segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mesmo com prestígio, Silval não emplaca nome de Dilma


Um dos maiores cabos eleitorais da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT) em Mato Grosso, o governador reeleito Silval Barbosa (PMDB), não conseguiu convencer os eleitores de seu próprio município a votar em sua candidata. Em Matupá, a pestista teve 3.244 votos (46,20%), ficando atrás do adversário José Serra (PSDB), que teve 3.778 (53,80%).
A derrota no município provocou revolta no coordenador estadual da campanha pró-Dilma no segundo turno, o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, que destacou que a cidade recebeu uma série de benefícios do governo federal. Além de Matupá, ele elencou como municípios que o decepcionaram Primavera do Leste e Sinop.
Silval saiu da Capital para ir votar em sua cidade e desembarcou em Matupá por volta das 8h30, acompanhado da primeira-dama Roseli Barbosa. Às 11h, ele foi votar na escola Antônio Ometo e depois atendeu a imprensa local. O governador também aproveitou a oportunidade para agradecer os votos que ele próprio recebeu no município.
Ele, que já foi prefeito de Matupá, contou com o apoio maciço dos eleitores do município para se emplacar como governador. No dia 3 de outubro, recebeu 5.840 votos (82,7%) e mostrou que tem prestígio não só na cidade, mas com os prefeitos de todo o Estado. No primeiro grande ato pró-Dilma, ainda sob sua coordenação, Silval reuniu quase 120 gestores municipais num encontro com o então candidato à vice-presidência, Michel Temer (PMDB). Contudo, o bom relacionamento político não se reverteu em votos para a petista, que no Estado, recebeu 729.747 votos (48,89%), ficando 33.158 votos atrás de Serra, com 762.905 (51,11%).

Desafios para a presidente Dilma Rousseff

 

 Celebramos alegremente a vitória de Dilma Rousseff.

E não deixamos de folgar também pela derrota de José Serra que não mereceu ganhar esta eleição dado o nivel indecente de sua campanha, embora os excessos tenham ocorrido nos dois lados.

Os bispos conservadores que, à revelia da CNBB, se colocaram fora do jogo democrático e que manipularam a questão da descriminalização do aborto, mobilizando até o Papa em Roma, bem como os pastores evangélicos raivosamente partidizados, sairam desmoralizados.

Post festum, cabe uma reflexão distanciada do que poderá ser o governo de Dilma Rousseff.
Esposamos a tese daqueles analistas que viram no governo Lula uma transição de paradigma: de um Estado privatizante, inspirado nos dogmas neoliberais para um Estado republicano que colocou o social em seu centro para atender as demandas da população mais destituida.

Toda transição possui um lado de continuidade e outro de ruptura.

A continuidade foi a manutenção do projeto macroeconômico para fornecer a base para a estabilidade política e exorcizar os fantasmas do sistema.

E a ruptura foi a inauguração de substantivas políticas sociais destinadas à integração de milhões de brasileiros pobres, bem representadas pela Bolsa Familia entre outras.

Não se pode negar que, em parte, esta transição ocorreu pois, efetivamente, Lula incluiu socialmente uma França inteira dentro de uma situação de decência. Mas desde o começo, analistas apontavam a inadequação entre projeto econômico e o projeto social. Enquanto aquele recebe do Estado alguns bilhões de reais por ano, em forma de juros, este, o social, tem que se contentar com bem menos.

Não obtante esta disparidade, o fosso entre ricos e pobres diminuiu o que granjeou para Lula extraordinária aceitação.

Agora se coloca a questão: a Presidente aprofundará a transição, deslocando o acento em favor do social onde estão as maiorias ou manterá a equação que preserva o econômico, de viés monetarista, com as contradições denunciadas pelos movimentos sociais e pelo melhor da inteligentzia brasileira?

Estimo que, Dilma deu sinais de que vai se vergar para o lado do social-popular. Mas alguns problemas novos como aquecimento global devem ser impreterivelmente enfrentados. Vejo que a novel Presidente compreendeu a relevância da agenda ambiental, introduzida pela candidata Marina Silva.

O PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) deve incorporar a nova consciência de que não seria responsável continuar as obras desconsiderando estes novos dados. E ainda no horizonte se anuncia nova crise econômica, pois os EUA resolveram exportar sua crise, desvalorizando o dólar e nos prejudicando sensivelmente.

Dilma Rousseff marcará seu governo com identidade própria se realizar mais fortemente a agenda que elegeu Lula: a ética e as reformas estruturais. A ética somente será resgatada se houver total transparência nas práticas políticas e não se repita a mercantilização das relações partidárias(“mensalão”).

As reformas estruturais é a dívida que o governo Lula nos deixou. Não teve condições, por falta de base parlamentar segura, de fazer nenhuma das reformas prometidas: a política, a fiscal e a agrária. Se quiser resgatar o perfil originário do PT, Dilma deverá implementar uma reforma política. Será dificil, devido os interesses corporativos dos partidos, em grande parte, vazios de ideologia e famintos de benefícios.

A reforma fiscal deve estabelecer uma equidade mínima entre os contribuintes, pois até agora poupava os ricos e onerava pesadamente os assalariados. A reforma agrária não é satisfeita apenas com assentamentos. Deve ser integral e popular levando democracia para o campo e aliviando a favelização das cidades.

