 anos.A seca generalizada,cujo período parece ser de 10 ou 11 anos,e seca excepcional,que parece obedecer ao ciclo de 50 anos.Diz Gilberto Freyre “a palavra Nordeste nos evoca sempre o espetáculo das secas.Quase não sugere senão as secas,os sertões de areia rangendo debaixo dos pés”.
Neste sinistro período em que o clima se nega a regar com chuva benfazejas o solo adusto da caatinga,toda a vida regional se vai exaurindo da superfície da terra.
O despovoamento da região resulta do fato de que não só os animais domésticos, como os que fazem parte da fauna nativa,emigram ou são em sua maior parte dizimados mas épocas de  secas prolongadas.As culturas desaparecem dos  roçados com as sementes enterradas na poeira esturricada ou com as plantas tenras dessecadas pela soalheira.O pasto seco se esfarinha  e é arrastado pelos ventos,ficando o gado a míngua de água e de alimentos.Recorre o vaqueiro ao recurso das  ramas e dos cactos,queimando os espinhos dos mandacaru e dos facheiros e picando os  seus gomos a facão para evitar a extinção imediata do rebanho.O gado esfomeado procuram arrancar com os cascos e com as bocas sangrando os espinhos dos cactos aquosos que lhe mitiguem por um momento a fome e a sede.Não dura muito que o gado se deixe aniquilar pela morrinha e pelas pestes,e comece a entrevar,cair e a morrer como moscas.O pátio das fazendas vão ficando coalhados de cadáveres .
O sertanejo quase sempre desprovido de reservas cai imediatamente num regime de subalimentação.A sua dieta nesta fase se reduz logo um pouco de milho,de feijão,de farinha.Mas se a seca persiste,estes poucos gêneros desaparecem do mercado,ficando o sertanejo reduzido aos recursos da s”iguarias bárbaras”,das “ comidas brabas”-raízes,sementes e frutos silvestres de plantas incrivelmente resistentes a dessecação do meio ambiente.
Fazem parte desta dieta forçada dos  flagelados pela seca inúmeras substancias bem pouco propicias a alimentação,das quais os habitantes de outra zona do pais nunca ouviu falar que fosse alimentos.Substância de sabor estranho, algumas tóxicas,outras irritantes,poucas possuindo qualidades outras alem da de enganar por mais algumas horas a fome devoradora,enchendo o  saco do estomago com um pouco de celulose.
Do cardápio extravagante do sertão faminto fazem parte as seguintes iguarias bárbaras: farinha de macambira, de xiquexique, de parreira brava, de macaúba e de mucunã; palmito de carnaúba nova, raízes de umbuzeiro, pau-pedra, de serrote, maniçoba e sementes de fava-brava. A parte alimentar do xiquexique é a sua medula,a qual é consumida assada com aipim  servindo para o fabricação de farinhas .Já a mucunã constitui de um recurso chamado de desespero,sendo acusada de tóxica.Essa planta,da família das leguminosas,é uma  trepadeira que produz grandes vagens,encerrando de três a cinco sementes extremamente duras e achatadas de cor vermelha e preta.A vermelha  alimenta-se não só da fécula contida na semente como ainda de uma matéria extraída da raiz.E da preta só se utilizam da raiz.Para o preparo da farinha retiram o duro invólucro das sementes e com as mesmas cozidas e reduzias as massas procedem  a sua lavagem e m nove águas,depois levada ao fogo para torrar.O valor nutritivo da semente da mucunã,do tipo vermelha se revelou com um teor protéico de 28,50%,de54,57% de hidrocarbonados e de 2,25% de cinzas minerais.Trata-se de um alimento rico em proteínas,do mundo.A goma da carnaubeira é extraída dos palmitos das plantas novas.A raiz do umbuzeiro é de formada de um tecido esponjoso ricamente bebido em água.A maniçoba são euforbiáceas com raízes bastante ricas em amido,assemelhando-se muito as raízes de mandioca.Também as raízes de pau-de-serrote,fabricam uma farinha usada em miguau. Embora a planta queimada produzisse uma fumaça venenosa, capaz de cegar. Com as sementes torradas de manjerioba fazem no sertão uma bebida que substitui o café.      

