segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mesmo com prestígio, Silval não emplaca nome de Dilma


Um dos maiores cabos eleitorais da presidente eleita, Dilma Rousseff (PT) em Mato Grosso, o governador reeleito Silval Barbosa (PMDB), não conseguiu convencer os eleitores de seu próprio município a votar em sua candidata. Em Matupá, a pestista teve 3.244 votos (46,20%), ficando atrás do adversário José Serra (PSDB), que teve 3.778 (53,80%).
A derrota no município provocou revolta no coordenador estadual da campanha pró-Dilma no segundo turno, o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, que destacou que a cidade recebeu uma série de benefícios do governo federal. Além de Matupá, ele elencou como municípios que o decepcionaram Primavera do Leste e Sinop.
Silval saiu da Capital para ir votar em sua cidade e desembarcou em Matupá por volta das 8h30, acompanhado da primeira-dama Roseli Barbosa. Às 11h, ele foi votar na escola Antônio Ometo e depois atendeu a imprensa local. O governador também aproveitou a oportunidade para agradecer os votos que ele próprio recebeu no município.
Ele, que já foi prefeito de Matupá, contou com o apoio maciço dos eleitores do município para se emplacar como governador. No dia 3 de outubro, recebeu 5.840 votos (82,7%) e mostrou que tem prestígio não só na cidade, mas com os prefeitos de todo o Estado. No primeiro grande ato pró-Dilma, ainda sob sua coordenação, Silval reuniu quase 120 gestores municipais num encontro com o então candidato à vice-presidência, Michel Temer (PMDB). Contudo, o bom relacionamento político não se reverteu em votos para a petista, que no Estado, recebeu 729.747 votos (48,89%), ficando 33.158 votos atrás de Serra, com 762.905 (51,11%).

Desafios para a presidente Dilma Rousseff

 

 Celebramos alegremente a vitória de Dilma Rousseff.

E não deixamos de folgar também pela derrota de José Serra que não mereceu ganhar esta eleição dado o nivel indecente de sua campanha, embora os excessos tenham ocorrido nos dois lados.

Os bispos conservadores que, à revelia da CNBB, se colocaram fora do jogo democrático e que manipularam a questão da descriminalização do aborto, mobilizando até o Papa em Roma, bem como os pastores evangélicos raivosamente partidizados, sairam desmoralizados.

Post festum, cabe uma reflexão distanciada do que poderá ser o governo de Dilma Rousseff.
Esposamos a tese daqueles analistas que viram no governo Lula uma transição de paradigma: de um Estado privatizante, inspirado nos dogmas neoliberais para um Estado republicano que colocou o social em seu centro para atender as demandas da população mais destituida.

Toda transição possui um lado de continuidade e outro de ruptura.

A continuidade foi a manutenção do projeto macroeconômico para fornecer a base para a estabilidade política e exorcizar os fantasmas do sistema.

E a ruptura foi a inauguração de substantivas políticas sociais destinadas à integração de milhões de brasileiros pobres, bem representadas pela Bolsa Familia entre outras.

Não se pode negar que, em parte, esta transição ocorreu pois, efetivamente, Lula incluiu socialmente uma França inteira dentro de uma situação de decência. Mas desde o começo, analistas apontavam a inadequação entre projeto econômico e o projeto social. Enquanto aquele recebe do Estado alguns bilhões de reais por ano, em forma de juros, este, o social, tem que se contentar com bem menos.

Não obtante esta disparidade, o fosso entre ricos e pobres diminuiu o que granjeou para Lula extraordinária aceitação.

Agora se coloca a questão: a Presidente aprofundará a transição, deslocando o acento em favor do social onde estão as maiorias ou manterá a equação que preserva o econômico, de viés monetarista, com as contradições denunciadas pelos movimentos sociais e pelo melhor da inteligentzia brasileira?

Estimo que, Dilma deu sinais de que vai se vergar para o lado do social-popular. Mas alguns problemas novos como aquecimento global devem ser impreterivelmente enfrentados. Vejo que a novel Presidente compreendeu a relevância da agenda ambiental, introduzida pela candidata Marina Silva.

O PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento) deve incorporar a nova consciência de que não seria responsável continuar as obras desconsiderando estes novos dados. E ainda no horizonte se anuncia nova crise econômica, pois os EUA resolveram exportar sua crise, desvalorizando o dólar e nos prejudicando sensivelmente.

Dilma Rousseff marcará seu governo com identidade própria se realizar mais fortemente a agenda que elegeu Lula: a ética e as reformas estruturais. A ética somente será resgatada se houver total transparência nas práticas políticas e não se repita a mercantilização das relações partidárias(“mensalão”).

As reformas estruturais é a dívida que o governo Lula nos deixou. Não teve condições, por falta de base parlamentar segura, de fazer nenhuma das reformas prometidas: a política, a fiscal e a agrária. Se quiser resgatar o perfil originário do PT, Dilma deverá implementar uma reforma política. Será dificil, devido os interesses corporativos dos partidos, em grande parte, vazios de ideologia e famintos de benefícios.

A reforma fiscal deve estabelecer uma equidade mínima entre os contribuintes, pois até agora poupava os ricos e onerava pesadamente os assalariados. A reforma agrária não é satisfeita apenas com assentamentos. Deve ser integral e popular levando democracia para o campo e aliviando a favelização das cidades.

Estimo que o mais importante é o salto de consciência que a Presidente deve dar, caso tomar a sério as consequências funestas e até letais da situação mudada da Terra em crise sócio-ecológica.

O Brasil será chave na adaptação e no mitigamento pelo fato de deter os principais fatores ecológicos que podem equilibrar o sistema-Terra. Ele poderá ser a primeira potência mundial nos trópicos, não imperial mas cordial e corresponsável pelo destino comum.

Esse pacote de questões constitui um desafio da maior gravidade, que a novel Presidente irá enfrentar. Ela possui competência e coragem para estar à altura destes reptos. Que não lhe falte a iluminação e a força do Espírito Criador.

Leonardo Boff escreveu com Rose Marie Muraro,Feminino e Masculino (Record) 2002.

Aécio e Marina lideram apostas para 2014

Assim como os dois, há outras lideranças mais jovens que aproveitaram a eleição deste ano para se consolidar

