quinta-feira, 30 de setembro de 2010

‘FT’: rumo da economia com Dilma não é claro


Deu em O Globo

Para jornal britânico, governo manda sinais ambíguos quanto à redução do déficit público


Ainda não está clara a direção que a economia brasileira tomaria caso Dilma Rousseff (PT) seja eleita.
A afirmação é de uma reportagem publicada na edição de ontem do jornal britânico "Financial Times".
Sob o título "Lula se revela um político difícil de suceder", o texto diz que, apesar de a presidenciável petista se comprometer a continuar as políticas da administração Lula, o governo estaria enviando sinais ambíguos quanto à manutenção da atual política macroeconômica e de ações como redução gradual do déficit público.
Para o "FT", "essa ambiguidade tornaria difícil prever que rumo será dado à economia sob o governo Dilma Rousseff".
Além disso, continua o texto, Dilma não seria recebida pelo eleitorado com a mesma admiração dada a Lula. O texto exemplifica afirmando que, em um comício na semana passada, em Porto Alegre, a presidenciável petista só teria conseguido empolgar o público quando comentou o sucesso da capitalização da Petrobras: "Tivemos que vender algum pedaço da Petrobras para conseguir (o dinheiro)? Não. Demos de volta ao povo o que tinha sido vendido antes".
Para o jornal, a frase de Dilma seria um sinal de que, num governo Dilma, haveria ampliação da participação do Estado na economia.
Segundo o "FT", porém, um assessor ligado a Dilma teria dito ao jornal que ela manteria a base da política de Lula: metas de inflação, câmbio livre e redução do déficit público.

Evangélicos continuam cruzada contra Dilma

Pastores criticam também a posição do presidente Lula em relação ao aborto

A pressão de várias denominações evangélicas para enfraquecer a candidatura da presidenciável Dilma Rousseff (PT) continua forte nesta reta final - bem maior que a de grupos cristãos que a defendem. A orientação dada ontem por alguns pastores de Pernambuco é de que os fieis possam assistir, nas igrejas ou no youtube.com.br, a pregação do pastor Paschoal Piragine, de Curitiba, na qual ele orienta os protestantes a não votarem em candidatos do PT, tanto para presidente, como para o Senado e Câmara Federal. Toda mobilização tem como pano de fundo duas ações que, segundo Piragine, são encabeçadas pelos petistas em Brasília: a descriminalização do aborto e a crimininalização da homofobia. O vídeo de Pirangine mostra, por exemplo, cenas nas quais um feto fica com o coração acelerado ao ser retirado do útero da mãe.

Pastor da Igreja Mundial de Jesus Cristo, Jonas Pereira afirmou, ontem, que os evangélicos precisam se mobilizar mais do que nunca ao longo desta semana. Ele disse integrar um conselho que coordena politicamente 300 pastores que precisam orientar os cristãos. "Sei que não fechamos questão sobre o assunto, porque uma igreja evangélica não pode falar pela outra, mas nós temos que nos juntar em defesa da vida (contra o aborto). E temos que votar em parlamentares que são contrários a esse tema. Não acho que seja errado pedir votos para aquilo que acreditamos. Se o pastor tem que ser 'apolítico', o presidente da República, que tem a máquina nas mãos, também deveria ficar neutro nas eleições", afirmou.

Jonas esteve no Diario acompanhado do pastor Airton Pena Forte, da Igreja Batista Viva de Jardim Atlântico. Os dois frisaram que não há nenhum adversário da oposição por trás desse movimento, mas admitiram fazer campanha para um deputado estadual do PSL, partido que integra a aliança de Eduardo Campos (PSB). "Veja bem, por um decreto, o presidente Lula decidiu apoiar as pessoas que querem mudar de sexo. Mas as mulheres que querem reduzir a mama por questões de saúde têm a maior dificuldade de conseguir isso pelo SUS", alfinetou.

Segundo Pena Forte, que também integra essa coordenação política de 300 pastores no estado, não foi suficiente Dilma Rousseff negar, por meio de nota publicada no site do PT, que se elegeria no primeiro mesmo que Cristo não quisesse. "Não fazemos parte do grupo que está repassando e-mails com esse conteúdo. Mas os evangélicos representam cerca de 30% da população brasileira e precisam de uma resposta clara da candidata. A frase atribuída a ela foi negada no site do PT, mas só quem é petista entra nesse site. Ela deveria falar isso publicamente, porque não sabemos se é verdade ou mentira", declarou.

Protagonista da polêmica que começou desde a quinta-feira passada e foi divulgada pelo Diario com exclusividade na sexta-feira, o presidente do Conselho de Pastores de Jaboatão dos Guararapes, Pedro Rodrigues dos Santos disse que os efeitos da carreata realizada no sábado passada pró-Família e contra o PT estão sendo sentidos. "Mais de 500 igrejas falaram no assunto no domingo. O nosso manifesto (contra o PT) virou moeda rara. Ele foi proibido de circular pelo Tribunal Regional Eleitoral, mas as pessoas estão fazendo xerox e passando e-mails. E não podemos impedir isso. Não estamos mentindo. Publicamos aquilo que acreditamos", observou.

Que lição tirar?

ZUENIR VENTURA
Que lição tirar?

Se Dilma Rousseff for eleita presidente da República, como as pesquisas ainda indicam, muitas crenças sobre comportamento e tomada de decisão dos eleitores terão que ser reavaliadas. A primeira é se é possível saber o que leva alguém a escolher um candidato e de que é feita essa fidelidade — se é um processo exclusivamente emocional ou se a racionalidade tem também um peso na escolha. O que faz a nossa cabeça: imprensa, família, amigos ou um pouco de tudo? Ou, em vez disso, é o bolso, ou seja, o acesso ao consumo? Em matéria de entretenimento cultural — filmes, peças, livros, shows — parece que o boca-a-boca funciona mais do que a crítica impressa. Mas em meio às paixões de uma campanha eleitoral não é fácil entender a situação, mesmo quando se pretenda ser mais testemunha do que juiz e se persiga uma posição de equilíbrio e equidistância.

Aparentemente, a principal formadora de opinião de um país é a chamada mídia: jornais, revistas, TV, rádio, internet. Mas se é assim, como é que a candidata do PT mantém seu favoritismo, ainda que em queda, quando a maioria dos veículos está contra ela? E se não é assim, se a imprensa não tem todo esse poder de influenciar, por que Lula se revoltou tanto, desqualificando o seu papel? Quais são as razões pelas quais um líder esperto como ele, no auge da popularidade, capaz de transferir votos e eleger a sucessora, desnorteou-se na reta de chegada e iniciou uma desenfreada escalada de ataques? Por desconhecimento é que não foi. Uma das melhores explicações para a relação poder x imprensa, é dele: "Notícia é o que o governo quer esconder; o resto é propaganda."

Pode-se alegar que é da natureza de todos os governantes maldizer a mídia e tentar controlá-la quando são contrariados. Inclusive os mais liberais. Até o tolerante JK, que aboliu a censura logo após chegar à presidência ("Quero a imprensa desatada, mesmo para ser injusta comigo"), proibiu Carlos Lacerda de falar no rádio. O próprio FHC, também um democrata, saiu do governo queixando-se e insinuando que um ou outro jornal queria o seu impeachment. Lula talvez tenha sido o que mais xingou e foi xingado pelos jornais e revistas (é impressionante o ódio que desperta em algumas pessoas). O presidente cometeu a besteira de acusar a imprensa de golpista e recebeu a classificação, também injusta, de fascista, quando na verdade falou mais bobagem do que fez — até porque nessa matéria, quando pensou fazer, com o "controle social", a sociedade reagiu.

Não se sabe se alguma lição vai ser tirada dessas eleições. Especialistas em pesquisa disseram que o eleitor não gosta de tiroteio, de troca de acusações. Se isso é verdade, há o que aprender com essa campanha.
Publicado no Globo de hoje.

Análise do vírus lançado em instalações nucleares iranianas pode revelar país de origem do ataque

Especialistas encontraram uma palavra que faz referência bíblica e pode fazer parte de guerra psicológica

 
Apesar do ataque, nenhum dano grave foi causado às instalações
Apesar do ataque, nenhum dano grave foi causado às instalações

Engenheiros de Software passaram os últimos dias analisando o código por dentro do supervírus Stuxnet, que concentrou seus ataques em instalações industriais do Irã no último dia 26 de setembro. Encontraram uma palavra que pode revelar o país de origem dos ataques, segundo notícia do New York Times.
A fonte dos ataques, segundo os especialistas, pode ser Israel. Os engenheiros encontraram no código a palavra “Myrtus”, que pode ser uma alusão ao Livro de Ester.
Um pouco de história.
O livro, que faz parte do Velho Testamento da Bíblia, fala de uma mulher judia que se casa com o Rei da Pérsia, região onde hoje fica o Irã. O primeiro ministro persa não gostava de Ester, então planeja o assassinato de todos os judeus estabelecidos no Império. Um primo de Ester, Mordecai, acaba descobrindo o plano e o revela para o Rei, que manda matar o primeiro ministro e dá a permissão para que os judeus se defendam de qualquer ataque, o que eles acabam fazendo: matam 75 mil persas.
De volta à realidade.
O Stuxnet foi desenhado para atacar controladores Simatic S-7 da Siemens, usados em usinas nucleares, bases petrolíferas e usinas elétricas. Já havia sido encontrado na China, Índia e Indonésia, mas foi especialmente concentrado no Irã. Para especialistas consultados pelo jornal, o fato de o vírus conter a palavra que faz referência à Bíblia pode revelar não descuido ou uma referência vaga, mas uma ferramenta de guerra psicológica; uma maneira de dizer: “não cometam erros, estamos de olho em vocês”.
com informações do NYT

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Evangélicos centram fogo contra Dilma Rousseff


Os evangélicos endureceram o discurso contra o PT nesta reta final da campanha política. Dois dias depois de 12 pastores de Jaboatão dos Guararapes mobilizarem os fiéis e realizarem uma carreata pró-Família e contra o PT no município, vários protestantes do estado começaram a disseminar, nas igrejas e na internet, uma mensagem contra a presidenciável Dilma Rousseff (PT). Nos cultos e na rede virtual, pastores de várias denominações pedem que os fiéis não votem em Dilma com o argumento de que, numa entrevista dada a um jornalista de Minas Gerais, a candidata teria dito "nem mesmo querendo, Cristo me tira esta vitória. As pesquisas comprovam o que estou dizendo. Vou ganhar no primeiro turno".

Foto: Daniel Ferreira/CB/D.A Pr
Uma cópia do e-mail que circula na rede chegou à redação do Diario ontem por meio de um pastor da Igreja Batista Renovada da UR-7 Várzea, mas vários religiosos falaram sobre o assunto nos cultos do fim de semana, dizendo-se "perplexos'. A versão é de que Dilma teria falado esta frase- vista como uma afronta a Jesus - a um jornalista mineiro, durante a inauguração de um comitê eleitoral. O jornal Estado de Minas, que faz parte do Grupo Diários Associados, informou que a versão contra a petista não procede. A candidata não teria dito aquela frase em comitê algum de Minas.