Estimo que o mais importante é o salto de consciência que a Presidente deve dar, caso tomar a sério as consequências funestas e até letais da situação mudada da Terra em crise sócio-ecológica.

O Brasil será chave na adaptação e no mitigamento pelo fato de deter os principais fatores ecológicos que podem equilibrar o sistema-Terra. Ele poderá ser a primeira potência mundial nos trópicos, não imperial mas cordial e corresponsável pelo destino comum.

Esse pacote de questões constitui um desafio da maior gravidade, que a novel Presidente irá enfrentar. Ela possui competência e coragem para estar à altura destes reptos. Que não lhe falte a iluminação e a força do Espírito Criador.

Leonardo Boff escreveu com Rose Marie Muraro,Feminino e Masculino (Record) 2002.

Aécio e Marina lideram apostas para 2014

Assim como os dois, há outras lideranças mais jovens que aproveitaram a eleição deste ano para se consolidar

01 de novembro de 2010 | 0h 00
 
 
Marcelo de Moraes - O Estado de S.Paulo
Com a eleição presidencial polarizada pela petista Dilma Rousseff e pelo tucano José Serra, uma corrida política paralela foi deflagrada para garantir posições vantajosas na disputa de 2014. Assim, projetos nacionais de poder já foram incubados em várias disputas regionais.
Andre Dusek/AE
Andre Dusek/AE
Desempenho. Eleito senador, Aécio ainda emplacou Anastasia e garantiu vaga para Itamar
Alguns desses movimentos foram bem claros. É o caso do ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB) e da senadora Marina Silva (PV-AC). Mas há outros nomes desde já de olho na disputa de 2014: os governadores eleitos de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do Paraná, Beto Richa (PSDB), além dos governadores reeleitos de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB).
Assim como Marina e Aécio, todos representam lideranças mais jovens que aproveitaram a eleição para se consolidar e ocupar papel de destaque no cenário político nacional.
Aécio, de 50 anos, ganhou tudo em Minas. Foi eleito senador com votação expressiva, emplacou o sucessor Antônio Anastasia (PSDB) no governo e garantiu a vaga de senador para o ex-presidente Itamar Franco (PPS), derrotando na mesma eleição o ex-ministro Hélio Costa (PMDB), e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT). O resultado credencia o tucano como melhor aposta do PSDB para a sucessão presidencial daqui a quatro anos.
Marina Silva, de 52 anos, é nome consolidado para 2014. Credenciada por quase 20 milhões de votos no primeiro turno, mesmo contando com uma estrutura mínima de campanha e quase nenhum tempo de propaganda na televisão, ela se tornou a maior surpresa da corrida presidencial deste ano. Sua campanha bem sucedida formou uma base bastante sólida para a próxima eleição.
Geração. Eduardo Campos, de 44 anos, lidera o projeto nacional do PSB, que ampliou bastante sua representação no País. Cabral, de 47 anos, também se consolidou como maior liderança do Rio, deixando para trás grupos importantes representados pelo ex-prefeito Cesar Maia (DEM) e pelo ex-governador Anthony Garotinho (PR). Passa a ser mais importante ainda se o PMDB decidir bancar um projeto de candidatura presidencial descolado da parceria com o PT.
Entre os tucanos, Alckmin, de 57 anos, dá a volta por cima na sua trajetória política com a eleição para o governo de São Paulo.
Comandando o Estado mais populoso do País, passa a ter importância política para planejar uma nova campanha para o Palácio do Planalto, depois de ter sido batido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006.
Beto Richa, de 44 anos, saiu da Prefeitura de Curitiba para o comando do governo do Paraná, derrotando o senador Osmar Dias (PDT), que tinha o apoio de Lula e do governador Roberto Requião (PMDB). Os dois tucanos, no entanto, precisariam antes superar o bom momento de Aécio dentro do partido.
Na prática, a transição entre as disputas de 2010 e 2014 representa uma espécie de troca de gerações na política brasileira. Depois de dois mandatos, Lula deixará o governo com 65 anos. Pode até tentar um novo mandato em 2014, mas já estará perto dos 70 anos. Os dois principais candidatos à sua sucessão também passaram dos 60 anos. José Serra tem 68 anos e Dilma está com 62 anos. Eleita, é candidata quase certa à reeleição.
Há ainda o caso do deputado Ciro Gomes, de 52 anos, que sonhava com sua terceira campanha presidencial, mas viu o plano ser barrado pela direção do PSB e pelo próprio Lula e não disputou nenhum cargo este ano.
Projetos regionais. Um bom resultado nas eleições, entretanto, não garante o sucesso dessas incubadoras políticas. O principal problema é que, tradicionalmente, a maioria dos partidos não desenvolve projetos de poder em nível nacional. Preferem concentrar suas atenções nas disputas regionais onde possuem lideranças expressivas.
Ciro Gomes experimentou na pele a situação este ano. O PSB preferiu investir na parceria nacional com o PT em torno da candidatura de Dilma e ganhar o apoio petista em campanhas estaduais consideradas estratégicas pelo partido. Em troca, o PT decidiu abrir mão de candidaturas em locais importantes, como Ceará, Pernambuco e Espírito Santo, por exemplo. A estratégia garantiu a vitória do PSB nesses três Estados já no primeiro turno.
Essa falta de interesse dos maiores partidos em ter candidatos na eleição para o Palácio do Planalto fica clara na atual disputa. Entre os partidos com representação expressiva dentro do Congresso, apenas PT, PSDB, PV e PSOL bancaram candidaturas majoritárias - outras cinco legendas pequenas também participaram da disputa.
O PMDB é o principal exemplo desse tipo de comportamento. Apesar de ser líder em número de parlamentares dentro do Congresso e sempre ter número expressivo de governadores, não lança um candidato à Presidência desde 1994, quando Orestes Quércia terminou em quarto lugar. Depois disso, passou a se concentrar com sucesso nas disputas estaduais e, agora, chega à Vice-Presidência da República.
NOVA GERAÇÃO
Aécio Neves (PSDB-MG)
O ex-governador mineiro é considerado nome certo para disputar a eleição presidencial daqui a quatro anos. Sai fortalecido ao se eleger senador, emplacar Antônio Anastasia (PSDB) como sucessor no governo de seu Estado e garantir a vitória de Itamar Franco (PPS) para a segunda vaga no Senado por Minas
Beto Richa (PSDB-PR)
Depois de ganhar duas eleições seguidas para a Prefeitura de Curitiba, chegou ao governo do Paraná e ganha relevância dentro do PSDB
Eduardo Campos (PSB-PE)
Novamente vitorioso, o governador de Pernambuco deve deflagrar em 2014 o projeto de candidatura própria do PSB ao governo federal
Geraldo Alckmin (PSDB-SP)
Chegou a disputar o segundo turno presidencial contra Lula em 2006, mas perdeu espaço. Com a nova eleição para o governo de São Paulo, recupera terreno político e pode ser opção para o Planalto, mas numa escala abaixo de Aécio
Marina Silva (PV-AC)
Participante da disputa pela Presidência, Marina foi a sensação da reta final do primeiro turno eleitoral. Com quase 20 milhões de votos, aproveitou a atual campanha para construir bases sólidas para uma candidatura competitiva daqui a quatro anos
Sérgio Cabral (PMDB-RJ)
Reeleito, será o governador dos preparativos para a Copa de 2014 (a final será disputada no Rio) e da Olimpíada de 2016. Pode entrar no jogo nacional de 2014 se o PMDB resolver investir em candidatura própria