01 de novembro de 2010 | 0h 00
 
 
Marcelo de Moraes - O Estado de S.Paulo
Com a eleição presidencial polarizada pela petista Dilma Rousseff e pelo tucano José Serra, uma corrida política paralela foi deflagrada para garantir posições vantajosas na disputa de 2014. Assim, projetos nacionais de poder já foram incubados em várias disputas regionais.
Andre Dusek/AE
Andre Dusek/AE
Desempenho. Eleito senador, Aécio ainda emplacou Anastasia e garantiu vaga para Itamar
Alguns desses movimentos foram bem claros. É o caso do ex-governador mineiro Aécio Neves (PSDB) e da senadora Marina Silva (PV-AC). Mas há outros nomes desde já de olho na disputa de 2014: os governadores eleitos de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do Paraná, Beto Richa (PSDB), além dos governadores reeleitos de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB).
Assim como Marina e Aécio, todos representam lideranças mais jovens que aproveitaram a eleição para se consolidar e ocupar papel de destaque no cenário político nacional.
Aécio, de 50 anos, ganhou tudo em Minas. Foi eleito senador com votação expressiva, emplacou o sucessor Antônio Anastasia (PSDB) no governo e garantiu a vaga de senador para o ex-presidente Itamar Franco (PPS), derrotando na mesma eleição o ex-ministro Hélio Costa (PMDB), e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT). O resultado credencia o tucano como melhor aposta do PSDB para a sucessão presidencial daqui a quatro anos.
Marina Silva, de 52 anos, é nome consolidado para 2014. Credenciada por quase 20 milhões de votos no primeiro turno, mesmo contando com uma estrutura mínima de campanha e quase nenhum tempo de propaganda na televisão, ela se tornou a maior surpresa da corrida presidencial deste ano. Sua campanha bem sucedida formou uma base bastante sólida para a próxima eleição.
Geração. Eduardo Campos, de 44 anos, lidera o projeto nacional do PSB, que ampliou bastante sua representação no País. Cabral, de 47 anos, também se consolidou como maior liderança do Rio, deixando para trás grupos importantes representados pelo ex-prefeito Cesar Maia (DEM) e pelo ex-governador Anthony Garotinho (PR). Passa a ser mais importante ainda se o PMDB decidir bancar um projeto de candidatura presidencial descolado da parceria com o PT.
Entre os tucanos, Alckmin, de 57 anos, dá a volta por cima na sua trajetória política com a eleição para o governo de São Paulo.
Comandando o Estado mais populoso do País, passa a ter importância política para planejar uma nova campanha para o Palácio do Planalto, depois de ter sido batido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006.
Beto Richa, de 44 anos, saiu da Prefeitura de Curitiba para o comando do governo do Paraná, derrotando o senador Osmar Dias (PDT), que tinha o apoio de Lula e do governador Roberto Requião (PMDB). Os dois tucanos, no entanto, precisariam antes superar o bom momento de Aécio dentro do partido.
Na prática, a transição entre as disputas de 2010 e 2014 representa uma espécie de troca de gerações na política brasileira. Depois de dois mandatos, Lula deixará o governo com 65 anos. Pode até tentar um novo mandato em 2014, mas já estará perto dos 70 anos. Os dois principais candidatos à sua sucessão também passaram dos 60 anos. José Serra tem 68 anos e Dilma está com 62 anos. Eleita, é candidata quase certa à reeleição.
Há ainda o caso do deputado Ciro Gomes, de 52 anos, que sonhava com sua terceira campanha presidencial, mas viu o plano ser barrado pela direção do PSB e pelo próprio Lula e não disputou nenhum cargo este ano.
Projetos regionais. Um bom resultado nas eleições, entretanto, não garante o sucesso dessas incubadoras políticas. O principal problema é que, tradicionalmente, a maioria dos partidos não desenvolve projetos de poder em nível nacional. Preferem concentrar suas atenções nas disputas regionais onde possuem lideranças expressivas.
Ciro Gomes experimentou na pele a situação este ano. O PSB preferiu investir na parceria nacional com o PT em torno da candidatura de Dilma e ganhar o apoio petista em campanhas estaduais consideradas estratégicas pelo partido. Em troca, o PT decidiu abrir mão de candidaturas em locais importantes, como Ceará, Pernambuco e Espírito Santo, por exemplo. A estratégia garantiu a vitória do PSB nesses três Estados já no primeiro turno.
Essa falta de interesse dos maiores partidos em ter candidatos na eleição para o Palácio do Planalto fica clara na atual disputa. Entre os partidos com representação expressiva dentro do Congresso, apenas PT, PSDB, PV e PSOL bancaram candidaturas majoritárias - outras cinco legendas pequenas também participaram da disputa.
O PMDB é o principal exemplo desse tipo de comportamento. Apesar de ser líder em número de parlamentares dentro do Congresso e sempre ter número expressivo de governadores, não lança um candidato à Presidência desde 1994, quando Orestes Quércia terminou em quarto lugar. Depois disso, passou a se concentrar com sucesso nas disputas estaduais e, agora, chega à Vice-Presidência da República.
NOVA GERAÇÃO
Aécio Neves (PSDB-MG)
O ex-governador mineiro é considerado nome certo para disputar a eleição presidencial daqui a quatro anos. Sai fortalecido ao se eleger senador, emplacar Antônio Anastasia (PSDB) como sucessor no governo de seu Estado e garantir a vitória de Itamar Franco (PPS) para a segunda vaga no Senado por Minas
Beto Richa (PSDB-PR)
Depois de ganhar duas eleições seguidas para a Prefeitura de Curitiba, chegou ao governo do Paraná e ganha relevância dentro do PSDB
Eduardo Campos (PSB-PE)
Novamente vitorioso, o governador de Pernambuco deve deflagrar em 2014 o projeto de candidatura própria do PSB ao governo federal
Geraldo Alckmin (PSDB-SP)
Chegou a disputar o segundo turno presidencial contra Lula em 2006, mas perdeu espaço. Com a nova eleição para o governo de São Paulo, recupera terreno político e pode ser opção para o Planalto, mas numa escala abaixo de Aécio
Marina Silva (PV-AC)
Participante da disputa pela Presidência, Marina foi a sensação da reta final do primeiro turno eleitoral. Com quase 20 milhões de votos, aproveitou a atual campanha para construir bases sólidas para uma candidatura competitiva daqui a quatro anos
Sérgio Cabral (PMDB-RJ)
Reeleito, será o governador dos preparativos para a Copa de 2014 (a final será disputada no Rio) e da Olimpíada de 2016. Pode entrar no jogo nacional de 2014 se o PMDB resolver investir em candidatura própria

Dilma ganha em quatro cidades do Grande ABC

Sérgio Vieira
Do Diário do Grande ABC

A petista Dilma Rousseff também garantiu a vitória no Grande ABC. Ela ganhou do tucano José Serra em quatro cidades: São Bernardo, Diadema, Mauá e Rio Grande da Serra. O ex-governador de São Paulo ficou na frente em Santo André, São Caetano e Ribeirão Pires.
A maior vantagem da ex-ministra da Casa Civil na região ocorreu em Diadema. Na cidade comandada pelo correligionário Mário Reali, Dilma obteve 66,46% dos votos (160.238), ante 33,54% (80.874). Por outro lado, foi São Caetano que deu a mais larga vitória a Serra na região. Na cidade chefiada pelo aliado José Auricchio Júnior (PTB), o tucano ficou com 68,97% dos votos (62.329), contra 31,03% (28.038) de Dilma.
No primeiro turno, ela só havia perdido justamente no município dirigido por Auricchio. Mudaram de lado na segunda etapa e deram vitória a Serra os eleitores de Santo André e Ribeirão Pires.
A disputa mais apertada foi em Santo André, com 51,2% (207.663) para Serra e 48,8% (197.936) para Dilma.
Em números absolutos, Dilma conquistou 796.993 votos nas sete cidades do Grande ABC, contra 677.566 de José Serra, uma diferença de 119.427 votos.

Petista vence em 15 estados e no Distrito Federal

Em número de Estados, a vitória de Dilma Rousseff ontem foi menor do que a obtida no primeiro turno. No dia 3, a petista sagrou-se vencedora em 18 unidades da Federação, enquanto que agora ela terminou na frente em 15 Estados mais o Distrito Federal.
A maior diferença da petista ante o adversário tucano José Serra foi no Amazonas, onde ela teve 80,6% dos votos, contra 19,4% do ex-governador de São Paulo. Logo depois vem Maranhão (79,1% para Dilma e 20,9% para Serra) e Pernambuco (75,6%, contra 24,4%). São Estados que têm justamente dois aliados de primeira hora da petista: o presidente do Senado, José Sarney (PMDB), e o governador Eduardo Campos (PSB), respectivamente.
O senador eleito Aécio Neves (PSDB) não conseguiu cumprir a promessa de dar a José Serra a vitória no Estado. Dilma obteve dos mineiros 58,5% dos votos, contra 41,5% do tucano. Em contrapartida, a ex-ministra da Casa Civil viu seu avdersário virar o jogo no Rio Grande do Sul, que terá como governador o petista Tarso Genro. Entre os gaúchos, Serra obteteve 51% dos votos, ante 49% de Dilma. No primeiro turno, ela venceu no Estado.
UNÂNIME - Dilma conseguiu a unanimidade entre os nove estados da região Nordeste, motivados, principalmente pela alta aprovação de seu padrinho político, o presidente Lula, e pelo grande número de moradores que recebem o Bolsa Família. Além de Maranhão e Pernambuco, ela venceu em Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Serra também teve sua unanimidade: venceu nos três Estados do Sul.
O Distrito Federal, única localidade em que Marina Silva (PV) saiu vitoriosa no segundo turno, desta vez escolheu Dilma. Na região que voltará a ser comandada pelo PT - com vitória de Agnelo Queiroz -, a nova presidente obteve 52,8%, contra 47,2% de Serra.
Além do Rio Grande do Sul, Dilma também amargou derrota em Goiás, outro Estado em que venceu no primeiro turno.