A assessoria de comunicação da presidenciável também publicou uma nota no site dilma13.com.br negando que a petista tivesse desafiado Jesus Cristo, como interpretam os evangélicos. Segundo a assessoria, a nota foi publicada assim que o boato se espalhou na rede, embora só tenha começado a circular com força em Pernambuco no último fim de semana. "Diante desse cenário de vitória, inúmeras mentiras em relação a Dilma têm sido inventadas e espalhadas na internet. A baixaria mais recente diz respeito a um e-mail que atribui a ela uma falsa declaração. Dilma jamais disse isso. E nunca reconheceu uma vitória antecipadamente. Ao contrário, ela tem dito que pesquisa não ganha eleição, que eleição se ganha na rua", explica a campanha petista.

Segundo a nota, os adversários de Dilma estão tentando repetir "a campanha do medo" feita contra Lula em 2002. "Já vimos esse filme em outras eleições e, como bem definiu o presidente Lula naquele ano, a esperança venceu o medo. E vai ser assim novamente, com a eleição de Dilma presidente", diz o texto do site. "Não se deixe enganar", acrescenta, encerrando o assunto.

Youtube - O boato contra Dilma também está sendo veiculado em vários vídeos no Youtube e em comunidades de igrejas evangélicas no orkut. A reportagem assistiu às gravações com o maior número de visitas virtuais, mas não encontrou nenhuma declaração da petista dizendo que venceria até contra a vontade de Cristo. Os títulos dos vídeos no Youtube chamam para o assunto, porém o conteúdo não prova a citada entrevista. Quase todos mostram a posição de Dilma favorável às mulheres que desejam fazer o aborto e exibe seu compromisso de garantir o apoio do SUS a essas pessoas. Alguns dos vídeos fazem edições mal intencionadas, mostrando umtrecho de um discurso de Dilma onde ela diz que "ficou presa três anos", mas sem revelar que a prisão teria sido na época da Ditadura Militar.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O eleitorado traído

Não sei se ainda está no ar, mas outro dia ouvi uma propaganda de rádio da campanha de Dilma Rousseff que bem poderia ser o ponto de partida de um discurso, digamos, liberal.
Liberal? Posso imaginar o tamanho da surpresa de leitores e leitoras.
Expliquemos: a propaganda, no rádio, trazia o depoimento de um eleitor de Brasília que declarava voto em Dilma porque estava muito feliz com sua vida, com seu progresso nos últimos anos. Contava, então, que havia conseguido montar sua empresa - uma panificadora em Brasília - e que agora podia "pagar um plano de saúde para a filha".
Temos, portanto, um pequeno empreendedor, iniciativa privada. E um cidadão que, ganhando um pouco mais, logo tomou a providência de comprar um plano de saúde privado, para escapar do serviço público de saúde.
Poderia perfeitamente sair daí um programa liberal. Sabe-se que a alma da economia de mercado está exatamente na capacidade empreendedora das pessoas. Sabe-se também que abrir uma empresa no Brasil não é coisa simples nem barata.
Na pesquisa do Banco Mundial Fazendo Negócios, que avalia se o ambiente de negócios é hostil ou amigável ao empreendedor privado, o Brasil obtém uma classificação miserável. Vai lá para o fim da tabela e consegue ser o pior em alguns quesitos, como no caso do sistema tributário.
Não se trata nem da (elevada) carga tributária. Trata-se de quanto tempo, quanto dinheiro e quanta energia uma empresa gasta para manter em dia suas obrigações com o Fisco.
Ora, apresentando aquele depoimento, a candidata poderia derivar daí um programa de reformas institucionais de modo a facilitar a vida de quem faz negócios honestamente neste país. Entre essas reformas estariam, certamente, a da legislação trabalhista, de modo a tornar a contratação mais flexível e menos cara.
Mas os eleitores não viram nada disso na propaganda de Dilma.
Por outro lado, a satisfação do eleitor com a compra de um plano de saúde poderia ser a dica para um programa que estimulasse o setor privado de saúde, que, aliás, foi bastante cerceado no governo Lula.
Em vez disso, porém, a candidata está prometendo mais dinheiro para o Sistema Único de Saúde (SUS), setor público. E não poucas vezes seu padrinho, o presidente Lula, diz que o governo continua precisando da CPMF.
Por que, então, os marqueteiros colocaram aquele depoimento do pequeno empreendedor brasiliense? Só para ilustração, para agradar pela emoção.
E toda uma parte do eleitorado fica de fora. Por toda a sociedade se encontram pessoas querendo tomar conta de suas vidas, montar seus negócios, tocar sua profissão livremente, escolher e pagar seus planos de saúde, colocar os filhos numa escola particular boa, investir em ações, comprar planos de previdência privada. Essas pessoas não estão representadas no quadro político.
Também não aparecem como personagens na campanha do principal opositor, José Serra. Às vezes surge alguma coisa na fala de Marina Silva.
Serra, por exemplo, faz apostas amplas em programas que exigem pesado aumento do gasto público, a começar pela promessa de aumentar para R$ 600 o salário mínimo (e as pensões) e conceder 10% para as aposentadorias acima do mínimo.
Sabem qual o impacto disso no orçamento da Previdência no ano que vem? Nada menos do que R$ 47 bilhões. Isso equivale a cerca de 1,5% do Produto Interno Bruto e praticamente dobra o déficit da Previdência previsto para este ano.
Nem uma palavra sobre como administrar esse déficit.
E entretanto, todo mundo, pensando seriamente por um minuto que seja, sabe que os brasileiros pagam impostos absurdos e que a Previdência, incluindo aqui o INSS e a pública, precisa de uma reforma.
Alguém ouviu alguma ideia dos candidatos mais fortes sobre esses temas? Eles falam em aumento do gasto público, mas ninguém diz, por exemplo, que vai aumentar impostos para financiar essas despesas. Porque, sem aumento de impostos, os programas prometidos simplesmente não fecham a conta. Ah, sim, falam em reforma tributária, mas sem dizer se é para reduzir ou aumentar impostos.
A campanha de Marina é a que avança mais corretamente nesses temas. Sua proposta de fixar uma meta de redução da dívida pública ataca o coração do problema econômico brasileiro de hoje. A redução da dívida abriria espaço para uma redução dos juros, com os enormes efeitos positivos disso. Pena que esse tema aparece, assim, en passant.
No geral, aceita-se por aqui que campanha é uma coisa e governo é outra. De certo modo, é um pouco assim no mundo todo. (Campanha é poesia, governo é prosa, li em algum lugar.) Mas é só um pouco assim.
Nos Estados Unidos, por exemplo, Obama disse, debaixo de uma saraivada de críticas, que ia aumentar o imposto das famílias que ganham mais de US$ 250 mil ao ano - e é justamente o que está fazendo.
Já na França, o presidente Sarkozy não disse que ia aumentar a idade mínima de aposentadoria. Quando precisou fazer isso, o eleitorado reagiu, com razão.
Aqui, o presidente Lula, na sua primeira eleição, não disse que ia fazer reforma previdenciária, mas fez. Por necessidade do momento, apresentou e aprovou um projeto de reforma da aposentadoria dos servidores públicos. Mas, para entrar em vigor, a mudança dependia de legislação complementar. Antes que esta fosse votada a situação econômica melhorou, a receita do governo aumentou e o presidente Lula simplesmente mandou arquivar o tema.
Mas para o Brasil organizar as finanças públicas e crescer de modo mais vigoroso as reformas continuam sendo necessárias. E serão cruciais se o ambiente econômico piorar um pouco que seja.
E aí o eleitorado será traído. De certo modo, sempre é.
JORNALISTA SITE: WWW.SARDENBERG.COM.BR E-MAIL: SARDENBERG@CBN.COM.BR / CARLOS.SARDENBERG@TVGLOBO.COM.BR

Nordeste sustenta a chance de Dilma se eleger domingo

Arko Advice

A análise da divisão regional do voto nas eleições presidenciais aponta que a possibilidade de Dilma Rousseff (PT) se eleger no primeiro turno se sustenta por conta da vantagem que a candidata do presidente Lula desfruta no Nordeste. No Sudeste e Sul, a soma das intenções de voto de José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) são iguais ou superiores a de Dilma. E no Centro-Oeste, a candidata do presidente Lula tem uma vantagem de 2%, índice dentro da margem de erro admitida pelos institutos.
No Sudeste, comparando as médias das últimas duas pesquisas realizadas pelo Datafolha e Ibope, Dilma caiu de 47% para 44,5%, Serra subiu de 26,5% para 30% e Marina cresceu 5,5 pontos percentuais (9% para 14,5%). Hoje, a soma dos índices de Serra e Marina é igual a 44,5%, mesmo índice de Dilma.
Na Sul, Dilma oscilou positivamente um ponto percentual (42% para 43,5%) e Serra de 34,5% para 35%. Marina também oscilou positivamente (9,5% para 11,5%). Hoje, a soma dos percentuais de Serra é Marina é igual a 46,5% (Dilma tem 44,5%).
O Nordeste é a região onde os percentuais de Dilma Rousseff indicam vitória no primeiro turno. Levando-se em conta as médias das pesquisas Datafolha e Ibope, Dilma oscilou negativamente de 65,5% para 63,5%. Serra cresceu três pontos (17% para 20%) e Marina passou de 7% para 8,5%. Hoje, a soma dos percentuais de Serra e Marina totaliza 28,5% contra 63,5% de Dilma.
o Norte/Centro-Oeste, a candidata do presidente Lula oscilou negativamente de 47,5% para 47% e Serra de 29% para 30,5%. Já Marina passou de 13% para 14,5%. Hoje, a soma de Serra e Marina é igual a 45% contra 47% de Dilma.

Eleições - Dilma: "Salário minímo terá mais avanços nos próximos anos " | O Jornal de São Sebastião, Ilhabela, Caragua

Eleições - Dilma: "Salário minímo terá mais avanços nos próximos anos " O Jornal de São Sebastião, Ilhabela, Caragua

domingo, 26 de setembro de 2010

Discursos de Lula e Sarney sobre a Ferrovia Norte-Sul

Na Norte-Sul, Lula faz homenagem a Sarney, o idealizador da ferrovia

Em Tocantins, Lula credita a Sarney a paternidade da Ferrovia Norte-Sul

Ao inaugurar hoje, em Tocantins, trecho de 251 km da Ferrovia Norte-Sul o presidente Lula homenageou o presidente do Senado, José Sarney, a quem chamou de "companheiro e amigo" e, por duas vezes, fez mea-culpa. "Quando o Sarney (então presidente da República) anunciou a Norte-Sul, incrédulos como somos, ao invés de procurar conversar para saber como era, fizemos coro contra. Eu nem conhecia o projeto e já era contra", enfatizou Lula em Porto Nacional (TO), repetindo o dito, pouco antes, em Palmas (TO). "Essa obra foi lançada pelo presidente Sarney em 1987. Eu era deputado constituinte e, durante muito tempo, fiz críticas dizendo que ia ligar o nada ao nada".

Emocionado e, como Lula, também de improviso, Sarney falou de seus 60 anos de vida política, relembrou o longo período de isolamento da região, hoje cortada pela Norte-Sul. "Na solidão onde não passava nada, hoje passam os trilhos", poetou para reforçar:"Assisti a história como protagonista e como expectador, mas nunca vi um presidente como Lula da Silva. Agradeço a sorte de terminar os anos que me restam na política ao lado de Lula, que transforma o Brasil".