Dilma ganha em quatro cidades do Grande ABC

Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC

A petista Dilma Rousseff também garantiu a vitória no Grande ABC. Ela ganhou do tucano José Serra em quatro cidades: São Bernardo, Diadema, Mauá e Rio Grande da Serra. O ex-governador de São Paulo ficou na frente em Santo André, São Caetano e Ribeirão Pires.
A maior vantagem da ex-ministra da Casa Civil na região ocorreu em Diadema. Na cidade comandada pelo correligionário Mário Reali, Dilma obteve 66,46% dos votos (160.238), ante 33,54% (80.874). Por outro lado, foi São Caetano que deu a mais larga vitória a Serra na região. Na cidade chefiada pelo aliado José Auricchio Júnior (PTB), o tucano ficou com 68,97% dos votos (62.329), contra 31,03% (28.038) de Dilma.
No primeiro turno, ela só havia perdido justamente no município dirigido por Auricchio. Mudaram de lado na segunda etapa e deram vitória a Serra os eleitores de Santo André e Ribeirão Pires.
A disputa mais apertada foi em Santo André, com 51,2% (207.663) para Serra e 48,8% (197.936) para Dilma.
Em números absolutos, Dilma conquistou 796.993 votos nas sete cidades do Grande ABC, contra 677.566 de José Serra, uma diferença de 119.427 votos.

Petista vence em 15 estados e no Distrito Federal

Em número de Estados, a vitória de Dilma Rousseff ontem foi menor do que a obtida no primeiro turno. No dia 3, a petista sagrou-se vencedora em 18 unidades da Federação, enquanto que agora ela terminou na frente em 15 Estados mais o Distrito Federal.
A maior diferença da petista ante o adversário tucano José Serra foi no Amazonas, onde ela teve 80,6% dos votos, contra 19,4% do ex-governador de São Paulo. Logo depois vem Maranhão (79,1% para Dilma e 20,9% para Serra) e Pernambuco (75,6%, contra 24,4%). São Estados que têm justamente dois aliados de primeira hora da petista: o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), e o governador Eduardo Campos (PSB), respectivamente.
O senador eleito Aécio Neves (PSDB) não conseguiu cumprir a promessa de dar a José Serra a vitória no Estado. Dilma obteve dos mineiros 58,5% dos votos, contra 41,5% do tucano. Em contrapartida, a ex-ministra da Casa Civil viu seu avdersário virar o jogo no Rio Grande do Sul, que terá como governador o petista Tarso Genro. Entre os gaúchos, Serra obteteve 51% dos votos, ante 49% de Dilma. No primeiro turno, ela venceu no Estado.
UNÂNIME - Dilma conseguiu a unanimidade entre os nove estados da região Nordeste, motivados, principalmente pela alta aprovação de seu padrinho político, o presidente Lula, e pelo grande número de moradores que recebem o Bolsa Família. Além de Maranhão e Pernambuco, ela venceu em Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Serra também teve sua unanimidade: venceu nos três Estados do Sul.
O Distrito Federal, única localidade em que Marina Silva (PV) saiu vitoriosa no segundo turno, desta vez escolheu Dilma. Na região que voltará a ser comandada pelo PT - com vitória de Agnelo Queiroz -, a nova presidente obteve 52,8%, contra 47,2% de Serra.
Além do Rio Grande do Sul, Dilma também amargou derrota em Goiás, outro Estado em que venceu no primeiro turno.