Dilma vai precisar costurar coalizão, diz cientista político

Agência Brasil
Publicação: 01/11/2010 11:20

Brasília - A presidente eleita Dilma Rousseff "vai ter mais facilidade para governar" do que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, porque vai contar com maioria no Congresso Nacional, avalia o professor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília, David Fleischer. "A oposição dessa forma será menos radical."

A sucessora de Lula precisa contar com três quintos dos votos, em cada Casa, para aprovar mudanças de ordem constitucional, por exemplo. Fleischer destacou que Dilma vai contar com o apoio de 60% dos parlamentares no Congresso, que é o percentual previsto para a sua base aliada. Ele lembra que a presidente, no entanto, "vai ter que costurar sua coalizão, porque terá no seu governo mais parceiros para dividir o bolo".

O crescimento do PSB e o fortalecimento do PMDB, por ser o partido do futuro vice-presidente da República, Michel Temer, são questões que "terão que ser administradas no próximo governo”, na avaliação do cientista político. “Eles vão querer uma fatia maior do bolo e isso vai demandar negociações, por isso ela (Dilma Rousseff) terá que gerenciar bem essa questão."

O professor destacou que o presidente Lula "conseguiu enfraquecer a oposição" nas eleições deste ano, com a derrota de importantes figuras políticas como Tasso Jereissati (PSDB), Arthur Virgílio (PSDB), Heráclito Fortes (DEM) e Marco Maciel (DEM).

A nova situação partidária da oposição, de acordo com David Fleischer, poderá motivar a fusão do PSDB com o DEM ou a criação de legenda.

Sem Lula, era Dilma terá nova relação governo-PT

Publicada em 01/11/2010 às 09h04m
Leila Suwwan


SÃO PAULO - Ao mesmo tempo em que vive seu auge, com a eleição de Dilma Rousseff e de bancadas históricas no Congresso, o Partido dos Trabalhadores tem à frente o desafio de equilibrar sua força política com as exigências da governabilidade balizada pelo aliado PMDB. Dessa forma, bandeiras ideológicas do PT - do controle social da mídia à legalização do aborto - poderão ter de ficar restritas à mobilização social e partidária, poupando o futuro governo de desgastes. Para isso, o partido se prepara para exercitar sua musculatura, na era pós-Lula, pelo Legislativo, sem "imposições programáticas". Na opinião do vice-presidente do partido, Humberto Costa (PE), o resultado das urnas é uma demonstração de que o PT já não vive mais à sombra de Lula e conseguiu amadurecer para não ficar à sombra também da máquina administrativa federal.
- O PT aprendeu com os erros e conseguiu separar o que é o papel do partido e o que é o papel do governo - disse Costa às vésperas da eleição. - O partido também avançou muito no seu papel questionador, e acredito que esses avanços vão ajudar no governo Dilma. O PT vai ter uma função muito mais evoluída no próximo governo porque sabe hoje como deve atuar.
Dilma já decretara que bandeiras históricas do PT serão assunto da sociedade civil organizada. Na campanha, repetia: "Movimento é movimento, sindicato é sindicato, e governo é governo." Na trincheira de governo, para auxiliar nessa separação, estarão Antonio Palocci, cotado para a Casa Civil, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, nome certo no primeiro escalão. Entre as batalhas que o PT tentará travar em paralelo estão a redução da jornada de trabalho, a descriminalização do aborto, a taxação de grandes fortunas e a audiência prévia à reintegração de terras invadidas.
Usada em tom de ameaça pela oposição, essa nova relevância programática do PT foi um trunfo pouco alardeado internamente, em parte para evitar temores sobre as "imposições" que o partido poderia fazer a Dilma. Em setembro, o deputado cassado José Dirceu (PT-SP) sintetizou a petroleiros:
- Depois do pós, o 1º de janeiro, a força do partido e sua presença se expressam muito pela participação na vida política do país. Um partido com 30% de votos não pode ser desprezado por nenhum presidente. Temos que chegar para discutir com propostas. Tem uma disputa contra nós na comunicação - disse, sem saber da presença da imprensa. - A eleição da Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político, porque a Dilma nos representa.
Dirceu, forte articulador do PT, elegeu o filho Zeca para a Câmara e aguarda apenas o julgamento do mensalão no STF para retomar uma vida política mais ativa. Sua volta ao Executivo é improvável, mas jamais foi descartada. O discurso de Dilma é igual ao dele: não existe pena de "banimento".
A disputa que ele mencionou, com o acirramento e escândalos de campanha, fortaleceu os aliados moderados.
- É Dilma quem dará o ritmo, o perfil e a coloração da prática política do governo. Não há temor (de excessos) do PT. Eles já têm a Presidência, uma vantagem imensa. Para o PMDB, é fundamental a boa convivência na coalizão, especialmente saindo de uma campanha tão violenta - diz Moreira Franco (PMDB), um dos coordenadores do programa de governo, que acabou ficando na gaveta.
Porém, o documento final eliminou as propostas polêmicas do PT e serviu de "embrião" para "pesos e balanços" entre os aliados. Muito atacada na campanha do segundo turno por causa do tema "aborto", Dilma - que acabou prometendo não propor ou sancionar leis que impactem a religião - ainda lançou um programa de governo genérico, sem citar a questão.
- Temos buscado o consenso mínimo, o entendimento. A blindagem, o isolamento e a soberba não servem para construir uma aliança sólida - afirma Moreira Franco.
A primeira grande prova de força do PT será a queda de braço com o PMDB pelas presidências da Câmara e do Senado, em fevereiro. Dela sairão também as relações da "governabilidade" de Dilma. O PT saiu das eleições deste ano como o partido com mais deputados na Câmara. No Senado, conseguiu a maior bancada de sua história.
- O PT vai ter uma importância relativa maior na escolha das mesas em fevereiro, o que será um termômetro da correlação de forças que irá prevalecer - avalia o cientista político da USP André Singer, que já foi secretário de Imprensa de Lula.
Na Câmara, os "nomes naturais" são Cândido Vaccarezza (PT-SP) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). O peemedebista já chegou até a ser anunciado como nome certo - e estratégico - pelo vice eleito, Michel Temer (PMDB), que será um articulador político, em paralelo à Casa Civil. No que depender de Vaccarezza, ex-líder do PT e atual líder do governo, o partido terá atuação discreta na Câmara:
- Não tem qualquer bandeira tradicional do PT que esteja em conflito com o governo - disse, logo defendendo a importância da base legislativa majoritária no presidencialismo brasileiro. - Nossa prioridade é dar sustentação política e social ao governo. Se o governo não tiver maioria, cai. A oposição reclama, mas entenderia isso se tivesse lastro democrático.
Costa segue a mesma trilha, cita a antiga vulnerabilidade do governo no Senado e garante que o PT não fará "imposições":
- O fato de o partido crescer não significa que ele vai impor sua agenda. Ele vai desenvolver um diálogo com o governo e com as demais forças que o compõem, tendo a exata noção de que se trata de uma coalizão. O crescimento da bancada, especialmente no Senado, vai ter um papel importante para a governabilidade. O Senado foi um espaço onde a oposição armou sua trincheira para fazer o combate ao governo Lula.