Agradecimentos a Lula e Sarney marcaram os discursos da prefeita de Porto Nacional, Tereza Martins, do presidente da Valec, José Francisco das Neves, do vice-governador de Tocantins, Eduardo Machado, do Ministro dos Transportes, Mauro Barbosa, e do governador de Goiás, Alcides Rodrigues.
A pedido de Lula, durante alguns minutos, os maquinistas soaram os apitos das locomotivas para marcar a inauguração. "Nem precisa de discurso, porque o apito é o progresso que está passando", disse o presidente da República. E, em tom de prestação de contas, emendou números dos feitos nesses sete anos de governo. Lembrou, por exemplo, que Sarney deixou prontas 115 km da Norte Sul. Em 13 anos, Collor, Itamar e Fernando Henrique Cardoso fizeram "apenas outros 100 km". Enquanto ao final de seu governo serão mais de 6.000 km de ferrovias construídos.

Sarney encerrou seu discurso agradecendo a Lula, "de coração, a gentileza que sempre tem comigo", para reforçar: "O que demonstra que, além de energia e competência, Lula tem também bondade".

Norte-Sul do governo Sarney

Proposta e iniciada na presidência de José Sarney – as obras começaram em 1987 – a Ferrovia Norte-Sul foi duramente criticada pela oposição à época, o que acabou por emperrar o seu andamento. Mas foi exatamente Lula, um dos maiores críticos do projeto, quem o retomou quando assumiu a presidência em 2003. O presidente não apenas acelerou a construção -- que vinha a ritmo de praticamente 10 km/ano – como também duplicou sua extensão. O traçado inicial previa a construção de 1 mil 550 quilômetros de trilhos, cortando os estados do Maranhão, Tocantins e Goiás. Em maio de 2008, medida provisória do Executivo ampliou o traçado para 3.500 km, incorporando os trechos Açailândia(MA) a Belém(PA) e Anápolis(GO) a Panorama(SP).

Quando lançou o projeto, o presidente Sarney pretendia maior integração nacional. O objetivo era diminuir custos, interligando as regiões Norte e Nordeste às Sul e Sudeste, chegando a 5 mil quilômetros com conexões de ferrovias privadas. Era o fortalecimento da infra-estrutura de transporte, necessária ao escoamento da produção agropecuária e agro-industrial. Assim se permitiria também a redução de desequilíbrios econômicos regionais, com melhoria da qualidade de vida da população. Hoje, nas palavras do presidente Lula, o objetivo das ferrovias é fazer com que elas funcionem como uma "espinha de peixe", interligando todos os estados brasileiros. "A gente vai fazer como se fosse uma espinha de peixe, uma grande ferrovia atravessando todo o território nacional (...) Tudo isso significa mais ou menos quase 6 mil km de ferrovia que pretendemos até 2012, 2013 estar terminando no Brasil ", disse, na inauguração do novo trecho em Tocantins.

A integração ferroviária das regiões brasileiras possibilitará também a ocupação econômica e social do cerrado brasileiro – com uma área de aproximadamente 1,8 milhão de km2. Trata-se de 21,84% da área territorial do país, onde vivem 15,51% da população brasileira. Inúmeros benefícios sociais estão surgindo com a Ferrovia Norte-Sul. A articulação de diferentes ramos de negócios proporcionada por sua implantação está contribuindo para o aumento da renda interna e para o aproveitamento e melhor distribuição da riqueza nacional, a geração de divisas e abertura de novas frentes de trabalho.

De Sarney a Lula

- De 1987, quando se iniciaram as obras de construção da Ferrovia Norte-Sul, a 1989, no governo Sarney, foram construídos 115 km, ligando as cidades de Açailândia e Imperatriz, no Maranhão.

- Nos governos Collor, Itamar e Fernando Henrique, foram construídos 100 km.

- No governo do presidente Lula, a ferrovia passou a contar com grandes avanços e ritmo bem mais acelerado das obras. Ao todo, já foram construídos 504 km, de Aguiarnópolis a Palmas (TO). Outros 855 km, entre Palmas e Anápolis (GO) estão em obras, com conclusão prevista para o final de 2010.

Trilhos prontos

A obra inaugurada hoje no estado de Tocantins compreende o trecho de 256 quilômetros, que liga o Pátio Multimodal de Colinas do Tocantins, ao Pátio Multimodal de Palmas/Porto Nacional, localizado a 20 quilômetros da capital. Iniciado em março de 2007, o trecho Colinas-Palmas recebeu investimentos de R$ 821 milhões. Já para o trecho Aguiarnópolis (divisa entre os Estados do Maranhão e Tocantins) até Palmas, o investimento foi de R$ 1,63 bilhão, totalizando 504 Km construídos no governo Lula.

O trecho de 139 km que vai do Ribeirão Tabocão, até o pátio multimodal de Palmas/Porto Nacional, foi concluído no final de agosto, devendo agora passar pelos ajustes necessários para o início da operação comercial. A Vale do Rio Doce detém a subconcessão para explorar toda a extensão já concluída da ferrovia (719 km), que vai de Açailândia (MA) a Palmas (TO). Até o final do ano, a empresa construtora da obra, a Valec Engenharia, pretende entregar ao país o percurso do projeto original da Norte-Sul. Serão 1.574 Km – entre Açailândia (MA) e Anápolis(GO) - com a finalização de mais um trecho ainda em obras (entre Palmas e Anápolis).

O presidente da Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha, informou que diferentemente de outras ocasiões, os canteiros de obras da Ferrovia Norte-Sul serão reaproveitados pelas cidades em que estão instalados. "Nós vamos doar esses canteiros para que as prefeituras façam cursos de capacitação de jovens para trabalharem na ferrovia e nos pátios". Ressaltou que com a chegada do pátio multimodal de Palmas, a capital conseguirá atingir sua autonomia e desatrelar sua economia da burocracia do Estado. "Palmas era uma cidade administrativa e agora está conseguindo sua autonomia através da plataforma multimodal". Destacou, entre os investimentos, os mais de R$ 1,5 bilhão da empresa alimentícia Bunge na região de Guaraí, além de R$ 90 milhões da Petrobras e R$ 60 milhões da Cosam. Os pátios multimodais começam a ser ocupados por vários empreendimentos, interessados nas facilidades e economia do transporte ferroviário. Mais de uma dezena de grandes empresas se preparam para implantar suas estruturas de armazenagem, carga e descarga de produtos como etanol, fertilizantes, minérios e grãos.

Secretaria de Imprensa da Presidência do Senado

Madri coloca rede Wi-Fi em 60% dos ônibus da cidade.

24 de setembro de 2010 – 15:00 9 Comentários
 
 
Imagine só: você tem um e-mail importante para responder, mas seu smartphone está com a bateria no fim, ou seja, nada de conexão 3G no momento, o que você faz? Os moradores de Madri, capital da Espanha, já tem uma solução bem simples, o governo local colocou rede sem fios em 60% da sua frota de ônibus municipal.
A magnífica idéia surgiu quando a cidade instalou câmeras nos ônibus, mas eles queriam a possibilidade de enxergar o que ocorre no veículo em tempo real, onde as imagens são transmitidas para uma central de controle. Já que os ônibus tem esta conexão, por que não liberar uma rede interna para os usuários? o melhor de tudo é que esta rede é gratuita!
O serviço tem suas limitações, já que a velocidade é restrita a 256kbps e sites com conteúdo adulto ou de jogo online não podem ser acessados. O que pode não ser uma coisa ruim, pois a possibilidade de navegar na internet de graça nos ônibus me parece muito mais atrativa do que utilizar a rede para acelerar seus torrents. Agora imagine só esta funcionalidade no Brasil!


Via: El País.

ONGs pró-Ficha Limpa cobram decisão do STF

O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, rede de 46 ONGs que apresentou a Lei da Ficha Limpa, considera que a nova legislação - debatida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em votação empatada sem proclamação de resultado - é constitucional e está em vigência.
A interpretação das entidades, entre as quais a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), é de que como a lei não foi rejeitada por maioria absoluta, conforme prevê o artigo 97 da Constituição, prevalece o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que aprovou a Lei da Ficha Limpa e do próprio STF, que determina em seu regimento interno e na súmula vinculante 10 que em caso de empate a tese da manutenção da lei contestada será considerada vencedora.
Nem mesmo a renúncia do candidato do PSC ao governo do Distrito Federal, Joaquim Roriz, responsável pelo recurso contra a lei no STF, é vista pelo movimento como obstáculo à vigência da lei. 'Para nós, observando a legislação, a lei é constitucional', afirmou o juiz eleitoral Márlon Reis, um dos líderes do movimento. Na interpretação de juristas, a renúncia de Roriz extinguiu a ação no STF. Para Daniel Seidel, secretário executivo da Comissão Brasileira de Justiça de Paz, não houve prejuízo à decisão com a renúncia do candidato. 'A renúncia indica que ele assume ser realmente ficha-suja'.
A interpretação do movimento é de que houve o julgamento, havia quorum suficiente e o empate beneficia a visão em defesa da lei na tese em disputa, segundo a qual a Ficha Limpa é plenamente constitucional. 'O julgamento já acabou, falta apenas proclamar o resultado', defendeu Reis.
As entidades prometem manter a pressão sobre o STF, para que os ministros decidam de fato sobre a questão. 'Pega muito mal para a corte suprema deixar algo tão importante sem definição', comentou Reis.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Impasse no STF permite candidatura de ficha suja

Por FELIPE RECONDO E MARIÂNGELA GALLUCCI, estadao.com.br, Atualizado: 24/9/2010 8:06