Dilma vai precisar costurar coalizão, diz cientista político

Agência Brasil
Publicação: 01/11/2010 11:20

Brasília - A presidente eleita Dilma Rousseff "vai ter mais facilidade para governar" do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque vai contar com maioria no Congresso Nacional, avalia o professor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília, David Fleischer. "A oposição dessa forma será menos radical."

A sucessora de Lula precisa contar com três quintos dos votos, em cada Casa, para aprovar mudanças de ordem constitucional, por exemplo. Fleischer destacou que Dilma vai contar com o apoio de 60% dos parlamentares no Congresso, que é o percentual previsto para a sua base aliada. Ele lembra que a presidente, no entanto, "vai ter que costurar sua coalizão, porque terá no seu governo mais parceiros para dividir o bolo".

O crescimento do PSB e o fortalecimento do PMDB, por ser o partido do futuro vice-presidente da República, Michel Temer, são questões que "terão que ser administradas no próximo governo”, na avaliação do cientista político. “Eles vão querer uma fatia maior do bolo e isso vai demandar negociações, por isso ela (Dilma Rousseff) terá que gerenciar bem essa questão."

O professor destacou que o presidente Lula "conseguiu enfraquecer a oposição" nas eleições deste ano, com a derrota de importantes figuras políticas como Tasso Jereissati (PSDB), Arthur Virgílio (PSDB), Heráclito Fortes (DEM) e Marco Maciel (DEM).

A nova situação partidária da oposição, de acordo com David Fleischer, poderá motivar a fusão do PSDB com o DEM ou a criação de legenda.

Sem Lula, era Dilma terá nova relação governo-PT

Publicada em 01/11/2010 às 09h04m
Leila Suwwan


SÃO PAULO - Ao mesmo tempo em que vive seu auge, com a eleição de Dilma Rousseff e de bancadas históricas no Congresso, o Partido dos Trabalhadores tem à frente o desafio de equilibrar sua força política com as exigências da governabilidade balizada pelo aliado PMDB. Dessa forma, bandeiras ideológicas do PT - do controle social da mídia à legalização do aborto - poderão ter de ficar restritas à mobilização social e partidária, poupando o futuro governo de desgastes. Para isso, o partido se prepara para exercitar sua musculatura, na era pós-Lula, pelo Legislativo, sem "imposições programáticas". Na opinião do vice-presidente do partido, Humberto Costa (PE), o resultado das urnas é uma demonstração de que o PT já não vive mais à sombra de Lula e conseguiu amadurecer para não ficar à sombra também da máquina administrativa federal.
- O PT aprendeu com os erros e conseguiu separar o que é o papel do partido e o que é o papel do governo - disse Costa às vésperas da eleição. - O partido também avançou muito no seu papel questionador, e acredito que esses avanços vão ajudar no governo Dilma. O PT vai ter uma função muito mais evoluída no próximo governo porque sabe hoje como deve atuar.
Dilma já decretara que bandeiras históricas do PT serão assunto da sociedade civil organizada. Na campanha, repetia: "Movimento é movimento, sindicato é sindicato, e governo é governo." Na trincheira de governo, para auxiliar nessa separação, estarão Antonio Palocci, cotado para a Casa Civil, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, nome certo no primeiro escalão. Entre as batalhas que o PT tentará travar em paralelo estão a redução da jornada de trabalho, a descriminalização do aborto, a taxação de grandes fortunas e a audiência prévia à reintegração de terras invadidas.
Usada em tom de ameaça pela oposição, essa nova relevância programática do PT foi um trunfo pouco alardeado internamente, em parte para evitar temores sobre as "imposições" que o partido poderia fazer a Dilma. Em setembro, o deputado cassado José Dirceu (PT-SP) sintetizou a petroleiros:
- Depois do pós, o 1º de janeiro, a força do partido e sua presença se expressam muito pela participação na vida política do país. Um partido com 30% de votos não pode ser desprezado por nenhum presidente. Temos que chegar para discutir com propostas. Tem uma disputa contra nós na comunicação - disse, sem saber da presença da imprensa. - A eleição da Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa.
Dirceu, forte articulador do PT, elegeu o filho Zeca para a Câmara e aguarda apenas o julgamento do mensalão no STF para retomar uma vida política mais ativa. Sua volta ao Executivo é improvável, mas jamais foi descartada. O discurso de Dilma é igual ao dele: não existe pena de "banimento".
A disputa que ele mencionou, com o acirramento e escândalos de campanha, fortaleceu os aliados moderados.
- É Dilma quem dará o ritmo, o perfil e a coloração da prática política do governo. Não há temor (de excessos) do PT. Eles já têm a Presidência, uma vantagem imensa. Para o PMDB, é fundamental a boa convivência na coalizão, especialmente saindo de uma campanha tão violenta - diz Moreira Franco (PMDB), um dos coordenadores do programa de governo, que acabou ficando na gaveta.
Porém, o documento final eliminou as propostas polêmicas do PT e serviu de "embrião" para "pesos e balanços" entre os aliados. Muito atacada na campanha do segundo turno por causa do tema "aborto", Dilma - que acabou prometendo não propor ou sancionar leis que impactem a religião - ainda lançou um programa de governo genérico, sem citar a questão.
- Temos buscado o consenso mínimo, o entendimento. A blindagem, o isolamento e a soberba não servem para construir uma aliança sólida - afirma Moreira Franco.
A primeira grande prova de força do PT será a queda de braço com o PMDB pelas presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro. Dela sairão também as relações da "governabilidade" de Dilma. O PT saiu das eleições deste ano como o partido com mais deputados na Câmara. No Senado, conseguiu a maior bancada de sua história.
- O PT vai ter uma importância relativa maior na escolha das mesas em fevereiro, o que será um termômetro da correlação de forças que irá prevalecer - avalia o cientista político da USP André Singer, que já foi secretário de Imprensa de Lula.
Na Câmara, os "nomes naturais" são Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O peemedebista já chegou até a ser anunciado como nome certo - e estratégico - pelo vice eleito, Michel Temer (PMDB), que será um articulador político, em paralelo à Casa Civil. No que depender de Vaccarezza, ex-líder do PT e atual líder do governo, o partido terá atuação discreta na Câmara:
- Não tem qualquer bandeira tradicional do PT que esteja em conflito com o governo - disse, logo defendendo a importância da base legislativa majoritária no presidencialismo brasileiro. - Nossa prioridade é dar sustentação política e social ao governo. Se o governo não tiver maioria, cai. A oposição reclama, mas entenderia isso se tivesse lastro democrático.
Costa segue a mesma trilha, cita a antiga vulnerabilidade do governo no Senado e garante que o PT não fará "imposições":
- O fato de o partido crescer não significa que ele vai impor sua agenda. Ele vai desenvolver um diálogo com o governo e com as demais forças que o compõem, tendo a exata noção de que se trata de uma coalizão. O crescimento da bancada, especialmente no Senado, vai ter um papel importante para a governabilidade. O Senado foi um espaço onde a oposição armou sua trincheira para fazer o combate ao governo Lula.