Dirceu fica de fora da equipe de Dilma, apesar do empenho com militância

 
O ex-ministro e deputado cassado José Dirceu (PT) termina a corrida presidencial magoado. Mergulhou de cabeça para ajudar a campanha da presidente eleita Dilma Rousseff. Teve agenda de candidato para fazer negociações com partidos aliados e com o PT nos estados. Entende que teve papel na vitória da “camarada em armas” ao trabalhar para não desmotivar a militância na virada do primeiro para o segundo turno. Mas está fora de qualquer montagem do futuro governo.
Dirceu acabou identificado com o grupo de mensaleiros, aloprados e sanguessugas que se meteu em escândalos nos últimos oito anos e foi limado da possibilidade de contribuir para a administração Dilma Rousseff antes mesmo de as urnas serem fechadas. O ex-ministro, no entanto, é emblemático. Apesar de dizer que não quer participar, nutria um fundo de esperança de que seria um consultor informal, uma espécie de primeiro passo para reconstruir sua carreira política para além do PT. “Não posso, não quero e não devo”, declarou ontem, depois de votar em São Paulo.

Dirceu foi satanizado pelo PSDB durante a campanha e seus colegas não o defenderam dos ataques. Não conseguiu participar, mesmo informalmente, das discussões da cúpula da campanha. O ex-ministro foi acionado apenas por petistas do segundo escalão nos estados. Antes do processo eleitoral, foi um dos principais negociadores da aliança com o PMDB. Usou o jatinho do ex-deputado Vadão Gomes (PP-SP) para percorrer o país. Foram, pelo menos, 180 viagens entre 2008 e 2009.

Articulador incansável, Dirceu comemorou o sucesso da aliança dos dois partidos, mas foi jogado na sua conta também o fracasso da eleição de Minas Gerais, onde os governistas perderam todos os cargos de destaque. Achava que, sem o estado, o acordo não sairia. Uma parte dos petistas mineiros, liderada por Fernando Pimentel, entendia ser possível forçar a barra e ter duas candidaturas.

O ex-todo-poderoso do partido sabe que não tinha chances de ocupar um posto na futura administração, mas não gostou da maneira como foi descartado. José Dirceu virou sinônimo negativo na campanha. Sua imagem piorou. Agora, concentra-se em livrar-se do processo que corre contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF). Esse mesmo esforço será feito por outros petistas e militantes que também foram rejeitados para um futuro governo.

Faxina
O governo Lula passará o bastão a Dilma após uma faxina de mensaleiros ilustres. Sua sucessora não contará com figuras como Luiz Gushiken, que chefiou a toda-poderosa Secretaria de Comunicação do governo; José Genoino, o ex-presidente do PT que não conseguiu reeleger-se deputado; Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil; ou Professor Luizinho, o deputado que não conseguiu eleger-se vereador. Restará a esse grupo o trabalho de mobilização de militantes.

O ex-ministro da Casa Civil saiu duplamente derrotado: viu um desafeto político, o deputado Antonio Palocci (PT-SP), ganhar destaque ainda maior e tornar-se cotado para o governo.

Resta-lhe assistir, fora dos holofotes, à possível concretização de um desejo: o desenrolar de um governo mais petista do que o dos mandatos de Lula. Discursando para uma plateia amigável em setembro, o ex-ministro explicitou o que esperava de uma vitória da companheira que o sucedeu na Casa Civil. “A eleição da Dilma é mais importante do que a do Lula, porque é a eleição do projeto político. Dilma nos representa”, afirmou.

De fato, Dilma representa o PT, mas a presidente eleita quer ver Dirceu bem longe de seu governo. Ainda assim, depois de votar em São Paulo, o ex-todo-poderoso voou para Brasília a fim de comemorar a vitória da antiga companheira de luta.

OPOSIÇÃO PERDE FORÇA
>> Vinicius Sassine

A disputa foi dura e recheada de baixarias, num duelo que radicalizou a relação de contrariedade entre PT e PSDB. Nas urnas, a vantagem de votos foi pequena, numa eleição decidida em dois turnos. Uma terceira via, construída por Marina Silva (PV), promete ser oposição nos próximos anos. Mesmo assim, a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), terá pela frente uma oposição branda, sem diferenças significativas em relação à moderada oposição enfrentada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Dilma terá maioria absoluta no Congresso, uma coalizão mais ampla e não terá opositores históricos no Legislativo. Cientistas políticos ouvidos pelo Correio creditam a Lula mais esse mérito: o presidente incumbiu-se pessoalmente de derrotar lideranças especializadas em se opor ao PT. Sem Cesar Maia (DEM-RJ), Artur Virgílio (PSDB-AM), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Heráclito Fortes (DEM-PI), Mão Santa (PSC-PI) e Efraim Morais (DEM-PB) no Senado, Dilma terá menos resistência pela frente e mais governabilidade, acreditam os especialistas.

Se Lula não conseguiu conquistar maioria no Senado, o que lhe rendeu derrotas políticas e administrativas, como o fim da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), Dilma chegará com o apoio de mais de 50 senadores, entre os 81 com mandato a partir de 2011. Na Câmara, dos 513 eleitos em 3 de outubro, mais de 350 integrarão a base de apoio a Dilma.

A derrota de lideranças do PSDB e do DEM, adversários históricos do PT, foi acompanhada do encolhimento geral das duas siglas na Câmara e no Senado. As duas legendas terão 11 senadores e 35 deputados federais a menos a partir de 2011, uma redução significativa diante do avanço de partidos governistas nas duas Casas, como o próprio PT, o PSB e o PCdoB.

Composição
A oposição capitaneada pelo PSDB mantém a resistência nos maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Minas Gerais. Mas, para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), os governadores eleitos Geraldo Alckmin e Antonio Anastasia não serão radicais. “Dilma conseguirá compor com eles”, avaliou. O encolhimento do DEM e a possibilidade de a legenda se fundir a outro partido dão melhores condições ao governo de Dilma, segundo o professor do Instituto de Ciências Políticas da UnB Ricardo Caldas. “Quem poderia fazer uma oposição mais agressiva é o DEM, mas o partido está sem rumo.”

Mas depois da fervura do segundo turno, há quem aposte em dias difíceis para a nova presidente. “A Dilma vai criar uma crise permanente no Congresso e no governo. Ela é fraca, desequilibrada e suscetível a crises políticas, econômicas e de relacionamento”, atacou o deputado federal reeleito Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR). “Vamos ser mais duros com ela do que fomos com Lula. Dilma é uma invenção, produto da vaidade do presidente.”

Tiago Pariz
Publicação: 01/11/2010 09:20

"Máquina pública foi usada para transformar Dilma", diz Guerra

01 de novembro de 2010 09h59 atualizado às 10h03
 

Em entrevista à Rádio CBN, na manhã desta segunda-feira (1º), o presidente do PSDB, Sérgio Guerra, atribuiu a vitória da candidada do PT, Dilma Rousseff, a um uso irregular da máquina pública. "Enfrentamos uma estrutura muito maior que a nossa. A máquina pública foi usada para transformar Dilma Rousseff, uma pessoa desconhecida. Muitas vezes fomos à Justiça e algumas foram bem sucedidas", disse Guerra.
Embora tenha afirmado que Dilma foi eleita com ajuda do governo federal, o presidente do PSDB declarou: "Reconhecemos a vitória da candidata Dilma e temos ao longo deste processo que tomar nota das vantagens do lado positivo e lado negativo dos acontecimentos. A nossa regra foi não deixar de cumprir a lei, não transformar a campanha em uma batalha, em um conflito de personalidades".
Para Guerra, apesar de tudo, o PSDB fez uma campanha forte "que, no geral, tem o seguinte saldo: eleição de oito governadores". Ele se disse orgulhoso e enalteceu o desempenho de seu candidato, José Serra, afirmando que o tucano "fez uma campanha de altíssimo nível, imensa coragem e total determinação". "Acho que erros devem ter havido, vários, e podem acontecer em campanhas e poderiam ter sido evitados. Mas nada importante, tudo dentro do processo democrático", analisou Guerra.
Por fim, o presidente do PSDB revelou qual será a posição do partido daqui para frente: "Vamos fiscalizar o governo da Dilma e apoiar iniciativas que tenham responsabilidade pública. Vamos estar unidos, já que fizemos essa campanha unidos".