Os candidatos atingidos pela Lei da Ficha Limpa podem concorrer nas eleições deste ano, mas continuam sem saber se poderão assumir os cargos caso sejam eleitos. Um empate no julgamento de ontem no Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a situação indefinida. Depois de uma sessão que durou dois dias e terminou apenas nesta sexta-feira, por volta da 1h20, por 5 votos a 5, os ministros acabaram por não decidir se a nova lei vale para as eleições deste ano ou se só deveriam barrar os fichas sujas a partir das eleições de 2012. O julgamento está suspenso até que se chegue a uma solução. Uma saída poderá ser esperar o novo ministro, que será indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para substituir o ministro Eros Grau após as eleições.
Em razão do empate, os ministros passaram a debater o que fariam diante do placar. E passaram, em clima acalorado, a discutir como declarariam o resultado do julgamento. Parte dos ministros quis dar um segundo voto para o ministro Peluso, o que atingiria a Lei da Ficha Limpa. Outra parcela defendeu que, por falta de votos, prevaleceria a decisão do Tribunal Superior Eleitoral, que aplicou já para estas eleições as novas regras de inelegibilidade.
Os ministros decidiram abrir uma nova votação, depois de sucessivas discussões que prometiam um clima ainda mais tenso. 'Não houve decisão. Há empate', proclamou Peluso. 'A lei da ficha limpa vai ser aplicada?', questionou Britto. 'Não sei, porque deu empate ', acrescentou. Na discussão, sobraram críticas para o presidente Lula, que ainda não indicou o substituto do ministro Eros Grau, que se aposentou em agosto. 'Nós estamos num impasse e a sociedade sabe que o tribunal não é responsável por esse impasse', afirmou Peluso, referindo-se ao Congresso.
Temor
O receio dos defensores da lei era de que o presidente do STF, Cezar Peluso, se valesse do regimento e quisesse dar novo voto para desempatar o julgamento. Mas ele logo tratou de negar a possibilidade. 'Eu não tenho nenhuma vocação para déspota e não acho que meu voto vale mais que o voto dos outros ministros', afirmou.
Seis ministros, porém, consideraram constitucionais os trechos da lei que acabaram por barrar a candidatura de Joaquim Roriz (PSC) ao governo do Distrito Federal. Roriz teve a candidatura barrada por ter renunciado ao mandato de senador em 2007 para fugir do processo de cassação, o que passou a ser considerado causa de inelegibilidade pela nova legislação. Os ministros decidiram também que não viola a Constituição a aplicação da nova regra para fatos que aconteceram antes da aprovação da Lei da Ficha Limpa.
O ministro Dias Toffoli foi o diferencial no julgamento e responsável por esse resultado dúbio. Crítico contumaz da Lei da Ficha Limpa, ele amenizou o discurso no julgamento. Votou apenas no sentido de jogar para o futuro a aplicação da lei. Argumentou que isso garante que eventuais mudanças nas regras eleitorais patrocinadas pelas maiorias não sirvam para excluir adversários das eleições, como ocorria com frequência na ditadura militar. Nesse sentido, votaram também os ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Cezar Peluso.
Gilmar Mendes foi o mais árduo defensor de adiar a aplicação da lei para as próximas eleições e chegou a levantar o tom de voz. 'Essa regra é cláusula pétrea. O fato de ter-se que esperar um ano é uma segurança para todos. Faz parte de um processo civilizatório, precisa ser respeitado', afirmou 'A história mostra em geral que os totalitarismos consolidam nesse tipo de fundamento ético. Hitler e Mussolini também se basearam em alguns princípios éticos', acrescentou. 'A ditadura da maioria não é menos perigosa para a paz social do que a da minoria', concluiu.
O ministro Marco Aurélio Mello acrescentou: 'Vivemos momentos muito estranhos. Momentos em que há abandono a princípios, a perda de parâmetros, a inversão de valores, o dito passa pelo não dito e o certo pelo errado e vice-versa. Nessas quadras é que devemos ter um apego maior pelas franquias constitucionais. E uma dessas franquias nos direciona à irretroatividade da lei.'
'Qualquer que seja o marco temporal - início das convenções ou o dia da realização das eleições - o fato é que esses dois momentos situam-se a menos de um ano da data em que publicada a lei complementar 135', disse o ministro Celso de Mello, que é o decano do STF.
Os outros ministros, Carlos Ayres Britto, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Ellen Gracie, votaram pela aplicação imediata da lei, ao julgar que a mudança não alterou o processo eleitoral, como visa proteger a Constituição. Eles argumentaram que a lei foi aprovada antes das convenções partidárias. As legendas sabiam, portanto, quais eram as regras de inelegibilidade. E deram legenda para os fichas sujas porque quiseram.
'Não há direito adquirido à elegibilidade: o direito é definido e aferido a cada eleição, assim como não há direito garantido à reeleição', disse o ministro Ricardo Lewandowski, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os votos de quase todos os ministros do STF já eram esperados. A única dúvida existia quanto ao posicionamento da ministra Ellen Gracie. No plenário, ela aderiu à tese de que a Lei da Ficha Limpa deve ser aplicada imediatamente. 'O que pretende o recorrente é promover a completa blindagem do ato de renúncia', disse.
O voto que provocou o empate coube ao presidente da Corte, Cezar Peluso. Ele foi contundente. Disse que não julgava de acordo com as pressões da opinião pública e da opinião publicável. 'Um tribunal que atenda a pretensões legítimas da população ao arrepio da Constituição é um tribunal no qual nem o povo pode confiar', afirmou.
Voto misto
Mas a restrição que Toffoli fez à lei foi apenas aquela - de que valeria para as próximas eleições. Contrariamente à primeira crítica, o ministro rejeitou os argumentos dos advogados de Joaquim Roriz de que as novas regras retroagiam para prejudicá-lo e de que estaria violado o princípio da presunção de inocência ao ser considerado inelegível sem condenação pela Justiça. E nesse sentido votaram também Carlos Ayres Britto, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa e Ellen Gracie. Assim, a maioria do tribunal decidiu que a lei não é inconstitucional.
Outros pontos da Lei da Ficha Limpa ainda podem ter a constitucionalidade questionada no Supremo em novos recursos que forem levados ao STF. Os ministros somente concentraram o julgamento no trecho da lei que era contestado por Roriz. O tribunal fatalmente terá de discutir no futuro, por exemplo, se viola a Constituição a previsão de que ficam inelegíveis aqueles que 'forem excluídos do exercício da profissão, por decisão sancionatória do órgão profissional competente', como a Ordem dos Advogados do Brasil ou o Conselho Federal de Medicina.
Os ministros também terão de discutir se é constitucional impedir a candidatura de políticos condenados por órgãos colegiados mesmo que ainda possam recorrer. Na sessão, os ministros chegaram a tratar indiretamente do assunto, ao dizer que a inelegibilidade nada tinha a ver com o princípio da presunção da inocência. Contudo, esse ponto não foi diretamente julgado.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

TCU vai investigar contrato da TV de Lula

 

O Tribunal de Contas da União (TCU) vai investigar o contrato de R$ 6,2 milhões que a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) fechou com a Tecnet Comércio e Serviços Ltda., que emprega Cláudio Martins, filho do ministro da Comunicação Social e presidente do Conselho de Administração da estatal, Franklin Martins.
A empresa foi contratada para cuidar do sistema de arquivos digitais da EBC, um dos grandes projetos do governo. Ontem, o procurador Marinus Marsico, que representa o Ministério Público no TCU, anunciou que pretende pedir os documentos sobre a concorrência e investigar mais uma suspeita de tráfico de influência em meio ao escândalo que derrubou Erenice Guerra da Casa Civil. 'Estou estarrecido com tantos parentes ligados aos órgãos públicos', afirmou Marinus, que já apura os episódios envolvendo Erenice. 'No caso da EBC, há conflito de interesse.'
O Estado revelou ontem que o filho de Franklin trabalha na Tecnet há pelo menos dois anos como representante comercial. De acordo com o comando da Tecnet, ele é o responsável pelos negócios de software e tecnologia da empresa no exterior e com as afiliadas do grupo. 'Cuida prioritariamente do início da expansão internacional da empresa', disse a empresa, em nota.
A EBC é a única emissora de TV brasileira cliente da Tecnet na área digital. A empresa é o braço operacional do grupo que dirige a RedeTV!. O procurador pretende investigar os motivos que levaram a EBC a acelerar a licitação e os indícios de irregularidades na concorrência. O empresário Fábio Tsuzuki admitiu ao Estado que ajudou a EBC a elaborar o edital da licitação.
Tsuzuki é dono da Media Portal, única adversária da Tecnet na concorrência. 'Isso mostra uma relação promíscua no órgão público e é absolutamente irregular', disse Marsico. 'Só preciso decidir qual o melhor caminho: solicitar os documentos ou já entrar com uma representação pedindo abertura de processo.'
O Estado teve acesso a e-mails da ECB mencionando que Franklin deu 'prioridade zero' ao contrato e a outro da área. Em outras mensagens, os funcionários lembram que é preciso dar 'celeridade' a essas licitações, apesar de pareceres que mostravam a falta de recursos orçamentários para o projeto.
Num e-mail a cinco funcionários em novembro, o gerente da comissão de licitação, Francisco Lima Filho, pede agilidade. 'Tendo em vista o compromisso firmado entre Collar e o ministro Franklin Martins sobre o assunto, Wellington conduz as pesquisas e Cristina toca os editais' disse. Collar é Ricardo Almeida Collar, ordenador de despesas da EBC.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

''O caminho está na autoridade metropolitana''

Por Rodrigo Brancatelli, estadao.com.br, Atualizado: 20/9/2010 1:07

 

Há 15 anos capitaneando os projetos de desenvolvimento urbano da Organização das Nações Unidas (ONU), o arquiteto brasileiro Jonas Rabinovitch nunca entendeu direito o interesse das pessoas por prédios neoclássicos, pontes estaiadas, obras faraônicas. Para ele, a arquitetura não deveria ser só bonita, vistosa, mas sim eficaz, um conjunto de linhas e curvas que simplesmente tente trazer um pouco mais de qualidade de vida ao dia a dia dos moradores.
Rabinovitch já trabalhou em projetos de urbanização de favelas de Bangladesh, visitou favelas no Quênia e áreas devastadas em Mianmar, esteve nas Maldivas logo após o tsunami que arrasou a região, viajou para o Timor Leste quando ainda se sentia o cheiro de cinzas no ar e participou da revitalização de Cabul depois da guerra. Também esteve à frente de projetos em grandes cidades de Japão, Israel, Estados Unidos e Europa. Como ponto comum, viu que as metrópoles dividem de uma forma ou outra os mesmos problemas, entraves, desafios e os mesmíssimos questionamentos.
'Em minha experiência, desemprego, saneamento e transporte continuam sendo os três maiores problemas comuns em todas as metrópoles que visitei', diz. 'Em Bangcoc, por exemplo, o trânsito tem os mesmos gargalos que São Paulo, as ruas também não têm capacidade para todo esse boom imobiliário, não há vinculação entre o uso do solo e o sistema viário. Apesar das diferenças sociais, culturais e políticas, os problemas urbanos continuam parecidos em todo o mundo. De seu escritório em Nova York, Rabinovitch conversou com o Estado e apontou que a adoção de autoridades metropolitanas é imprescindível para casar desenvolvimento de megalópoles com melhora na qualidade de vida dos moradores.
Por que o urbanismo das cidades brasileiras é tão pouco discutido pelos governantes?
Bem, isso é um erro. O crescimento das cidades brasileiras foi tão inesperado que acabou desafiando os próprios parâmetros de planejamento que tínhamos. Belo Horizonte, por exemplo, foi uma cidade planejada, mas em 1901, antes da massificação do carro. O planejamento acabou obsoleto. Brasília foi planejada para 500 mil habitantes, mas isso quando se pensava Brasília como capital administrativa do País, sem se pensar no crescimento das periferias. O desafio básico é entender que há questões que pedem que se enxergue a cidade como um bem comum. Juridicamente, por exemplo, o prefeito cuida do seu município, mas os problemas ultrapassam os limites territoriais. Discutir certos problemas que afetam a cidade puramente por uma perspectiva político-partidária seria uma abordagem muito anacrônica. Até hoje, os orçamentos são distribuídos por uma perspectiva político-partidária. Isso é um erro histórico.
Na Região Metropolitana de São Paulo, os 39 municípios não têm políticas públicas conjuntas para áreas como transporte e coleta de lixo. Isso se repete em outras regiões metropolitanas do País, como Rio e Brasília. A figura da autoridade metropolitana seria a resposta ideal para esses problemas que ultrapassam os limites das cidades?
Sim, essa ideia já é madura em outros países. Tóquio, por exemplo, que tem a maior região metropolitana do mundo, tem um superprefeito, uma autoridade com competência para administrar toda a área metropolitana. Londres também tem uma instituição, com orçamento próprio, que cuida das 32 microrregiões que compõem sua área metropolitana. Em Londres, a figura do prefeito é quase simbólica - quem realmente decide questões administrativas é a autoridade metropolitana. Esse é o caminho para discutir problemas de metrópoles, como transporte público, lixo, esgoto, tudo o que extrapola os limites das cidades. Mas no Brasil é difícil discutir problemas urbanos porque o presidente é de um partido, o governador é de outro, o prefeito é de outro e aí o interesse político fala mais alto. Os desafios que um município tem não podem ser enfrentados apenas com o arrecadamento local, todos os níveis precisam estar dispostos a colaborar.
Qual o caminho para o político brasileiro pensar em uma gestão metropolitana?
No Brasil já se tentou implementar regiões metropolitanas, mas é difícil fazer o prefeito entender isso. Houve no Rio e em Curitiba a experiência das regiões metropolitanas, com uma instituição tentando coordenar as ações - o transporte, por exemplo. Mas, como essas regiões não tinham um orçamento próprio, a autoridade metropolitana ficava em um limbo, espremido entre o governo estadual e a prefeitura, tendo de negociar apoio de um e de outros. É impossível gerenciar administração pública sem um orçamento. Talvez seja preciso rever a Constituição. As regiões metropolitanas ainda não vingaram, não existe a figura do administrador metropolitano. Continuamos com o governador e o prefeito sendo as principais figuras para gerir as cidades, e às vezes a mentalidade política faz com que não haja uma cooperação entre eles. Se o sistema institucional continua igual, se os orçamentos continuam separados, a tendência é continuar como está. O prefeito vê seu orçamento, vê seu eleitorado, e não pensa em buscar essa coordenação.
As obras estruturais para a Copa 2014 e a Olimpíada 2016 são apontadas por especialistas como uma oportunidade de repensar as metrópoles brasileiras. Como fazer para que fique um legado para as cidades?
É importante ter uma visão estratégica para que os benefícios não se limitem apenas aos eventos. Relembrando outras sedes de Copa do Mundo ou olimpíada, há cidades que foram bem sucedidas e outras que só tiveram prejuízo. Barcelona é um bom exemplo, fez diversos investimentos sustentáveis, os alojamentos criados para os atletas foram depois vendidos como unidades habitacionais, a malha urbana foi integrada de forma inteligente. É importante acima de tudo ter planejamento e transparência no processo para que os benefícios sejam permanentes e criem de fato um legado. Além disso, é preciso coordenação entre as várias instituições envolvidas. Não se pode pensar só em obras visíveis, a questão do transporte é importante, a infraestrutura de lazer é importante, até mesmo a questão do saneamento, que é invisível, fica abaixo do chão, é importante. Com planejamento e com transparência para evitar a corrupção, as cidades poderão melhorar sua infraestrutura com os dois eventos.