Dirceu fica de fora da equipe de Dilma, apesar do empenho com militância

 
O ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT) termina a corrida presidencial magoado. Mergulhou de cabeça para ajudar a campanha da presidente eleita Dilma Rousseff. Teve agenda de candidato para fazer negociações com partidos aliados e com o PT nos estados. Entende que teve papel na vitória da “camarada em armas” ao trabalhar para não desmotivar a militância na virada do primeiro para o segundo turno. Mas está fora de qualquer montagem do futuro governo.
Dirceu acabou identificado com o grupo de mensaleiros, aloprados e sanguessugas que se meteu em escândalos nos últimos oito anos e foi limado da possibilidade de contribuir para a administração Dilma Rousseff antes mesmo de as urnas serem fechadas. O ex-ministro, no entanto, é emblemático. Apesar de dizer que não quer participar, nutria um fundo de esperança de que seria um consultor informal, uma espécie de primeiro passo para reconstruir sua carreira política para além do PT. “Não posso, não quero e não devo”, declarou ontem, depois de votar em São Paulo.

Dirceu foi satanizado pelo PSDB durante a campanha e seus colegas não o defenderam dos ataques. Não conseguiu participar, mesmo informalmente, das discussões da cúpula da campanha. O ex-ministro foi acionado apenas por petistas do segundo escalão nos estados. Antes do processo eleitoral, foi um dos principais negociadores da aliança com o PMDB. Usou o jatinho do ex-deputado Vadão Gomes (PP-SP) para percorrer o país. Foram, pelo menos, 180 viagens entre 2008 e 2009.

Articulador incansável, Dirceu comemorou o sucesso da aliança dos dois partidos, mas foi jogado na sua conta também o fracasso da eleição de Minas Gerais, onde os governistas perderam todos os cargos de destaque. Achava que, sem o estado, o acordo não sairia. Uma parte dos petistas mineiros, liderada por Fernando Pimentel, entendia ser possível forçar a barra e ter duas candidaturas.

O ex-todo-poderoso do partido sabe que não tinha chances de ocupar um posto na futura administração, mas não gostou da maneira como foi descartado. José Dirceu virou sinônimo negativo na campanha. Sua imagem piorou. Agora, concentra-se em livrar-se do processo que corre contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF). Esse mesmo esforço será feito por outros petistas e militantes que também foram rejeitados para um futuro governo.

Faxina
O governo Lula passará o bastão a Dilma após uma faxina de mensaleiros ilustres. Sua sucessora não contará com figuras como Luiz Gushiken, que chefiou a toda-poderosa Secretaria de Comunicação do governo; José Genoino, o ex-presidente do PT que não conseguiu reeleger-se deputado; Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil; ou Professor Luizinho, o deputado que não conseguiu eleger-se vereador. Restará a esse grupo o trabalho de mobilização de militantes.

O ex-ministro da Casa Civil saiu duplamente derrotado: viu um desafeto político, o deputado Antonio Palocci (PT-SP), ganhar destaque ainda maior e tornar-se cotado para o governo.