Ahmadinejad parabeniza Dilma por vitória e pede apoio do Brasil no cenário internacional

Publicada em 01/11/2010 às 12h38m
Agência Brasil
 
BRASÍLIA - O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, enviou nesta segunda-feira uma carta à presidente eleita Dilma Rousseff (PT) parabenizando-a pela vitória nas eleições. Segundo informações da Presidência do Irã, Ahmadinejad disse estar confiante no progresso e desenvolvimento do Brasil "em velocidade máxima" durante o governo de Dilma. Ahmadinejad afirmou ainda que confia que as relações entre o Irã e o Brasil serão intensificadas no próximo governo.
"Estou confiante de que o Brasil vai progredir e desenvolver, em velocidade máxima, durante seu mandato presidencial", afirmou Ahmadinejad na carta.
A notícia ganhou destaque na agência estatal de notícias do Irã, a Irna. Uma fotografia de Dilma ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ilustra a principal reportagem do site em inglês. O título da reportagem é "Presidente Mahmoud Ahmadinejad felicita Dilma Rousseff por ser a nova presidente do Brasil".
Na correspondência enviada à Dilma, o presidente iraniano afirmou estar confiante na ampliação das relações entre o Brasil e o Irã, assim como nos esforços pelo respeito às normas internacionais de Justiça, segurança e estabilidade.
Ahmadinejad não menciona os Estados Unidos, mas reclama dos "padrões duplos" utilizados por parte da comunidade internacional para analisar questões específicas. Ele se referiu ao programa nuclear iraniano, que é alvo de sanções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e unilateralmente de vários países. O tom da carta é de pedido de apoio ao Irã.
Para parte da comunidade internacional, há produção secreta de armas atômicas no Irã. Ahmadinejad e demais autoridades iranianas negam as acusações. O Brasil e a Turquia defenderam a adoção de um acordo para a troca de urânio como meio de encerrar o impasse em torno do programa nuclear. Mas a proposta não foi aceita pela comunidade internacional. As negociações serão retomadas na próxima semana, no dia 10.
A presidente eleita sinalizou que pretende manter a política externa adotada por Lula nos dois mandatos. É a chamada política de diversificação de parceiros.

Eleições 2010

Após a vitória

Dilma se reúne com aliados em Brasília para definir agenda para os próximos dias

Publicada em 01/11/2010 às 12h55m
Isabel Braga
 
BRASÍLIA - Um dia após se tornar a primeira mulher presidente do Brasil , Dilma Rousseff (PT) teve uma manhã agitada na sua casa em Brasília. Logo cedo, políticos aliados foram até o local para uma reunião em que, segundo o presidente do PT, José Eduardo Dutra, serão definidas a agenda de Dilma para esta segunda-feira e os próximos dias. Estiveram na casa da presidente eleita o deputado federal e ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o ex-ministro Patrus Ananias. Na sexta-feira, acontecerá a primeira reunião de governo, quando será traçada a transição do governo Lula para a futura administração Dilma.
- Ela (Dilma) vai discutir com tranquilidade. Tem total liberdade para formar sua equipe - afirmou o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo.
" Ela vai discutir com tranquilidade. Tem total liberdade para formar sua equipe "

( Confira o especial da era Lula )
( Qual deve ser a prioridade do governo Dilma? Vote )
( O que você gostaria de dizer para a próxima presidente? Mande sua mensagem )
( As promessas de Dilma )
Cotado para assumir o Ministério da Justiça, Cardozo negou que tenha recebido o convite. Ele disse estar muito feliz com a vitória do partido, mas lembrou que é preciso voltar ao trabalho "porque tem muito caminho pela frente". O secretário-geral do partido contou que foi "emocionante" o encontro entre Dilma e o presidente Lula na noite do domingo, no Palácio da Alvorada.
- O presidente Lula ficou muito feliz com a vitória. É também uma demonstração de sucesso de seu governo - disse.
Manhã dedicada para ligações para chefes de estado
Dilma dedicou a manhã para retornar as ligações que recebeu no domingo de chefes de estado . Ela já conversou com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e recebeu ligações de outros líderes da Europa, da América Latina e da Ásia.
" A comemoração foi ontem. Agora tem que trabalhar "

- Hoje ela só está ligando para os chefes de estado que ligaram ontem (no domingo) e ela não pôde atender. Está dando o retorno para eles - afirmou Dutra.
Questionado sobre se foi para a casa de Dilma continuar a comemoração pela vitória, Palocci disse:
- A comemoração foi ontem. Agora tem que trabalhar - disse o deputado, cotado para voltar ao Ministério .
Dutra considerou natural a fala do candidato derrotado, José Serra (PSDB), que disse que sua derrota não significou um adeus, "mas um até logo" . Segundo o presidente do PT, o tucano tinha que dar uma levantada na moral da sua base.
- Foi normal, natural. Se ele é oposição, mesmo derrotada, (a oposição) tem que dar uma emulada na sua base. Eu também fiz isso quando perdi eleição - afirmou.
Dutra disse que Serra ligou para Dilma ainda no domingo à noite. Como estava dando entrevista, a presidente eleita não atendeu o tucano, que conversou com Palocci. Mais tarde, quando já estava no Alvorada, Dilma conversou com Serra. Dutra disse que foi uma conversa normal, onde ocorreram cumprimentos protocolares. Dilma também conversou com a senadora Marina Silva (PV-AC), candidata derrotada no primeiro turno. Mas não foram divulgados detalhes da conversa com a ex-ministra do Meio Ambiente.
Perguntado se Dilma iria tirar uns dias de folga, o presidente do PT disse:
- Provavelmente, mas o que vamos discutir hoje (nesta segunda) é a agenda dela de hoje para frente - concluiu.
No primeiro pronunciamento após eleita, Dilma prometeu fazer um governo "para todos" sem perseguir adversários ou proteger amigos. Na avaliação de Cardozo, esse aceno feito à oposição é importante.
- Ela fez um aceno à oposição e continuará fazendo. É importante governar o país com unidade - afirmou.

Gaúchos comemoram eleição de Dilma, mas Serra vence no RS

01 de novembro de 2010 11h32 atualizado às 12h29
Os eleitores de Dilma Rousseff no Rio Grande do Sul comemoraram o resultado das urnas. Foto: Wilson Dias/ ABR/Divulgação Festa em Porto Alegre foi na avenida João Pessoa, em frente à sede municipal do PT
Foto: Wilson Dias/ ABR/Divulgação
 