domingo, 19 de setembro de 2010

Por Márcia De Chiara, estadao.com.br, Atualizado: 19/9/2010 0:15

Preços agrícolas disparam e renda do produtor pode crescer R$ 5,6 bilhões

Preços agrícolas disparam e renda do produtor pode crescer R$ 5,6 bilhões

"De olho no céu. Com a terra já arada, Paulo Nunes espera a chuva para continuar o plantio: 'Estamos irrigando faz 40 dias e o nível do reservatório preocupa'"


A disparada dos preços do algodão, da soja e do milho, que começou no segundo semestre, mudou as perspectivas de plantio e renda dos agricultores. Entre algodão, soja, milho, arroz, feijão e trigo, a safra 2010/2011 pode chegar a 152 milhões de toneladas, com uma receita de R$ 83,9 bilhões, apontam os cálculos da RC Consultores. As projeções consideram as novas intenções de plantio e a elevação dos preços das commodities no mercado internacional.
''A renda da agricultura de grãos em 2011deve praticamente voltar para o nível de 2009'', observa o Fabio Silveira, diretor da consultoria. De 2009 para 2010, a receita encolheu R$ 5,7 bilhões em razão da crise e agora pode crescer R$ 5,6 bilhões.
A subida dos preços agrícolas, desencadeada por quebras de safra no Hemisfério Norte, beneficia os produtores que se preparam para semear a nova safra. Mas também traz incerteza para a inflação, especialmente se a estiagem atual se prolongar.
O preço do algodão é recorde no mercado internacional e subiu quase 30% em reais desde julho. No metade deste mês, a cotação da arroba chegou a R$ 70,15, ante R$ 53,95 em julho e R$ 38,22 em setembro de 2009. As cotações do milho e da soja também aumentaram. Desde junho, a saca de milho subiu quase 30% em reais e a cotação da soja teve alta de 15% em igual período.
A quebra na safra de algodão do Paquistão, da China e do Brasil e os baixos rendimentos das lavouras dos Estados Unidos, além do consumo aquecido e dos estoques baixos, explicam a elevação dos preços, diz o analista da Agra FNP, Aedson Grelha.
No caso do milho e da soja, a arrancada das cotações começou com a quebra da safra de trigo da Rússia, que suspendeu as exportações do grão. Como os países da Europa destinam boa parte do produto para ração animal, aumentaram a demanda e os preços da soja e do milho, grãos também usados para esse fim.
Área plantada
O movimento de alta dessas commodities fez os agricultores brasileiros reverem as intenções de plantio. Em Mato Grosso, por exemplo, a expectativa era de redução da área plantada. ''Mas, com reação dos preços , os produtores voltaram atrás e vão repetir os 6,2 milhões de hectares da última safra'', conta o presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Glauber Silveira.
Segundo Grelha, a área plantada com soja deve ter expansão de 2%. A tendência é de redução de 7% da área de milho, apesar da alta dos preços. O analista diz que dois fatores explicam o movimento. A soja tem mais liquidez que o milho, isto é, vira dinheiro mais rapidamente. Além disso, com o risco de estiagem prolongada, resiste mais à seca.
No caso do algodão, o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha, calcula que a área plantada cresça 25% e atinja 1,040 milhão de hectares. ''Os preços devem continuar firmes no mercado'', calcula. Diante dos baixos estoques mundiais, as companhias exportadoras e as fiações já compraram metade da safra que ainda não foi plantada, conta Cunha.
''O agricultor está animado com a próxima safra. Na anterior, a produção de soja foi boa, mas os preços não'', lembra o superintendente da Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, José Cícero Aderaldo.
Segundo ele, com a subida dos preços, a rentabilidade do produtor nesta safra pode ser maior. ''Mas tudo está para ser escrito'', pondera, fazendo referência ao principal obstáculo de hoje à produção: o clima irregular.
A falta de chuvas já tem reflexos nas vendas de adubos e defensivos. ''As entregas estão mais devagar por causa da estiagem'', conta o diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos, David Roquetti Filho.
No primeiro semestre, as vendas de defensivos caíram 20% em valor. Na análise do diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal, Eduardo Daher, além do avanço dos genéricos, essa retração ocorre por causa do clima. ''Com essa secura, os produtores adiaram as compras de defensivos, e esse atraso vai resultar num problema logístico'', diz Daher.

sábado, 18 de setembro de 2010

Conheça a verdadeira história de Brasília (clique nos link abaixo)

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tzar bomba, a maior bomba nuclear já testada. (clique o link abaixo)

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Site ajuda a esquecer música que não sai da cabeça

Unhear It toca uma música grudenta atrás da outra para ajudar a eliminar música chata da memória.
Sabe aquela música que você está louco para esquecer mas ela não sai da sua cabeça de jeito nenhum. O Unhear It vai te ajudar a esquecer dela.
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Geografia da Fome – de Josué de Castro

AUTARQUIA EDUCACIONAL DE SERRA TALHADA – AESET
FACULDADE DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE SERRA TALHADA – FAFOPST
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA





GEOGRAFIA DA FOME




EQUIPE: Vandeilson Nascimento dos Santos
Nelcineide Rodrigues dos Santos
Luara Keite de Lima
Janice Emília do Nascimento Santos
Mª Lucidalva P. de Carvalho Souza





SERRA TALHADA
2010


Geografia da Fome – de Josué de Castro
           
No primeiro prefácio, nota-se que a ideia principal da obra de Josué de Castro é que o termo “fome” evoca simplesmente a insuficiência de nutrientes na alimentação das populações das diferentes regiões brasileiras, provocando a subnutrição e a “morte pela fome”. Onde se passa a saber de uma coisa: que não é apenas quando nossa alimentação é insuficiente que estamos ameaçados. Também o estaremos se ela for mal constituída. Neste ultimo caso, surgi uma serie de casos de subnutrição.
Josué de Castro já demonstrava, exaustivamente, a influência dos fatores socioeconômicos sobre os próprios fatores biológicos de nossa população. Segundo Josué de Castro, questões não só como do sexo, mas a da própria fome, eram pouco ou mesmo não abordadas, isto é, eram tabus, realidades que a humanidade (principalmente a parte que compreende as civilizações ocidentais) preferia “esconder”. E essa omissão provinha das elites que dominavam os países. Ainda segundo Josué de Castro, para cada 1000 obras escritas tratando da temática “guerras”, por exemplo, 1 uma era escrita para a temática “fome”.
No período entre guerras, situado na primeira metade do séc. XX, é que órgãos internacionais, como a Liga das Nações e a FAO (Organização de Alimentação e Agricultura das Nações unidas) deram início aos estudos e trabalhos sobre o problema da alimentação a partir de 1928, estavam com o intuito de buscar soluções para os problemas da fome, embora até os dias atuais não se mudou muita coisa a respeito do disso, principalmente nos países em desenvolvimento.
Chama-se de “fome endêmica” as manifestações permanentes de fome. Já a “fome epidêmica” são as manifestações transitórias de fome. Conforme Josué de castro, as áreas de fome no Brasil, era a Área Amazônica, o Sertão do Nordeste e o Nordeste Açucareiro. E as áreas de subnutrição são o Centro e Sul do país.