Resta-lhe assistir, fora dos holofotes, à possível concretização de um desejo: o desenrolar de um governo mais petista do que o dos mandatos de Lula. Discursando para uma plateia amigável em setembro, o ex-ministro explicitou o que esperava de uma vitória da companheira que o sucedeu na Casa Civil. “A eleição da Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político. Dilma nos representa”, afirmou.

De fato, Dilma representa o PT, mas a presidente eleita quer ver Dirceu bem longe de seu governo. Ainda assim, depois de votar em São Paulo, o ex-todo-poderoso voou para Brasília a fim de comemorar a vitória da antiga companheira de luta.

OPOSIÇÃO PERDE FORÇA
>> Vinicius Sassine

A disputa foi dura e recheada de baixarias, num duelo que radicalizou a relação de contrariedade entre PT e PSDB. Nas urnas, a vantagem de votos foi pequena, numa eleição decidida em dois turnos. Uma terceira via, construída por Marina Silva (PV), promete ser oposição nos próximos anos. Mesmo assim, a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), terá pela frente uma oposição branda, sem diferenças significativas em relação à moderada oposição enfrentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dilma terá maioria absoluta no Congresso, uma coalizão mais ampla e não terá opositores históricos no Legislativo. Cientistas políticos ouvidos pelo Correio creditam a Lula mais esse mérito: o presidente incumbiu-se pessoalmente de derrotar lideranças especializadas em se opor ao PT. Sem Cesar Maia (DEM-RJ), Artur Virgílio (PSDB-AM), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Heráclito Fortes (DEM-PI), Mão Santa (PSC-PI) e Efraim Morais (DEM-PB) no Senado, Dilma terá menos resistência pela frente e mais governabilidade, acreditam os especialistas.

Se Lula não conseguiu conquistar maioria no Senado, o que lhe rendeu derrotas políticas e administrativas, como o fim da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), Dilma chegará com o apoio de mais de 50 senadores, entre os 81 com mandato a partir de 2011. Na Câmara, dos 513 eleitos em 3 de outubro, mais de 350 integrarão a base de apoio a Dilma.

A derrota de lideranças do PSDB e do DEM, adversários históricos do PT, foi acompanhada do encolhimento geral das duas siglas na Câmara e no Senado. As duas legendas terão 11 senadores e 35 deputados federais a menos a partir de 2011, uma redução significativa diante do avanço de partidos governistas nas duas Casas, como o próprio PT, o PSB e o PCdoB.

Composição
A oposição capitaneada pelo PSDB mantém a resistência nos maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais. Mas, para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), os governadores eleitos Geraldo Alckmin e Antonio Anastasia não serão radicais. “Dilma conseguirá compor com eles”, avaliou. O encolhimento do DEM e a possibilidade de a legenda se fundir a outro partido dão melhores condições ao governo de Dilma, segundo o professor do Instituto de Ciências Políticas da UnB Ricardo Caldas. “Quem poderia fazer uma oposição mais agressiva é o DEM, mas o partido está sem rumo.”

Mas depois da fervura do segundo turno, há quem aposte em dias difíceis para a nova presidente. “A Dilma vai criar uma crise permanente no Congresso e no governo. Ela é fraca, desequilibrada e suscetível a crises políticas, econômicas e de relacionamento”, atacou o deputado federal reeleito Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). “Vamos ser mais duros com ela do que fomos com Lula. Dilma é uma invenção, produto da vaidade do presidente.”

Tiago Pariz
Publicação: 01/11/2010 09:20

"Máquina pública foi usada para transformar Dilma", diz Guerra

01 de novembro de 2010 09h59 atualizado às 10h03
 

Em entrevista à Rádio CBN, na manhã desta segunda-feira (1º), o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, atribuiu a vitória da candidada do PT, Dilma Rousseff, a um uso irregular da máquina pública. "Enfrentamos uma estrutura muito maior que a nossa. A máquina pública foi usada para transformar Dilma Rousseff, uma pessoa desconhecida. Muitas vezes fomos à Justiça e algumas foram bem sucedidas", disse Guerra.
Embora tenha afirmado que Dilma foi eleita com ajuda do governo federal, o presidente do PSDB declarou: "Reconhecemos a vitória da candidata Dilma e temos ao longo deste processo que tomar nota das vantagens do lado positivo e lado negativo dos acontecimentos. A nossa regra foi não deixar de cumprir a lei, não transformar a campanha em uma batalha, em um conflito de personalidades".
Para Guerra, apesar de tudo, o PSDB fez uma campanha forte "que, no geral, tem o seguinte saldo: eleição de oito governadores". Ele se disse orgulhoso e enalteceu o desempenho de seu candidato, José Serra, afirmando que o tucano "fez uma campanha de altíssimo nível, imensa coragem e total determinação". "Acho que erros devem ter havido, vários, e podem acontecer em campanhas e poderiam ter sido evitados. Mas nada importante, tudo dentro do processo democrático", analisou Guerra.
Por fim, o presidente do PSDB revelou qual será a posição do partido daqui para frente: "Vamos fiscalizar o governo da Dilma e apoiar iniciativas que tenham responsabilidade pública. Vamos estar unidos, já que fizemos essa campanha unidos".