Áreas de subnutrição: Centro e Sul

            São as duas regiões alimentares do Brasil que, segundo Josué de Castro, possuem deficiências alimentares mais discretas do que as outras áreas alimentares do país, isto é, a Amazônia, o Sertão do Nordeste e o Nordeste Açucareiro.
As áreas Centro e Sul do Brasil, de acordo com Josué de Castro, “não são áreas de fome, no sentido rigoroso da palavra, mas áreas de subnutrição, de desequilíbrios e de carências parciais, restritas a determinados grupos ou classes sociais”.
No relato é feita uma alusão as áreas de fome do continente sul americano, no caso: o planalto boliviano, o chaco, o deserto chileno, as terras subandinas da Argentina, a Amazônia peruana, colombiana e venezuelana.
            A região Centro-Oeste é delimitada e descrita por Josué de Castro da seguinte forma: “é a área central do milho, que abrange as regiões montanhosas de Minas Gerais, o sertão do sul de Goiás e os pantanais do Mato Grosso. Zona em parte de clima quase subtropical, com chuvas abundantes e regulares e de temperatura abrandada em seu extremo calor pela altitude.”
            Naquele período, o milho cultivado nesta área representava 25% da produção nacional. Outro fato interessante é que as criações de porcos nesta área eram as maiores de todo o país. No entanto, não eram o milho e a carne suína os únicos recursos alimentares desta região, segundo Josué de Castro, havia criações abundantes de gado bovino, e cultivo de variados produtos agrícolas, como o feijão, o café, o arroz e a cana-de-açúcar, sendo aquela região um verdadeiro mosaico de paisagens agrícolas.
            O principal alimento preparado nesta região era o tutu de feijão mineiro, preparado com a farinha de milho, feijão, gordura, toucinho e lombo do porco. Alimento este de alto valor calórico e de baixo valor nutritivo. Porém, havia o consumo alimentar de vegetais verdes, principalmente de couves, que é fonte de sais e vitaminas, além de outras hortaliças e frutas como: laranja, mamão, banana e abacate. Tais alimentos compensavam o valor nutritivo da dieta da dieta regional. Também merecem destaque os produtos derivados da cana-de-açúcar, como o caldo, o melado, a rapadura, os quais eram consumidos em certas áreas mineiras, onde ploriferavam os pequenos engenhos de açúcar.
            Por conta das gorduras de porco e dos derivados de cana consumidos nesta área, era comum uma incidência de obesidade e diabetes, a na formação dos tipos biológicos de mineiros lentos, pesados, conservadores e pachorrentos. Não havia grandes déficits tão graves, havia sim, desvitaminoses A, B e C.
            Havia, no entanto a carência de iodo na região mineira. A pobreza deste metalóide nessas terras montanhosas, no seu solo, na sua água e nos vegetais ali produzidos, é responsável pela enorme incidência de cretinismo endêmico nessa região, cretinismo que se manifesta numa rica gradação de formas clínicas, bociosas ou não.
            São mencionadas as mudanças no espaço geográfico da região de Goiás, pois até antes da construção de Brasília (ali situada), essa região, que era isolada dos grandes centros demográficos do país, começa a ganhar infra-estrutura (estradas), que iria proporcionar uma maior integração com as outras áreas do país. E como muitas pessoas de outras regiões nacionais apareceram na área para trabalhar no grande canteiro de obras, certamente os costumes e padrões alimentares da população nativa iriam ser modificados.