Área Amazônica

A região amazônica representa, sob o ponto de vista ecológico, um tipo unitário de área alimentar muito bem caracterizado, tendo como alimento básico a farinha de mandioca, os limites geográficos desta área são bem nítidos. Com as suas terras atravessadas lado a lado pela linha equatorial, estende-se para o norte até o sistema montanhoso das guianas e para o sul até alcançar a região semi-árida do nordeste brasileiro, onde seu revestimento vegetal se transforma em vegetação de campo aberto do tipo xerófita. Os contrafortes ocidentais da cadeia dos Andes a constituem a oeste. Suas terras banhadas pelo gigantesco sistema fluvial do amazonas e recobertas na quase totalidade por um espesso manto de floresta, abrangem uma extensão de cerca de 5 milhões de km2. Nesta região florestal vivem disseminados seis milhões de pessoas. Da simples coleta dos produtos nativos, da caça e da pesca. Da colheita de sementes silvestres, de frutos, de raízes e de cascas de arvores.. do látex, dos óleos e da resinas vegetais. E daí em diante nunca a Amazônia conseguiu sair de sua economia de colheita de produtos de floresta, dessa enganosa sedução da riqueza verde, riqueza que faz miséria do amazonas, como o verde da cana de Nordeste, e como o amarelo do ouro de Minas.
Apenas em zonas limitadas e utilizando uma cultura primitiva de certos produtos de alimentação, como o da mandioca, do milho, do arroz e do feijão. Tal tipo de farinha regionalmente chamado de farinha d’água, constitui um complemento obrigatório de quase tudo que se come na região – e foi por isso que Teodoro Peckolt o chamou de “Pão dos Trópicos”. O seu uso mais abundante se fazia na forma de farofas, mingaus, beijus e bebidas fermentadas (como o caium). A população indígena do Planalto Mexicano alimenta as crianças logo que é cortada a amamentação materna. Segundo Araújo Lima, em certa região do baixo amazonas – região do lago andará – os trabalhadores se alimentam dias seguidos exclusivamente com mingau de mandioca. A pesca rende muito mais e contribui para a dieta local com elementos mais ricos e variados, sejam peixes de água doce, os quais o amazonas possui uma infinita variedade, sendo os mais comuns o piracui e o peixe-boi.
A floresta é um obstáculo a criação de gado. As arvores frondosas, com as copas cerradas impedindo completamente a penetração da luz, não permitem o crescimento da vegetação rasteira que forma as pastagens. Não podem criar gado por que a umidade da floresta ameniza e faz morrer os bois , os carneiros e os cavalos.
Estas limitações que a natureza impõe a pecuária, a falta de transporte entre as zonas de criação e o resto da região amazônica, não facilitam o abastecimento nem de carne nem de leite. Estes são produtos que não entram praticamente na alimentação habitual nesta zona. Somente o recurso da caça-carne de anta, de pato-bravo, de macaco, ou do peixe, cujo consumo está mais limitado as populações que vivem nas margens dos rios, dos igarapés e das lagoas que as enchentes formam e as chuvas mantêm. Flagelados por falta de água. Flagelados por excesso de água, “o Nordeste durante as secas e a Amazônia durante as inundações constituem desgraçadamente modelos de incontrastáveis no catalogo das grandes tragédias coletivas”. Os principais defeitos deste tipo de alimentação da Amazônia nutrição. A influência do clima sobre o metabolismo, sobre o ritmo das trocas energéticas e, consequentemente, sobre as necessidades calóricas do homem habitante dos climas tropico - equatoriais.
O clima amazônico de tipo quente superúmido, com uma umidade relativa do ar que anda pela casa dos 90%, alcançado a todo momento o ponto de saturação do ar em umidade, condiciona forcosamente o organismo humano a uma sensível baixa de seu metabolismo.
Esta baixa de metabolismo na região amazônica é representada por cerca de 20% do total calórico das cifras de standard universal: um total de 2400 calorias. Este tipo regional de alimentação, que em sua manifesta insuficiência seria mortal em tempo, conduzindo o organismo a morte num clima frio ou temperado.
A mandioca é muito pobre em proteínas, mais pobre mesmo do que o milho, e qualitativamente inferior. Qual a razão pela qual o branco se fadiga mais depressa do eu o negro ou o índio? Pode haver varias razões explicativas: é que o negro trabalhou sempre despido. Seja nas plantações de cana das Antilhas, seja nos algodoes norte americanos, seja na área de açúcar do nordeste brasileiro, sempre o encontramos com menos roupa possível, tanga, com o torso e as pernas nuas, os índios, usando pouco vestuário, levavam também sobre o branco um grande vantagem para a defesa contra o excesso de insolação, usavam eles o processo da urucuização ou embichamento, que consistia em untar o corpo com uma mistura de corante das sementes de urucu, com gordura de jacaré, de capivara, de peixe ou com resinas vegetais. Os únicos colonos europeus que se alimentaram realmente nos trópicos, podendo concorrer nos trabalhos com os nativos, foram os portugueses. E verdade que se trata raramente de carências totais, de absoluta ausência desses princípios acarretando o que se chama de avitaminoses típicas. São deficiências parciais, chamadas de hipoavitaminoses, avitaminoses latentes e frustas. Áreas de beribéri, doença causada pela carência de vitamina B1, também chamada tiamina: a área amazônica, na America, a área da bacia do congo, na África. Contudo, as manifestações predominantes desta carência se assentam sobre o sistema nervoso. São as paresias e as paralisias que constituem o eixo sintomático dessa doença conhecida no oriente desde a mais remota antiguidade e denominada beribéri. O beribéri é uma típica carência, e foram mesmos os estudos experimentais que vieram a esclarecer isso. A floresta virgem cobrou caro a ousadia dos primeiros que tentaram arrancar a riqueza maldita do seio da selva tropical. E a sua vingança predileta fora exatamente o beribéri. Defumavam a borracha. Vendiam o produto por preços fabulosos. E quando estavam se sentindo donos do mundo, começavam a sentir o chão fugindo debaixo dos pés á sentir as pernas bambas, a dormência subindo dos pés até a barriga, uma cinta apertando-lhes o peito como uma garra, e que sem o excesso de dinheiro para queimar a toa, para comprar as bebidas finas e carned-beet inglês, o homem da Amazônia teve que voltar a seus antigos misteres da era de antes da borracha. Outras manifestações de carências alimentares na Amazônia são: a cegueira noturna, com a xeroftalmia e a querotomalacea. Com as conjuntivites e as blefarites, as córneas opacas levando a cegueira incurável. Como na Índia, por exemplo, onde vive o maior numero de cegos do mundo, que cegaram por falta de vitamina A, como no México, onde o numero de crianças com xeroftalmia é enorme.
Outra carência alimentar se manifesta através do escorbuto, causado pela falta de vitamina C. O feio escorbuto se faz apodrecer as gengivas e sangrar as mucosas de suas vitimas de maneira impressionante. O raquitismo é raro na região amazônica. E a mortalidade por certas doenças tem sido um fator de alta importância na deficiência alimentar. Segundo Josué de Castro, a tuberculose estava em fase epidêmica na capital paraense: onde o mesmo Josué, realizando o primeiro cadastro tuberculino por via fluvial, verificou-se que a cidade de Belém estava disseminando a tuberculose pelas zonas rurais da Amazônia. Não só Belém constitui um dos focos de alta incidência do mal como este foco se estende uniformemente por toda a zona rural atravessada pela estrada de ferra de Bragança, tendo a peste branca penetrado e sido disseminada no campo pelo trem de ferro e tendo infectado em massa estas populações nativas sem nenhuma defesa imunológica.
Deve ser posto em destaque que o ocorrido na Amazônia não foi uma exaltação desse espírito de iniciativa privada que caracterizou toda a colonização portuguesa, no Brasil, neste aspecto semelhante a espanhola no resto da América. Com o advento da valorização da borracha o fenômeno da dispersão se acentuado ainda mais, penetrando o homem mais longe, avançando pelos afluentes do grande rio até as cabeceiras e se infiltrando pelas entradas dos seringais do mato adentro, cerca de 90.000 aventureiros assim se espalharam pelo sertão do Acre. O homem perdido na Amazônia é engolido irremediavelmente pela floresta.

Nordeste Açucareiro

Em se falando da região do Nordeste Açucareiro, Josué de Castro relata os problemas da subnutrição e da carência alimentar. Durante a história, os colonos destruíam as florestas do litoral do Nordeste para plantar a cana-de-açúcar, deixando-se iludir pelos lucros, até suprimirem as culturas de sustentação e edificarem sua fortuna. A preocupação com a paisagem do litoral nordestino, impregnada de história, é justamente onde se destaca o elemento criador de uma vida econômica – a cana-de-açúcar. Da cultura da planta por todo o Nordeste com as queimadas e destruição das florestas houve a desvalorização da cana. Com isso, a consequente crise do açúcar veio agravar a situação alimentar. Nos primeiros séculos de colonização, o trigo foi importado, mas, era de tão má qualidade, mofado e rançoso, que preferiam o pão da terra, a mandioca. A alimentação da região era muito escassa e pouco saudável. Pode-se concluir que, desde o início da colonização brasileira até hoje, a alimentação do nordestino é e foi de má qualidade.
Na região do nordeste açucareiro, do que mais se morria era de fome. Com quantidades insuficientes de alimentos como o feijão, farinha, charque, café e açúcar. Não poderia ser de outro modo pelo salário que aquela gente ganhava através das lavouras agrícolas raramente presentes nas zonas canavieiras. Sempre com o lema de indivíduos bem nutridos e não de subalimentados.
Em cenas se mostram as pessoas na seca, em situação de fome. E não só as pessoas, como também os animais.
Estas pessoas precisavam de uma boa alimentação, visto que elas trabalhavam muito, logo deveriam ser bem alimentados para suprir a energia que foi gasta na jornada de trabalho.