Ahmadinejad parabeniza Dilma por vitória e pede apoio do Brasil no cenário internacional

Publicada em 01/11/2010 às 12h38m
Agência Brasil
 
BRASÍLIA - O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, enviou nesta segunda-feira uma carta à presidente eleita Dilma Rousseff (PT) parabenizando-a pela vitória nas eleições. Segundo informações da Presidência do Irã, Ahmadinejad disse estar confiante no progresso e desenvolvimento do Brasil "em velocidade máxima" durante o governo de Dilma. Ahmadinejad afirmou ainda que confia que as relações entre o Irã e o Brasil serão intensificadas no próximo governo.
"Estou confiante de que o Brasil vai progredir e desenvolver, em velocidade máxima, durante seu mandato presidencial", afirmou Ahmadinejad na carta.
A notícia ganhou destaque na agência estatal de notícias do Irã, a Irna. Uma fotografia de Dilma ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ilustra a principal reportagem do site em inglês. O título da reportagem é "Presidente Mahmoud Ahmadinejad felicita Dilma Rousseff por ser a nova presidente do Brasil".
Na correspondência enviada à Dilma, o presidente iraniano afirmou estar confiante na ampliação das relações entre o Brasil e o Irã, assim como nos esforços pelo respeito às normas internacionais de Justiça, segurança e estabilidade.
Ahmadinejad não menciona os Estados Unidos, mas reclama dos "padrões duplos" utilizados por parte da comunidade internacional para analisar questões específicas. Ele se referiu ao programa nuclear iraniano, que é alvo de sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e unilateralmente de vários países. O tom da carta é de pedido de apoio ao Irã.
Para parte da comunidade internacional, há produção secreta de armas atômicas no Irã. Ahmadinejad e demais autoridades iranianas negam as acusações. O Brasil e a Turquia defenderam a adoção de um acordo para a troca de urânio como meio de encerrar o impasse em torno do programa nuclear. Mas a proposta não foi aceita pela comunidade internacional. As negociações serão retomadas na próxima semana, no dia 10.
A presidente eleita sinalizou que pretende manter a política externa adotada por Lula nos dois mandatos. É a chamada política de diversificação de parceiros.

Eleições 2010

Após a vitória

Dilma se reúne com aliados em Brasília para definir agenda para os próximos dias

Publicada em 01/11/2010 às 12h55m
Isabel Braga
 
BRASÍLIA - Um dia após se tornar a primeira mulher presidente do Brasil , Dilma Rousseff (PT) teve uma manhã agitada na sua casa em Brasília. Logo cedo, políticos aliados foram até o local para uma reunião em que, segundo o presidente do PT, José Eduardo Dutra, serão definidas a agenda de Dilma para esta segunda-feira e os próximos dias. Estiveram na casa da presidente eleita o deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o ex-ministro Patrus Ananias. Na sexta-feira, acontecerá a primeira reunião de governo, quando será traçada a transição do governo Lula para a futura administração Dilma.
- Ela (Dilma) vai discutir com tranquilidade. Tem total liberdade para formar sua equipe - afirmou o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo.
" Ela vai discutir com tranquilidade. Tem total liberdade para formar sua equipe "

( Confira o especial da era Lula )
( Qual deve ser a prioridade do governo Dilma? Vote )
( O que você gostaria de dizer para a próxima presidente? Mande sua mensagem )
( As promessas de Dilma )
Cotado para assumir o Ministério da Justiça, Cardozo negou que tenha recebido o convite. Ele disse estar muito feliz com a vitória do partido, mas lembrou que é preciso voltar ao trabalho "porque tem muito caminho pela frente". O secretário-geral do partido contou que foi "emocionante" o encontro entre Dilma e o presidente Lula na noite do domingo, no Palácio da Alvorada.
- O presidente Lula ficou muito feliz com a vitória. É também uma demonstração de sucesso de seu governo - disse.
Manhã dedicada para ligações para chefes de estado
Dilma dedicou a manhã para retornar as ligações que recebeu no domingo de chefes de estado . Ela já conversou com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e recebeu ligações de outros líderes da Europa, da América Latina e da Ásia.
" A comemoração foi ontem. Agora tem que trabalhar "

- Hoje ela só está ligando para os chefes de estado que ligaram ontem (no domingo) e ela não pôde atender. Está dando o retorno para eles - afirmou Dutra.
Questionado sobre se foi para a casa de Dilma continuar a comemoração pela vitória, Palocci disse:
- A comemoração foi ontem. Agora tem que trabalhar - disse o deputado, cotado para voltar ao Ministério .
Dutra considerou natural a fala do candidato derrotado, José Serra (PSDB), que disse que sua derrota não significou um adeus, "mas um até logo" . Segundo o presidente do PT, o tucano tinha que dar uma levantada na moral da sua base.
- Foi normal, natural. Se ele é oposição, mesmo derrotada, (a oposição) tem que dar uma emulada na sua base. Eu também fiz isso quando perdi eleição - afirmou.
Dutra disse que Serra ligou para Dilma ainda no domingo à noite. Como estava dando entrevista, a presidente eleita não atendeu o tucano, que conversou com Palocci. Mais tarde, quando já estava no Alvorada, Dilma conversou com Serra. Dutra disse que foi uma conversa normal, onde ocorreram cumprimentos protocolares. Dilma também conversou com a senadora Marina Silva (PV-AC), candidata derrotada no primeiro turno. Mas não foram divulgados detalhes da conversa com a ex-ministra do Meio Ambiente.
Perguntado se Dilma iria tirar uns dias de folga, o presidente do PT disse:
- Provavelmente, mas o que vamos discutir hoje (nesta segunda) é a agenda dela de hoje para frente - concluiu.
No primeiro pronunciamento após eleita, Dilma prometeu fazer um governo "para todos" sem perseguir adversários ou proteger amigos. Na avaliação de Cardozo, esse aceno feito à oposição é importante.
- Ela fez um aceno à oposição e continuará fazendo. É importante governar o país com unidade - afirmou.