Aproximadamente duas mil pessoas comemoraram em Porto Alegre a vitória de Dilma Rousseff (PT) para a eleição presidencial com uma festa na avenida João Pessoa, em frente à sede municipal do PT, na noite de domingo (31). De cima do carro de som, lideranças como o presidente estadual do partido, o deputado Raul Pont, o coordenador do comitê suprapartidário de Dilma no Rio Grande do Sul e prefeito da cidade de São Leopoldo, Ary Vanazzi (PT), e o ex-governador Olívio Dutra (PT), fizeram discursos inflamados, ressaltando a importância da vitória. Na rua, tomada pelas bandeiras petistas, a fumaça dos churrasquinhos e dos foguetes, os militantes lamentavam a ausência de alguns líderes ilustres, como o governador eleito, Tarso Genro (PT), que optou por acompanhar a apuração em Brasília. E desconhecia que, no Rio Grande do Sul, ao contrário do que aconteceu no primeiro turno, no segundo Dilma perdeu - por uma diferença apertada, é verdade - para José Serra (PSDB).
Totalizados os votos, no Estado onde a presidente eleita passou parte significativa da vida e consolidou sua trajetória na política, Serra fez no segundo turno 3.237.207 votos (50,94%) e Dilma 3.117.716 (49,06%). Em números absolutos, uma diferença de pouco mais de 100 mil votos em favor do tucano. No primeiro turno Dilma, com 3.007.263 votos, havia ficado com uma margem de 400 mil votos sobre Serra, que havia totalizado 2.600.389 votos. O resultado do segundo turno ficou bem aquém daquele que era aguardado por Tarso. Durante a campanha da segunda etapa da eleição, ele acreditava que Dilma iria, inclusive, ampliar a diferença. O PT gaúcho, que tem a pretensão não apenas de se fortalecer no cenário nacional como de emplacar alguns nomes para o ministério de Dilma, já tenta explicar a virada de Serra. Procura nos mapas as votações por cidades para apontar onde Dilma foi melhor e onde ela foi pior.
Em entrevista a Rádio Gaúcha na manhã desta segunda-feira (1), Tarso avaliou que talvez a petista não tenha obtido o voto do setor da agricultura familiar que votou nele no primeiro turno, mas é vinculado ao PP, uma vez que, no Rio Grande do Sul, o PP fechou com Serra e até promoveu alguns atos de campanha no segundo turno.
Segundo Pont, o partido entendia que como no primeiro turno a votação de Marina Silva (PV) havia sido significativa no Estado, os votos da senadora iriam se redistribuir entre Dilma e Serra no segundo, mas ressalva que isto pode não ter acontecido.
"Também houve um elemento forte, que foi o processo de preconceito, que deixou muita gente na dúvida. E pode ser também que tenhamos avaliado mal e feito uma campanha menor do que deveríamos", admite.
Do lado serrista, a avaliação é de que o ingresso da maior fatia do PMDB na campanha de Serra e a intensificação de agendas de tucanos e aliados no Estado foram fundamentais para a vitória. Candidatos derrotados na eleição para o governo e o Senado, os peemedebistas José Fogaça e Germano Rigotto abriram o voto para o tucano. Deputados peemedebistas como Osmar Terra, Darcísio Perondi e Alceu Moreira fizeram campanhas fortes em suas bases. "Lutamos pela virada porque havia 2,5 milhões de gaúchos que não haviam votado nem na Dilma e nem no Serra no primeiro turno", resume o coordenador do Movimento Suprapartidário Gaúchos com Serra, o deputado federal Germano Bonow (DEM).
Nos bastidores, tucanos gaúchos e seus aliados peemedebistas aproveitam para colocar "lenha na fogueira" dos adversários. "O PT aqui está enrolado com as disputas para compor o secretariado do Tarso, e acabou não dando a energia necessária para a campanha da Dilma", alfineta um peemedebista. Os petistas, por sua vez, dizem que a saída da governadora Yeda Crusius (PSDB) da disputa após o primeiro turno (ela, que tentava a reeleição, sempre ostentou altos índices de rejeição nas pesquisas), ajudou o tucano.
Para além das estocadas mútuas, é fato que Serra veio três vezes ao Rio Grande do Sul na campanha do segundo turno. Dilma veio uma. No dia 31, voltou para votar.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ibope: eleitor de Dilma mira consumo e o de Serra, saúde

Por AE, estadao.com.br, Atualizado: 22/10/2010 11:03
 
A maioria do eleitorado acredita que Dilma Rousseff (PT) é a candidata à Presidência com mais atributos para beneficiar a população pobre e manter o crescimento do poder de compra dos brasileiros. José Serra (PSDB), por sua vez, tem a imagem mais relacionada à área da saúde pública. As informações constam da última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. O instituto perguntou a 3.010 eleitores qual dos dois presidenciáveis teria a melhor atuação em relação a oito tópicos, como segurança, educação e meio ambiente.
Dilma, que na mesma pesquisa lidera nas intenções de voto por 51% a 40%, também está na frente em todos os tópicos avaliados, com exceção da saúde, item no qual há um empate com o tucano. Para 55% dos eleitores, a candidata do PT é a que mais dará atenção à população pobre caso conquiste a Presidência. Outros 32% dizem o mesmo em relação a Serra.
A vantagem de Dilma nesse quesito diminui conforme aumenta a renda dos entrevistados - ou seja, os mais pobres são os que têm maiores expectativas de que a candidata os beneficie. Entre os que têm renda familiar de até um salário mínimo, 61% afirmam que a petista dará mais atenção aos pobres. Já entre os que ganham mais de cinco mínimos, esse índice é de apenas 47%.
A candidata do PT também é apontada pela maioria dos entrevistados (51%) como a mais preparada para 'manter a economia forte e o crescimento do poder de compra da população'. Nesse caso, novamente a vantagem de Dilma é maior entre os mais pobres, com renda de até um salário mínimo (59% a 29%). Na faixa de renda acima de cinco mínimos, porém, é Serra o visto como mais preparado para gerir a economia (48% a 40%).
Corrupção
Dilma - cuja sucessora na Casa Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva, Erenice Guerra, está sob investigação por suposto envolvimento em esquema de tráfico de influência - também é vista como mais preparada para combater a corrupção no País (46% a 36%). Serra só lidera nesse quesito entre os mais escolarizados (45% a 38%) e os que têm renda acima de cinco salários mínimos (50% a 33%). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Religiosos atacam Serra e Igreja em ato pró-Dilma

Pd. Júlio Lancelotti e Frei Beto participaram de encontro em SP para apoiar candidata do PT

20 de outubro de 2010 | 8h 42
 
Malu Delgado, de O Estado de S.Paulo
SÃO PAULO - A crítica ao uso do discurso religioso na disputa presidencial marcou o ato de apoio de juristas e intelectuais à presidenciável Dilma Rousseff (PT) na terça-feira, 19,  em São Paulo, no teatro da Pontifícia Universidade Católica (Tuca). Os líderes religiosos padre Júlio Lancelotti e Frei Beto - ex-assessor especial da Presidência da República - empolgaram a plateia, composta basicamente por estudantes e políticos, ao repreender segmentos da Igreja Católica e o adversário da petista, José Serra (PSDB), por estimularem debate sobre o aborto e união civil homossexual na campanha.
A senadora eleita Marta Suplicy (PT), sexóloga, afirmou que a campanha transformou o Brasil num "País de aiatolás". Já o candidato petista derrotado ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante acusou Serra de estar em torno "de resquícios da monarquia, do integralismo, e da juventude nazista".
"A igreja não tem tutela da consciência do povo. O povo deve ter liberdade de consciência. A igreja deve estar onde o povo está e a missão da igreja é lavar os pés dos pobres e não dominar a consciência política deles", afirmou, aplaudido de pé, padre Júlio, que desenvolve um trabalho social com moradores de rua. Ele disse ainda que José Serra "é o pai do higienismo em São Paulo, uma pessoa que não tem visão de que quem está rua também é cidadão".
Ex-assessor do presidente Lula, Frei Beto lamentou o fato de "aborto e religião" terem sido temas de destaque na campanha presidencial. "Lei de aborto não impede o aborto. O que impede aborto é política social, é salário, é o Bolsa Família, é distribuição de renda. Temos que deixar claro isso nos poucos dias que faltam. As mulheres as vezes rejeitam os filhos porque não tem condições de assumi-los." Afirmou, ainda, que "bispos panfletários não falam nem em nome da igreja nem em nome da CNBB". "É opinião pessoal, só que é injuriosa, mentirosa e difamatória", criticou.
Mercadante, que está à frente da campanha de Dilma em São Paulo no segundo turno, disse que "igreja alguma pode tutelar a democracia e a consciência do povo, muito menos setores pouco representativos".
Dilma Rousseff gravou uma mensagem por vídeo que foi exibida ao final do evento. A petista foi representada pelo candidato a vice na coligação, Michel Temer (PMDB). O peemedebista fez elogios a Lula para defender a eleição de Dilma. "O governo Lula fez a justiça social. Juntamos democracia política com justiça social, Dilma é a fusão dessas concepções e dessas ideias."
Dilma lembrou que o teatro da PUC foi palco da resistência na ditadura. A candidata fez um compromisso com o aprimoramento e aprofundamento das políticas sociais do governo Lula. Nosso governo continuará sendo conduzido de forma republicana. "Não só pelo respeito e a ordem, mas pela consolidação de direitos e liberdades de todos os brasileiros."
Juristas leram o manifesto de apoio à candidata. Também foi exibido um vídeo de Celso Antonio Bandeira de Mello, que assina o manifesto. No texto, acadêmicos e professores de Direito elogiam o atual governo e enfatizam que o "governo preservou as instituições democráticas" "e não tentou alterar casuisticamente a constituição para buscar um novo mandato". O ex-ministro Marcio Thomaz Bastos também estava presente e discursou em defesa da eleição de Dilma.