Área do Sertão do Nordeste

A área do sertão do Nordeste é um caso excepcional entre as diversas zonas de alimentação á base de milho no mundo,todas elas ares de fome,de graves deficiências alimentares ,como a America Central,os Estados Unidos da America,Itália e da Romênia.Verifica-se que no mundo inteiro,as áreas de milho são áreas de misérias alimentar,à exceção do serão nordestino.Nesta área criaram complexo alimentar em que as graves deficiências protéicas e vitamínicas do milho são compensadas por outros componentes habituais de dieta.Se o sertão não estivesse exposto à fatalidade climática das secas,Talvez não figurasse entre as áreas de fome.
A base da criação de gado e da agricultura de sustentação e de certos recursos um tanto escasso do meio ambiente da caça e da pesca,o sertanejo usando métodos de preparo e de cozinha apreendidos de outro continente,adaptando novos ingredientes da terra criou um tipo de alimentação característico.Alimentação solida,bem, equilibrada,a qual constitui um bom exemplo de como pode um grupo humano retirar de um meio pobre recursos adequados às necessidades básicas de sua vida.
            A chamada área do sertão do Nordeste se estende desde as proximidades da margem direita do Rio Parnaíba,no seu extremo norte,até o Rio Itapicuru,abrangendo as terras centrais dos Estados do Piauí,Ceará,Rio Grande do Norte, Paraíba,Pernambuco,Alagoas,Sergipe e Bahia. Nestas extensas zonas semi-áridas chamada de polígono das secas, vivem num regime que tem como alimento o milho. Permitindo que fora das quadras dolorosas das secas,vivam em perfeito equilíbrio alimentar,num estado de nutrição bastante sastifatório.
A fauna do sertão fornece poucos recursos alimentares. Os rios e os próprios açudes,tem as suas águas bem mais pobres em peixes do que a zona da mata.Só o Rio São Francisco mantêm apreciável riqueza em suas águas.A fauna terrestre está longe  de fornecer grande auxilio alimentar.Se não possuir carnívoros de grande porte, que ponha em perigo a vida do homem  na região,alguns animais de rapina,como as raposas,gaviões e caracarás,que disputam ao homem alguns dos recursos mais importantes da fauna comestível.Não só da selvagem mas da domestica,das suas criações de galinha,cabra e ovelhas.
A flora de toda região é do tipo xerófita, adaptada à falta d’água no solo e do vapor d’água da atmosfera. Entre a flora xerófita destacam-se as cactáceas, como as palmatórias, as mandacarus,os xiquexiques e os facheiros. Plantas que ajudava gente e o gado a escapar aos seus rigores mortíferos. Dando cor e características á flora do sertão, estão as resistentes bromeliáceas, as suas macambiras, cróias e croatais.
A flora do sertão é bastante pobre em espécies que forneçam alimentos. Está longe de possuir uma riqueza tão espetacular em frutas como a do outro Nordeste, o Nordeste de mata tropical. Afora o umbuzeiro e o pequizeiro.As plantas nativas do sertão produzem frutos de segunda classe que não despertam interesse ao apetite do sertanejo.As quixabas,os juás,os frutos dos cactos,dos xiquexiques.dos cordeiros,quase são aproveitados nas grandes épocas das secas.
A vitamina A existe em relativa abundância em vários componentes de dieta normal do vaqueiro:o leite e manteiga são suas fontes centrais;o milho amarelo e a batata-doce .De pvitaminas do completo B não há déficit parente no sertão nordestino.O beribéri,forma clínica da carência de vitamina B1.As arriboflavinoses caracterizados por feias boqueiras que assolam os meninos dos engenhos só surgem no sertão na época das secas.Tanto esta como as outras formas de carências em vitamina B2 são raridades clinicas entre os sertanejos com sua economia organizada.o leite se revelou no sertão apreciável teor de vitamina C.Principalmente o leite de cabra que o sertanejo consome e que se  mostrou quase duas vezes mais rico nesta vitamina do que o leite de vaca.Não é só leite que mostra bem provido desta vitamina na área sertaneja.O milho verde,o feijão verde e o jerimum,contêm ácido ascórbico em doses que não estão longe das encontradas nas frutas cítricas.
Além do leite,tem  o sertanejo uma fonte liberal de proteínas na carne de boi,carne de carneiro e,principalmente carne de cabrito.Matando o animal para se alimentar o sertanejo come no dia da matança,as vísceras e partes mais perecíveis em famosas buchadas e paneladas,reservando para outro dia a carne de músculos,fresca ou seca como charque.
Analisando a proporção em que entram os outros alimentos simples na ração sertaneja, vê-se que não quebram o seu equilíbrio harmônico.A dieta sertaneja é dieta de poucas,de raras sobremesas.É uma dieta de poupança de verdadeira defesa contra as carências relativas em vitaminas B1,sempre latentes.O sertanejo,quase sem comer frutas nem verduras,consegue escapar por outros meios aos malefícios das avitaminoses e das carências minerais patentes.O que ocorre é que muitos outros alimentos,além das verduras e das frutas conhecidas,são capazes de abastecer o organismo tanto de sais minerais como de vitaminas.O matuto não apresenta carência cálcica por consumir quantidade liberais de leite e  de queijo que são as mais ricas fontes naturais desse principio mineral.Também as águas sertanejas são águas calcárias  que ajudam no abastecimento em cálcio.Escapas as anemias ferroprivas,que assolam os brejeiros,comendo carne fresca e seca,feijão,favas,milho e principalmente a rapadura ,que é  muito superior ao açúcar por seu conteúdo tanto de ferro como em outros princípios minerais.Apesar de sofrer grande espoliação em cloreto de sódio,pela sudação abundante que o clima condiciona,o sertanejo equilibra o seu metabolismo deste outro mineral com a sua alimentação rica de sal,o qual constitui o tempo por excelência do sertanejo.
Com estudo da Amazônia e do Nordeste açucareiro foram apresentadas duas áreas de fome endêmicas no Brasil.
Desfavorável á vegetação,foi a criação de cabras,no entanto,muito favorável à alimentação regional,pois tanto a sua carne como o seu leite são consumidos.
E não é só o milho que consome o leite em abundância no sertão do Nordeste, mas de muitas outras formas com café pela manhã, ou como coalhada, manteiga ou queijo.
Este consumo de carne,numa área onde o milho constitui a alimentação básica é verdadeiramente excepcional e faz do Nordeste uma zona privilegiada.Já os ovos constituem um alimento raro.Além do milho,do leite e da carne,fazem habitualmente parte da alimentação do sertanejo  e o feijão,a farinha a batata -doce,o inhame,a rapadura e o café.O feijão é usado em diversas variedades  como de arrancar e de rama de corda.A batata -doce  colabora com o milho substituindo o pão.Na Bahia e Pernambuco havia uma pobreza muito grande da dieta em verduras e frutas.As refeições que ofereciam ricas em carne de boi,porco,carneiro,cabrito não continham uma só verdura nem um só fruto.
Importante elemento da fauna para a alimentação do sertanejo e que merece um destaque especial é a abelha,cujo mel substitui muitas vezes o açúcar e rapadura no tempo dos alimentos.Café com mel de abelha é uma combinação de largo uso nos períodos de seca do nordeste.Os gatos do mato,capivaras,tamanduás,tatus,coelhos do mato,preás e mocós completam,com os micos e as serpentes a fauna desta região.
Não há problema de vitamina D para o sertanejo. O céu límpido,quase sempre despido de nuvens,e o ar seco,quase isento de umidade,permitem que o sol despeje como maná divino muita vitamina D no sertão.A síntese da vitamina D ao nível da pele garante as necessidades do organismo neste principio alimentar.
Não se constitui o sertanejo num agricultor de produtos de  exportação,para fins comerciais,como se praticava nas terras do  litoral,mas um plantador de produtos  de sustentação para seu próprio consumo.Um semeador,em pequena escala,de milho feijão,fava,mandioca,batata-doce,abóbora e maxixe,plantados nos vales mais sumosos,nos baixios,nos terrenos vê vazante,como culturas de hortas e jardins.A este tipo de policultura do sertanejo é chamada “roça do matuto”.
No sertão nordestino vai se encontrar um novo tipo de fome, inteiramente diferente.Não mais a fome atuando de maneira permanente,mas apresentando-se episodicamente em surtos epidêmicos.Surtos agudos de fome que surgem com as secas.As epidemias de fome destas quadras calamitosas não se limitam,no entanto,aos aspectos discretos e toleráveis das fomes parciais,encontradas nas outras áreas.São epidemias de fome global quantitativa e qualitativa,alcançando os limites extremos da desnutrição e da imaginação aguda e atingindo a todos,ricos e pobres,fazendeiros e trabalhadores do eito,homens,mulheres e crianças,todos açoitados de maneira impiedosa pelo terrível flagelo das secas.
No sertão nordestino escapam as populações porque o milho, embora seja um alimento básico, consumido quase que pela totalidade de seus habitantes e em quantidades relativamente altas e mais ainda em plena zona rural,não constitui,a fonte obrigatória nem de proteínas,nem de vitaminas,nem de sais minerais do sertanejo.Mas apenas  a sua base calórica.Usado sob as mais variadas formas,como angu,canjica,cuscuz,o milho é quase sempre consumido juntamente com o leite,completando a caseína do leite as deficiências de aminoácidos da zeína do milho.
O característico desta extensão de área geográfica é do seu clima semi-árido.Clima tropical,seco,com chuvas escassas e principalmente irregulares.Com uma temperatura média elevada o ano inteiro.Onde há água em abundância e a vegetação frondosa,o clima se apresenta mortífero,e onde a água é escassa e a vegetação exígua,o clima é salubre. No solo do sertão,desenvolvem-se três tipos de vegetação que permitem a  caracterização de três subáreas:o agreste,a caatinga e alto sertão.No ponto alimentar,podemos englobar as três subáreas numa só:na área do milho do sertão nordestino.
O componente fundamental da dieta do sertanejo é o milho, alimento muito incompleto, com falhas graves põe seu baixo teor protéico.
Com  as secas desorganiza-se completamente a economia regional e instala-se a fome no sertão.Normalmente as  crises climáticas,mesmo as mais extensas,ficam adstritas ao período de um ano,mas não é raro que esse desequilíbrio alcance um período maior,dois anos e até três.Nesse caso trata-se de uma seca excepcional,de intensidade extraordinária,de conseqüências indescritíveis,com o cortejo de misérias e humilhações do conhecimento de todos os brasileiros.As crises do Nordeste estão sujeitas a intervalos diferentes:a seca parcial que obedece a um período da ordem de 4 a 5 anos.A seca generalizada,cujo período parece ser de 10 ou 11 anos,e seca excepcional,que parece obedecer ao ciclo de 50 anos.Diz Gilberto Freyre “a palavra Nordeste nos evoca sempre o espetáculo das secas.Quase não sugere senão as secas,os sertões de areia rangendo debaixo dos pés”.
Neste sinistro período em que o clima se nega a regar com chuva benfazejas o solo adusto da caatinga,toda a vida regional se vai exaurindo da superfície da terra.
O despovoamento da região resulta do fato de que não só os animais domésticos, como os que fazem parte da fauna nativa,emigram ou são em sua maior parte dizimados mas épocas de  secas prolongadas.As culturas desaparecem dos  roçados com as sementes enterradas na poeira esturricada ou com as plantas tenras dessecadas pela soalheira.O pasto seco se esfarinha  e é arrastado pelos ventos,ficando o gado a míngua de água e de alimentos.Recorre o vaqueiro ao recurso das  ramas e dos cactos,queimando os espinhos dos mandacaru e dos facheiros e picando os  seus gomos a facão para evitar a extinção imediata do rebanho.O gado esfomeado procuram arrancar com os cascos e com as bocas sangrando os espinhos dos cactos aquosos que lhe mitiguem por um momento a fome e a sede.Não dura muito que o gado se deixe aniquilar pela morrinha e pelas pestes,e comece a entrevar,cair e a morrer como moscas.O pátio das fazendas vão ficando coalhados de cadáveres .
O sertanejo quase sempre desprovido de reservas cai imediatamente num regime de subalimentação.A sua dieta nesta fase se reduz logo um pouco de milho,de feijão,de farinha.Mas se a seca persiste,estes poucos gêneros desaparecem do mercado,ficando o sertanejo reduzido aos recursos da s”iguarias bárbaras”,das “ comidas brabas”-raízes,sementes e frutos silvestres de plantas incrivelmente resistentes a dessecação do meio ambiente.
Fazem parte desta dieta forçada dos  flagelados pela seca inúmeras substancias bem pouco propicias a alimentação,das quais os habitantes de outra zona do pais nunca ouviu falar que fosse alimentos.Substância de sabor estranho, algumas tóxicas,outras irritantes,poucas possuindo qualidades outras alem da de enganar por mais algumas horas a fome devoradora,enchendo o  saco do estomago com um pouco de celulose.
Do cardápio extravagante do sertão faminto fazem parte as seguintes iguarias bárbaras: farinha de macambira, de xiquexique, de parreira brava, de macaúba e de mucunã; palmito de carnaúba nova, raízes de umbuzeiro, pau-pedra, de serrote, maniçoba e sementes de fava-brava. A parte alimentar do xiquexique é a sua medula,a qual é consumida assada com aipim  servindo para o fabricação de farinhas .Já a mucunã constitui de um recurso chamado de desespero,sendo acusada de tóxica.Essa planta,da família das leguminosas,é uma  trepadeira que produz grandes vagens,encerrando de três a cinco sementes extremamente duras e achatadas de cor vermelha e preta.A vermelha  alimenta-se não só da fécula contida na semente como ainda de uma matéria extraída da raiz.E da preta só se utilizam da raiz.Para o preparo da farinha retiram o duro invólucro das sementes e com as mesmas cozidas e reduzias as massas procedem  a sua lavagem e m nove águas,depois levada ao fogo para torrar.O valor nutritivo da semente da mucunã,do tipo vermelha se revelou com um teor protéico de 28,50%,de54,57% de hidrocarbonados e de 2,25% de cinzas minerais.Trata-se de um alimento rico em proteínas,do mundo.A goma da carnaubeira é extraída dos palmitos das plantas novas.A raiz do umbuzeiro é de formada de um tecido esponjoso ricamente bebido em água.A maniçoba são euforbiáceas com raízes bastante ricas em amido,assemelhando-se muito as raízes de mandioca.Também as raízes de pau-de-serrote,fabricam uma farinha usada em miguau. Embora a planta queimada produzisse uma fumaça venenosa, capaz de cegar. Com as sementes torradas de manjerioba fazem no sertão uma bebida que substitui o café.      