Gaúchos comemoram eleição de Dilma, mas Serra vence no RS

01 de novembro de 2010 11h32 atualizado às 12h29
Os eleitores de Dilma Rousseff no Rio Grande do Sul comemoraram o resultado das urnas. Foto: Wilson Dias/ ABR/Divulgação Festa em Porto Alegre foi na avenida João Pessoa, em frente à sede municipal do PT
Foto: Wilson Dias/ ABR/Divulgação
 
Aproximadamente duas mil pessoas comemoraram em Porto Alegre a vitória de Dilma Rousseff (PT) para a eleição presidencial com uma festa na avenida João Pessoa, em frente à sede municipal do PT, na noite de domingo (31). De cima do carro de som, lideranças como o presidente estadual do partido, o deputado Raul Pont, o coordenador do comitê suprapartidário de Dilma no Rio Grande do Sul e prefeito da cidade de São Leopoldo, Ary Vanazzi (PT), e o ex-governador Olívio Dutra (PT), fizeram discursos inflamados, ressaltando a importância da vitória. Na rua, tomada pelas bandeiras petistas, a fumaça dos churrasquinhos e dos foguetes, os militantes lamentavam a ausência de alguns líderes ilustres, como o governador eleito, Tarso Genro (PT), que optou por acompanhar a apuração em Brasília. E desconhecia que, no Rio Grande do Sul, ao contrário do que aconteceu no primeiro turno, no segundo Dilma perdeu - por uma diferença apertada, é verdade - para José Serra (PSDB).
Totalizados os votos, no Estado onde a presidente eleita passou parte significativa da vida e consolidou sua trajetória na política, Serra fez no segundo turno 3.237.207 votos (50,94%) e Dilma 3.117.716 (49,06%). Em números absolutos, uma diferença de pouco mais de 100 mil votos em favor do tucano. No primeiro turno Dilma, com 3.007.263 votos, havia ficado com uma margem de 400 mil votos sobre Serra, que havia totalizado 2.600.389 votos. O resultado do segundo turno ficou bem aquém daquele que era aguardado por Tarso. Durante a campanha da segunda etapa da eleição, ele acreditava que Dilma iria, inclusive, ampliar a diferença. O PT gaúcho, que tem a pretensão não apenas de se fortalecer no cenário nacional como de emplacar alguns nomes para o ministério de Dilma, já tenta explicar a virada de Serra. Procura nos mapas as votações por cidades para apontar onde Dilma foi melhor e onde ela foi pior.
Em entrevista a Rádio Gaúcha na manhã desta segunda-feira (1), Tarso avaliou que talvez a petista não tenha obtido o voto do setor da agricultura familiar que votou nele no primeiro turno, mas é vinculado ao PP, uma vez que, no Rio Grande do Sul, o PP fechou com Serra e até promoveu alguns atos de campanha no segundo turno.
Segundo Pont, o partido entendia que como no primeiro turno a votação de Marina Silva (PV) havia sido significativa no Estado, os votos da senadora iriam se redistribuir entre Dilma e Serra no segundo, mas ressalva que isto pode não ter acontecido.
"Também houve um elemento forte, que foi o processo de preconceito, que deixou muita gente na dúvida. E pode ser também que tenhamos avaliado mal e feito uma campanha menor do que deveríamos", admite.
Do lado serrista, a avaliação é de que o ingresso da maior fatia do PMDB na campanha de Serra e a intensificação de agendas de tucanos e aliados no Estado foram fundamentais para a vitória. Candidatos derrotados na eleição para o governo e o Senado, os peemedebistas José Fogaça e Germano Rigotto abriram o voto para o tucano. Deputados peemedebistas como Osmar Terra, Darcísio Perondi e Alceu Moreira fizeram campanhas fortes em suas bases. "Lutamos pela virada porque havia 2,5 milhões de gaúchos que não haviam votado nem na Dilma e nem no Serra no primeiro turno", resume o coordenador do Movimento Suprapartidário Gaúchos com Serra, o deputado federal Germano Bonow (DEM).
Nos bastidores, tucanos gaúchos e seus aliados peemedebistas aproveitam para colocar "lenha na fogueira" dos adversários. "O PT aqui está enrolado com as disputas para compor o secretariado do Tarso, e acabou não dando a energia necessária para a campanha da Dilma", alfineta um peemedebista. Os petistas, por sua vez, dizem que a saída da governadora Yeda Crusius (PSDB) da disputa após o primeiro turno (ela, que tentava a reeleição, sempre ostentou altos índices de rejeição nas pesquisas), ajudou o tucano.
Para além das estocadas mútuas, é fato que Serra veio três vezes ao Rio Grande do Sul na campanha do segundo turno. Dilma veio uma. No dia 31, voltou para votar.