Quem é Paulo Preto


Levada à campanha por Dilma Rousseff, a história do ex-diretor da Dersa causa constrangimento no tucanato e gera versões desencontradas de Serra. Por Cynara Menezes. Foto: Rodrigo Capote/Folhapress
Na noite do domingo 10, ao fim do primeiro bloco do debate da TV Bandeirantes, o mais acalorado da campanha presidencial até agora, cobrada pelo adversário tucano José Serra sobre as denúncias contra a ex-ministra Erenice Guerra, a petista Dilma Rousseff revidou: “Fico indignada com a questão da Erenice. Agora, acho que você também deveria responder sobre Paulo Vieira de Souza, seu assessor, que fugiu com 4 milhões de reais de sua campanha”. Serra nada disse – ou “tergiversou”, como acusou a adversária durante todo o encontro televisivo –, e o País inteiro ficou à espera de uma resposta: quem é Paulo Vieira de Souza?
Numa eleição em que o jornalismo dito investigativo só atuou contra a candidata do governo, Dilma Rousseff serviu como “pauteira” para a imprensa. O pauteiro é quem indica quais reportagens devem ser feitas – e, se não fosse por causa de Dilma, Vieira de Souza nunca chegaria ao noticiário. Nos dias seguintes ao debate, finalmente jornais e tevês se preocuparam em escarafunchar, mesmo sem o ímpeto habitual quando se trata de denúncias a atingir a candidatura governista, um escândalo que envolvia o tucanato. A acusação contra Vieira de Souza, vulgo “Paulo Preto” ou “Negão”, apareceu pela primeira vez em agosto, na revista IstoÉ.
No texto, que obviamente teve pouquíssima repercussão na época, o engenheiro Paulo Preto era apontado como arrecadador do PSDB e acusado pelos próprios tucanos de sumir com dinheiro da campanha. “Como se trata de dinheiro sem origem declarada, o partido não tem sequer como mover um processo judicial”, dizia a reportagem, segundo a qual o engenheiro possuía relações estreitas com as empreiteiras Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS, Mendes Júnior, Carioca e Engevix.
Após a citação feita por Dilma, os jornalistas cuidaram de cercar Serra para tentar extrair a resposta que ele não deu no debate. De saída, o candidato disse não conhecê-lo. “Eu não sei quem é o Paulo Preto. Nunca ouvi falar. Ele foi um factoide criado para que vocês fiquem perguntando”, declarou, na segunda-feira 11.
No dia seguinte, ameaças veladas feitas pelo ex-arrecadador em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo foram capazes de refrescar a memória de Serra. “Não somos amigos, mas ele me conhece muito bem. Até por uma questão de satisfação ao País, ele tem de responder. Não tem atitude minha que não tenha sido informada a ele”, disse Paulo Preto. “Não se larga um líder ferido na estrada em troca de nada. Não cometam esse erro.”
A partir da insinuação de que o já apelidado “homem-bomba do tucanato” possui fartos segredos a revelar, Serra não só se lembrou do desconhecido como o defendeu e o elogiou. “A acusação contra ele é injusta. Não houve desvio de dinheiro de campanha por parte de ninguém, nem do Paulo Souza”, afirmou o tucano, fazendo questão de dizer que o apelido “Preto” é preconceituoso. “Ele é considerado uma pessoa muito competente e ganhou até o prêmio de Engenheiro do Ano (em 2009). Nunca recebi nenhuma acusação a respeito dele durante sua atuação no governo.”
O último cargo público do engenheiro em governos do PSDB foi como diretor de engenharia da empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), cargo do qual foi demitido em abril, poucos dias após Serra se lançar à Presidência. Mas sua folha de serviços prestados ao PSDB é extensa. Há 11 anos ocupava cargos de confiança em governos tucanos e era diretor da Dersa desde 2005, primeiro nas Relações Institucionais e depois na engenharia, nomeado por Serra. Trabalhou no Palácio do Planalto durante os quatro anos do segundo governo Fernando Henrique Cardoso como assessor especial da Presidência, no programa Brasil Empreendedor Rural. Em São Paulo, foi responsável pela medição de obras e pagamentos a empreiteiras contratadas para construir o trecho sul do Rodoanel, que custou 5 bilhões de reais, a expansão da avenida Jacu-Pêssego e a reforma na Marginal do Tietê, estimada em 1,5 bilhão.
Quem levou Vieira de Souza para o Planalto foi Aloysio Nunes Ferreira, recém-eleito senador pelo PSDB, de quem Paulo Preto se diz amigo há mais de 20 anos. Ferreira dispensa apresentações. Em 3 de outubro foi o candidato ao Senado mais votado do Brasil, depois de ter sido chefe da Casa Civil no governo paulista.
De acordo com a IstoÉ, familiares de Vieira de Souza chegaram a emprestar 300 mil reais para Ferreira, quantia -assumidamente utilizada pelo novo senador para quitar o pagamento do apartamento onde vive, em Higienópolis. O engenheiro mantém, aliás, um padrão de vida elevado, muito acima de quem passou boa parte da carreira em cargos públicos. É dono de um apartamento na Vila Nova Conceição em um edifício duplex com dez vagas na garagem, sauna privê e habitado por banqueiros e socialites. Pela média de preços da região, um apartamento no prédio não custa menos de 9 milhões de reais.
Vieira de Souza foi demitido da Dersa oito dias após aparecer ao lado de tucanos graduados na festa de inauguração do Rodoanel e atribuiu sua saída a diferenças de estilo com o novo governador, Alberto Gold-man, que assumiu na qualidade de vice.
Goldman parecia, de fato, incomodado com a desenvoltura, para dizer o mínimo, de Paulo Preto no governo, e deixou esse descontentamento claro em um e-mail enviado a Serra, em novembro do ano passado, no qual acusava o então diretor da Dersa de ser “vaidoso” e “arrogante”, como revelou a Folha de S.Paulo. “Parece que ninguém consegue controlá-lo. Julga-se o Super-Homem”, escreveu o atual governador na mensagem ao antecessor, também encaminhada ao secretário estadual de Transportes, Mauro Arce. Mas Paulo Preto só deixou o governo quando Serra saiu.
Dois meses após sua exoneração, em junho, Vieira de Souza seria preso em São Paulo, acusado de receptação de joia roubada. O ex-diretor da Dersa alega ter comprado de um desconhecido um bracelete de brilhantes da marca Gucci por 18 mil reais. Ao levar a joia a uma loja do Shopping Iguatemi para avaliar se era verdadeira, foi preso em flagrante, após ser constatado pelo gerente que o objeto havia sido furtado ali mesmo no mês anterior. Solto no dia seguinte, passou a responder à acusação em liberdade. Hoje, ele atribui o imbróglio a “uma armação”.
Seu nome aparece ainda na investigação feita pela Polícia Federal que resultou na Operação Castelo de Areia. Na ação, -executivos da construtora Camargo Corrêa são acusados de comandar um esquema de propinas em obras públicas. A empresa nega. No relatório da PF há várias referências ao trecho sul do Rodoanel, responsabilidade de Paulo Preto, que teria recebido quatro pagamentos mensais de 416 mil reais da empreiteira. Vieira de Souza também nega. “A mim nunca ninguém entregou absolutamente nada. O lote da Camargo Corrêa na obra era de 700 milhões de reais e a obra foi entregue no prazo, só com 6,52% de acréscimo. É o menor aditivo que já houve em obra pública no Brasil.”
À revista Época, que publicou uma pequena reportagem sobre o caso em maio, Ferreira reconheceu a amizade antiga com Paulo Preto, mas negou ter recebido doações ilegais da construtora. Afirmou ainda que o Rodoanel foi aprovado pelos órgãos fiscalizadores. “O Rodoanel teve apenas um aditivo de 5% de seu valor total, um recorde para os padrões do Brasil”, disse o senador eleito. Atualmente, a operação Castelo de Areia encontra-se paralisada em virtude de uma liminar deferida pelo ministro Cesar Asfor Rocha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), até que seja julgado o pedido da defesa da Camargo Corrêa, que reclama de irregularidades na investigação.
O vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, que teria servido de fonte para a reportagem da IstoÉ, deu entrevista nos últimos dias na qual nega ter afirmado que Paulo Preto arrecadara, por conta própria, “no mínimo” 4 milhões de reais – o próprio engenheiro diz que esse número foi subestimado. Segundo Eduardo Jorge, não existe nenhum esquema de “arrecadação paralela”, o famoso caixa 2, entre os tucanos. Paulo Preto processa EJ, o tesoureiro-adjunto Evandro Losacco e o deputado federal reeleito José Aníbal, chamados por ele de “aloprados” por tê-lo denunciado à revista. Curiosamente, na entrevista à imprensa, Eduardo Jorge faz mistério sobre os nomes dos reais arrecadadores da campanha tucana, a quem chama de “fulano” e “sicrano”.
Na quinta-feira 14, a bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo entrou com uma representação no Ministério Público Estadual. Solicita uma investigação contra o ex-diretor da Dersa por improbidade administrativa. Além da acusação sobre os 4 milhões de reais arrecadados irregularmente para a campanha tucana, os parlamentares petistas acusam a filha de Paulo Preto, a advogada Priscila Arana de Souza, de tráfico de influência, por representar as empreiteiras que tinham negócios com a empresa pública desde 2006, quando o pai era responsável pelo acompanhamento e fiscalização das principais obras viárias do governo paulista, como o Rodoanel e a Nova Marginal, vitrines da campanha tucana na corrida presidencial.
Documentos do Tribunal de Contas da União revelam que Priscila Souza era uma das advogadas das empreiteiras no processo que analisou as contas da construção do trecho sul do Rodoanel. Ao contrário do que disse o ex-chefe da Casa Civil de Serra, uma auditoria da empresa Fiscobras apontou diversas irregularidades na obra, entre elas um superfaturamento de 32 milhões de reais em relação ao contrato inicial, despesa que teria sido repassada ao Ministério dos Transportes, parceiro no projeto. A filha do engenheiro aparece ainda em uma procuração, datada de maio de 2009, na qual os responsáveis da construtora Andrade Gutierrez autorizam os advogados do escritório Edgard Leite Advogados Associados a representarem a empresa em demandas judiciais.
“Já havíamos encaminhado ao MP uma representação, em maio, pedindo investigação sobre a suposta arrecadação ilegal de dinheiro para a campanha tucana, com base nas denúncias da IstoÉ. Conversei com o procurador-geral, Fernando Grella, e ele me garantiu que a investigação foi aberta, mas corre em sigilo de Justiça, por ter sido anexada aos autos da Operação Castelo de Areia, que está suspensa”, disse o deputado estadual do PT Antonio Mentor.
Para o presidente estadual do PT, Edinho Silva, há indícios suficientes de uma relação “pouco lícita” entre o ex-diretor da Dersa e as construtoras. “Como pode a filha representar as mesmas empresas que são fiscalizadas pelo pai? O poder público não pode se relacionar dessa forma com a iniciativa privada”, afirmou Silva, recém-eleito deputado estadual. “Além disso, é preciso apurar essa história do dinheiro arrecadado ilegalmente pelo engenheiro. Quem denunciou isso não foi a gente, foi o PSDB, que não viu a cor do dinheiro e reclamou à imprensa.”
Por meio de nota, o escritório de -advocacia classificou de “inconsistentes e maldosas” as acusações do PT. “A advogada Priscila Arana de Souza ingressou no escritório em 1º de junho de 2006. O escritório presta, há mais de dez anos, serviços jurídicos a praticamente todas as empresas privadas que compõem os consórcios contratados para a execução do trecho sul do Rodoanel de São Paulo”, registra o texto.
Procurado por CartaCapital, Paulo Preto não foi encontrado. Seus assessores informaram, na quinta-feira 14, que o engenheiro estava viajando. Na entrevista que deu à Folha, o engenheiro insinuou que sua função era a de facilitar as doações de empresas privadas com contratos com o governo de São Paulo ao PSDB. “Ninguém nesse governo deu condições de as empresas apoiarem (sic) mais recursos politicamente do que eu”, disse. Isso porque, sustentou, cumpriu todos os prazos e pagamentos acertados com as empreiteiras nas obras sob seu comando.
Nos últimos dias, Serra tem se mostrado irritado com as perguntas de jornalistas sobre o tucano honorário Paulo Preto. Em Porto Alegre, na quarta-feira 13, chegou a acusar o jornal Valor Econômico de atuar em favor da campanha de Dilma Rousseff. Perguntado por um repórter do diário, o presidenciável disse que o veículo, pertencente aos grupos Folha e Globo, “faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral gratuito”, evidenciando como se incomoda de provar do próprio remédio. O destempero deu-se minutos depois de o candidato declarar seu apreço pela liberdade de imprensa. Além do mais, a reclamação é estranha: as manchetes de jornais e capas de revistas com críticas e denúncias contra Dilma Rousseff são matéria-prima do programa eleitoral do PSDB.
No domingo 17, Dilma e Serra voltam a se enfrentar no debate promovido pela Rede TV! Ninguém espera que se cumpra o vaticínio frustrado de “paz e amor” dado pelos jornais antes do primeiro confronto. A petista vai, ao que tudo indica, continuar a questionar Serra sobre as privatizações do governo Fernando Henrique e insistirá na comparação dos feitos do governo Lula com aqueles de seu antecessor. Segundo a pesquisa CNT-Sensus divulgada na quinta 14, os entrevistados consideraram Dilma Rousseff a vencedora do debate na Band.
Durante o debate, Serra nem sequer defendeu a própria mulher, Mônica, apontada por Dilma como uma das líderes de uma campanha difamatória de cunho religioso contra o PT, ao declarar a um evangélico no Rio de Janeiro que a candidata governista “gosta de matar criancinhas”. O fez depois, em seu programa eleitoral, ao tentar assumir o papel de vítima (segundo ele, a adversária tinha partido para a baixaria e atacado até a sua família).
Siga Cynara Menezes no Twitter: @cynaramenezes