            A área do Sul, que abrange geograficamente o Estado da Guanabara, o estado do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é caracterizada por uma maior variedade de elementos componentes de seu regime alimentar e pelo consumo mais elevado das frutas e das verduras. Sendo a zona mais rica do país, compreendendo 80% da capacidade econômica de toda a nação (naquele tempo), não era de se estranhar que dispunha de elementos para tornar um tanto mais elevado o seu padrão alimentar. Toda essa melhoria foi provocada por vários pilares, como base econômica sólida; concentração produtiva e populacional, ocupando respectivamente 40% e 31% do quadro nacional; a chegada de imigrantes; além do clima e do solo favoráveis para a produção agrícolas e para a instalação dos imigrantes.
            Assim, a alimentação nessa região se tornou muito variada: desde padrões vegetarianos, onde se predomina o uso do trigo, sob forma de espaguete e ravióli, na área paulista, até a alimentação carnívora, na subárea do Rio Grande do Sul, caracterizada pelo complexo alimentar do churrasco s do mate-chimarrão.
            Nas colônias japonesas, situadas nas proximidades dos centros urbanos, em torno da capital paulista, o consumo de verduras é mais abundante. Já nas zonas de influência germânica (alemã) se encontra um consumo mais freqüente de aveia, centeio, lentilhas, hortaliças e frutas; assim como a carne, principalmente suína, em suas inúmeras variedades de salsichas, bacon, presunto doméstico, carne de fumeiro, comidos com pão preto, chucrute e cerveja.
            Não se concluía pela enumeração desta apetitosa lista de substâncias alimentares, produtos de ação conjunta de fatores naturais e culturais favoráveis, que a alimentação nessa área era perfeita, isenta de deficiências e de desequilíbrios. A situação estava longe disso. No Rio de Janeiro havia deficiência de cálcio, ferra e vitamina A e dos grupos B e C. deficiências que resultam do baixo consumo de leite, de verduras, de legumes verdes, de cereais integrais e de verdura entre os elementos das classes das classes proletárias. Em São Paulo havia a carências desses elementos, porem de maneira mais discreta. De fato, o regime alimentar do São Paulo era o menos defeituoso do país, onde o alimento base consumido era o trigo, que possui mais proteínas do que outros cereais, como milho e arroz. Apesar desta maior tendência dos paulistas a consumirem trigo, frutas e verduras, sofrem, contudo, da carência de certos princípios nutritivos.
Já em Santa Catarina, segundo inquéritos de terceiros abordados pro Josué de Castro, a alimentação popular se mostrou de modo geral suficiente e equilibrada, enquanto que no Rio Grande do Sul, na zona do Bajé, um regime insuficiente e nitidamente carenciado em vários princípios fundamentais, o que explicava, em grande parte, a alta incidência de tuberculose nessa região, incidência que era das mais fortes do país.
Nesta área do Sul, sem duvida, a melhor alimentada do país, verificou-se, contudo através das indagações bem conduzidas, toda uma seria de carências alimentares, as mais das vezes parciais, discretas ou ocultas. Uma delas se manifesta nas crianças pobres dos grandes centros urbanos da região. Em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo os pediatras tinham constatado nos últimos anos uma incidência exatamente alta dos edemas de fome das distrofias malignas e mesmo de síndromes típicos kwaskiorkor entre as crianças atendidas nos hospitais públicos, nos bairros operários e nos subúrbios. Alguns pediatras chegavam a afirmar que estes estados mórbidos que exteriorizam a carência de proteínas, ou melhor, de certos aminoácidos integrantes da molécula proteica, longe de diminuir, tem sua incidência em franca ascensão, com o surto de industrialização e o adensamento do proletariado urbano no Brasil.
Chega-se, através desta rápida análise feita por Josué de Castro, a conclusão de que o Sul é realmente uma zona de subnutrição crônica, cujas populações, embora libertadas em sua maioria das formas mais graves de fome, estão, no entanto longe de gozar dos benefícios de um metabolismo perfeitamente equilibrado.