Áreas de subnutrição: Centro e Sul

            São as duas regiões alimentares do Brasil que, segundo Josué de Castro, possuem deficiências alimentares mais discretas do que as outras áreas alimentares do país, isto é, a Amazônia, o Sertão do Nordeste e o Nordeste Açucareiro.
As áreas Centro e Sul do Brasil, de acordo com Josué de Castro, “não são áreas de fome, no sentido rigoroso da palavra, mas áreas de subnutrição, de desequilíbrios e de carências parciais, restritas a determinados grupos ou classes sociais”.
No relato é feita uma alusão as áreas de fome do continente sul americano, no caso: o planalto boliviano, o chaco, o deserto chileno, as terras subandinas da Argentina, a Amazônia peruana, colombiana e venezuelana.
            A região Centro-Oeste é delimitada e descrita por Josué de Castro da seguinte forma: “é a área central do milho, que abrange as regiões montanhosas de Minas Gerais, o sertão do sul de Goiás e os pantanais do Mato Grosso. Zona em parte de clima quase subtropical, com chuvas abundantes e regulares e de temperatura abrandada em seu extremo calor pela altitude.”
            Naquele período, o milho cultivado nesta área representava 25% da produção nacional. Outro fato interessante é que as criações de porcos nesta área eram as maiores de todo o país. No entanto, não eram o milho e a carne suína os únicos recursos alimentares desta região, segundo Josué de Castro, havia criações abundantes de gado bovino, e cultivo de variados produtos agrícolas, como o feijão, o café, o arroz e a cana-de-açúcar, sendo aquela região um verdadeiro mosaico de paisagens agrícolas.
            O principal alimento preparado nesta região era o tutu de feijão mineiro, preparado com a farinha de milho, feijão, gordura, toucinho e lombo do porco. Alimento este de alto valor calórico e de baixo valor nutritivo. Porém, havia o consumo alimentar de vegetais verdes, principalmente de couves, que é fonte de sais e vitaminas, além de outras hortaliças e frutas como: laranja, mamão, banana e abacate. Tais alimentos compensavam o valor nutritivo da dieta da dieta regional. Também merecem destaque os produtos derivados da cana-de-açúcar, como o caldo, o melado, a rapadura, os quais eram consumidos em certas áreas mineiras, onde ploriferavam os pequenos engenhos de açúcar.
            Por conta das gorduras de porco e dos derivados de cana consumidos nesta área, era comum uma incidência de obesidade e diabetes, a na formação dos tipos biológicos de mineiros lentos, pesados, conservadores e pachorrentos. Não havia grandes déficits tão graves, havia sim, desvitaminoses A, B e C.
            Havia, no entanto a carência de iodo na região mineira. A pobreza deste metalóide nessas terras montanhosas, no seu solo, na sua água e nos vegetais ali produzidos, é responsável pela enorme incidência de cretinismo endêmico nessa região, cretinismo que se manifesta numa rica gradação de formas clínicas, bociosas ou não.
            São mencionadas as mudanças no espaço geográfico da região de Goiás, pois até antes da construção de Brasília (ali situada), essa região, que era isolada dos grandes centros demográficos do país, começa a ganhar infra-estrutura (estradas), que iria proporcionar uma maior integração com as outras áreas do país. E como muitas pessoas de outras regiões nacionais apareceram na área para trabalhar no grande canteiro de obras, certamente os costumes e padrões alimentares da população nativa iriam ser modificados.
            A área do Sul, que abrange geograficamente o Estado da Guanabara, o estado do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, é caracterizada por uma maior variedade de elementos componentes de seu regime alimentar e pelo consumo mais elevado das frutas e das verduras. Sendo a zona mais rica do país, compreendendo 80% da capacidade econômica de toda a nação (naquele tempo), não era de se estranhar que dispunha de elementos para tornar um tanto mais elevado o seu padrão alimentar. Toda essa melhoria foi provocada por vários pilares, como base econômica sólida; concentração produtiva e populacional, ocupando respectivamente 40% e 31% do quadro nacional; a chegada de imigrantes; além do clima e do solo favoráveis para a produção agrícolas e para a instalação dos imigrantes.
            Assim, a alimentação nessa região se tornou muito variada: desde padrões vegetarianos, onde se predomina o uso do trigo, sob forma de espaguete e ravióli, na área paulista, até a alimentação carnívora, na subárea do Rio Grande do Sul, caracterizada pelo complexo alimentar do churrasco s do mate-chimarrão.
            Nas colônias japonesas, situadas nas proximidades dos centros urbanos, em torno da capital paulista, o consumo de verduras é mais abundante. Já nas zonas de influência germânica (alemã) se encontra um consumo mais freqüente de aveia, centeio, lentilhas, hortaliças e frutas; assim como a carne, principalmente suína, em suas inúmeras variedades de salsichas, bacon, presunto doméstico, carne de fumeiro, comidos com pão preto, chucrute e cerveja.
            Não se concluía pela enumeração desta apetitosa lista de substâncias alimentares, produtos de ação conjunta de fatores naturais e culturais favoráveis, que a alimentação nessa área era perfeita, isenta de deficiências e de desequilíbrios. A situação estava longe disso. No Rio de Janeiro havia deficiência de cálcio, ferra e vitamina A e dos grupos B e C. deficiências que resultam do baixo consumo de leite, de verduras, de legumes verdes, de cereais integrais e de verdura entre os elementos das classes das classes proletárias. Em São Paulo havia a carências desses elementos, porem de maneira mais discreta. De fato, o regime alimentar do São Paulo era o menos defeituoso do país, onde o alimento base consumido era o trigo, que possui mais proteínas do que outros cereais, como milho e arroz. Apesar desta maior tendência dos paulistas a consumirem trigo, frutas e verduras, sofrem, contudo, da carência de certos princípios nutritivos.
Já em Santa Catarina, segundo inquéritos de terceiros abordados pro Josué de Castro, a alimentação popular se mostrou de modo geral suficiente e equilibrada, enquanto que no Rio Grande do Sul, na zona do Bajé, um regime insuficiente e nitidamente carenciado em vários princípios fundamentais, o que explicava, em grande parte, a alta incidência de tuberculose nessa região, incidência que era das mais fortes do país.
Nesta área do Sul, sem duvida, a melhor alimentada do país, verificou-se, contudo através das indagações bem conduzidas, toda uma seria de carências alimentares, as mais das vezes parciais, discretas ou ocultas. Uma delas se manifesta nas crianças pobres dos grandes centros urbanos da região. Em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo os pediatras tinham constatado nos últimos anos uma incidência exatamente alta dos edemas de fome das distrofias malignas e mesmo de síndromes típicos kwaskiorkor entre as crianças atendidas nos hospitais públicos, nos bairros operários e nos subúrbios. Alguns pediatras chegavam a afirmar que estes estados mórbidos que exteriorizam a carência de proteínas, ou melhor, de certos aminoácidos integrantes da molécula proteica, longe de diminuir, tem sua incidência em franca ascensão, com o surto de industrialização e o adensamento do proletariado urbano no Brasil.
Chega-se, através desta rápida análise feita por Josué de Castro, a conclusão de que o Sul é realmente uma zona de subnutrição crônica, cujas populações, embora libertadas em sua maioria das formas mais graves de fome, estão, no entanto longe de gozar dos benefícios de um metabolismo perfeitamente equilibrado.

Estudo do conjunto brasileiro

Com a apresentação, sob a forma de grandes manchas impressionistas, as áreas de subnutrição do Centro e do Sul, completa-se a caracterização do mosaico alimentar do país. Através deste panorama, verifica-se a veracidade do titulo e das premissas deste volume: o Brasil é realmente um dos países de fome no mundo atual. Tanto em seus quadros regionais como em seu conjunto unitário, sofre o Brasil as duras consequências dessa condição biológica aviltante de sua raça e de sua organização social.
Orientada a principio pelos colonizadores europeus e depois pelo capital estrangeiro expandiu-se no pais uma agricultura extensiva de produtos exportáveis ao invés de uma agricultura intensiva de subsistência, capaz de matar a fome de nosso povo.
Os governos se mostraram quase sempre incapazes de impedir esta voraz interferência dos monopólios estrangeiros na marcha da nossa economia. Conforme acentuou muito bem o economista Gunnar Myrdal, as grandes potências utilizaram nos países subdesenvolvidos para seus fins de exploração colonial “os próprios grupos oligárquicos, interessados eles próprios na manutenção do status quo político e social”. E, portanto infensos ao verdadeiro desenvolvimento emancipador.
Outro aspecto do nosso desenvolvimento, pouco favorável a melhoria das condições alimentares, tem sido o relativo abandono a que foram regaladas as regiões mais pobres do país, onde a fome grassa na mais alta proporção. O caso do Nordeste é o mais alarmante porque aí se concentra um terço da população brasileira, que vive em condições econômicas bem precárias, como já foi demonstrado.
Depois de quatro séculos de ocupação humana vamos encontrar um país que se dizia agrícola e que apenas dispõe de cerca de 2% de suas terras trabalhadas no cultivo de utilidades e dessa área, só a terça parte se destinando a produção de gêneros alimentícios. É verdade que a larga mancha negra da fome se atenuou um pouco em certos pontos, se retraíram seus limites noutros, mas o quadro geral pendura mais ou menos idêntico. Ganhou-se nos últimos anos uma melhor consciência da realidade do problema. O desenvolvimento econômico do Brasil, quando medido através dos índices da renda média per capita, não pode ser contestado. Mas se procurarmos aferi-lo, através da distribuição real das rendas pelos diferentes grupos sociais, mostra-se ele então bem menos efetivo. Mesmo industrializando-se, a nossa economia seguiu os ditames de uma economia de tipo colonial, politicamente desinteressada pela sorte da maioria. Apenas ocupada em desenvolver mais o já desenvolvido. Há ainda a questão da maldita estrutura agrária que foi estabelecida desde os tempos da colonização, pois esta é um empecilho para o desenvolvimento sócio econômico.
Diante de todas essas problemáticas, conclui-se que:
  1. O Brasil, como país subdesenvolvido, em fase de desenvolvimento autônomo e de acelerado processo de industrialização não conseguiu ainda se libertar da fome e da subnutrição que durante séculos marcaram duramente a sua evolução social, entravando o seu progresso e o bem-estar social do seu povo.
  2. A dualidade da civilização brasileira, com a sua estrutura econômica bem integrada e prospera no setor industrial e uma estrutura agrária arcaica, de tipo semicolonial, com manifesta tendência a monocultura latifundiária, é a principal responsável pela sobrevivência da fome no quadro social brasileiro.
  3. Nenhum fator é mais negativo para a situação de abastecimento alimentar do país do que a sua estrutura agrária feudal, com um regime inadequado de propriedade, com relações de trabalho socialmente superadas e com a não utilização da riqueza potencial dos solos.

Conclusão



A releitura de Geografia da Fome evidencia quão viva, polêmica e sedutora permanece esta obra sexagenária. Nos dias atuais, ao perfil epidemiológico nutricional traçado por Josué de Castro, caracterizado pelas carências nutricionais (desnutrição, hipoavitaminoses, bócio endêmico, anemia ferropriva etc.), sobrepuseram-se as doenças crônicas não-transmissíveis (obesidade, diabetes, dislipidemias etc.). Nesse aspecto, tanto o mapa das cinco áreas alimentares como o das principais carências nutricionais existentes no Brasil traçados em Geografia da Fome precisam ser redesenhados em função deste novo perfil epidemiológico nutricional brasileiro. Tarefa imprescindível, mas que ainda está por vir. A questão da complexa e paradoxal problemática da fome, entretanto, permanece como uma temática recorrente no Brasil. Portanto, diante de alguns dilemas da atualidade, tais como aqueles que dizem respeito à sustentabilidade ecológica do planeta e à garantia do direito humano à alimentação, torna-se imperante reacender a luta defendida por Josué de Castro pela adoção de um modelo de desenvolvimento econômico sustentável e uma sociedade sem miséria e sem fome.