Estudo do conjunto brasileiro

Com a apresentação, sob a forma de grandes manchas impressionistas, as áreas de subnutrição do Centro e do Sul, completa-se a caracterização do mosaico alimentar do país. Através deste panorama, verifica-se a veracidade do titulo e das premissas deste volume: o Brasil é realmente um dos países de fome no mundo atual. Tanto em seus quadros regionais como em seu conjunto unitário, sofre o Brasil as duras consequências dessa condição biológica aviltante de sua raça e de sua organização social.
Orientada a principio pelos colonizadores europeus e depois pelo capital estrangeiro expandiu-se no pais uma agricultura extensiva de produtos exportáveis ao invés de uma agricultura intensiva de subsistência, capaz de matar a fome de nosso povo.
Os governos se mostraram quase sempre incapazes de impedir esta voraz interferência dos monopólios estrangeiros na marcha da nossa economia. Conforme acentuou muito bem o economista Gunnar Myrdal, as grandes potências utilizaram nos países subdesenvolvidos para seus fins de exploração colonial “os próprios grupos oligárquicos, interessados eles próprios na manutenção do status quo político e social”. E, portanto infensos ao verdadeiro desenvolvimento emancipador.
Outro aspecto do nosso desenvolvimento, pouco favorável a melhoria das condições alimentares, tem sido o relativo abandono a que foram regaladas as regiões mais pobres do país, onde a fome grassa na mais alta proporção. O caso do Nordeste é o mais alarmante porque aí se concentra um terço da população brasileira, que vive em condições econômicas bem precárias, como já foi demonstrado.
Depois de quatro séculos de ocupação humana vamos encontrar um país que se dizia agrícola e que apenas dispõe de cerca de 2% de suas terras trabalhadas no cultivo de utilidades e dessa área, só a terça parte se destinando a produção de gêneros alimentícios. É verdade que a larga mancha negra da fome se atenuou um pouco em certos pontos, se retraíram seus limites noutros, mas o quadro geral pendura mais ou menos idêntico. Ganhou-se nos últimos anos uma melhor consciência da realidade do problema. O desenvolvimento econômico do Brasil, quando medido através dos índices da renda média per capita, não pode ser contestado. Mas se procurarmos aferi-lo, através da distribuição real das rendas pelos diferentes grupos sociais, mostra-se ele então bem menos efetivo. Mesmo industrializando-se, a nossa economia seguiu os ditames de uma economia de tipo colonial, politicamente desinteressada pela sorte da maioria. Apenas ocupada em desenvolver mais o já desenvolvido. Há ainda a questão da maldita estrutura agrária que foi estabelecida desde os tempos da colonização, pois esta é um empecilho para o desenvolvimento sócio econômico.
Diante de todas essas problemáticas, conclui-se que:
  1. O Brasil, como país subdesenvolvido, em fase de desenvolvimento autônomo e de acelerado processo de industrialização não conseguiu ainda se libertar da fome e da subnutrição que durante séculos marcaram duramente a sua evolução social, entravando o seu progresso e o bem-estar social do seu povo.
  2. A dualidade da civilização brasileira, com a sua estrutura econômica bem integrada e prospera no setor industrial e uma estrutura agrária arcaica, de tipo semicolonial, com manifesta tendência a monocultura latifundiária, é a principal responsável pela sobrevivência da fome no quadro social brasileiro.
  3. Nenhum fator é mais negativo para a situação de abastecimento alimentar do país do que a sua estrutura agrária feudal, com um regime inadequado de propriedade, com relações de trabalho socialmente superadas e com a não utilização da riqueza potencial dos solos.

Conclusão



A releitura de Geografia da Fome evidencia quão viva, polêmica e sedutora permanece esta obra sexagenária. Nos dias atuais, ao perfil epidemiológico nutricional traçado por Josué de Castro, caracterizado pelas carências nutricionais (desnutrição, hipoavitaminoses, bócio endêmico, anemia ferropriva etc.), sobrepuseram-se as doenças crônicas não-transmissíveis (obesidade, diabetes, dislipidemias etc.). Nesse aspecto, tanto o mapa das cinco áreas alimentares como o das principais carências nutricionais existentes no Brasil traçados em Geografia da Fome precisam ser redesenhados em função deste novo perfil epidemiológico nutricional brasileiro. Tarefa imprescindível, mas que ainda está por vir. A questão da complexa e paradoxal problemática da fome, entretanto, permanece como uma temática recorrente no Brasil. Portanto, diante de alguns dilemas da atualidade, tais como aqueles que dizem respeito à sustentabilidade ecológica do planeta e à garantia do direito humano à alimentação, torna-se imperante reacender a luta defendida por Josué de Castro pela adoção de um modelo de desenvolvimento econômico sustentável e uma sociedade sem miséria e sem fome.



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