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Eleições - Dilma: "Brasil vai ampliar produção e acesso a bens culturais" | Portal de Noticias de São Sebastião, Ilhabela

Eleições - Dilma: "Brasil vai ampliar produção e acesso a bens culturais" Portal de Noticias de São Sebastião, Ilhabela

Depois da violência, assédio e esquecimento

'Não deixa cair no esquecimento, não, tá?', pede o administrador Rafael Cestari, tio do garoto morto há dez dias em uma sala de aula da Escola Adventista de Embu das Artes, na Grande São Paulo. Miguel Ricci dos Santos tinha 9 anos, cursava a 4.ª série e morreu após ser atingido por uma bala de revólver calibre 38. Segundo a polícia, a mochila do coleguinha suspeito de portar a arma foi lavada - o que aumenta a desconfiança.
O caso apareceu na primeira página de todos os jornais, os pais de Miguel foram a programas vespertinos de TV e receberam manifestações de solidariedade do público nas ruas. Roberta, a mãe do menino, conta que o advogado deles foi arrumado pela produção de um dos programas. 'Entendo que as pessoas queiram nos confortar, mas às vezes você precisa ficar na sua e vem gente na padaria te abraçar, chorar, dizer palavras bonitas', diz o pai de Miguel, o assistente administrativo Dennys Winston Ricci dos Santos, de 29 anos.
O assédio momentâneo não é garantia de 'não esquecimento' nem, como espera o tio do garoto, de que a justiça será feita.
A história recente tem mostrado que os holofotes logo se apagam, o que significa que, muito provavelmente, em breve Dennys Winston se verá livre das promessas de políticos graúdos, voluntários desconhecidos e oportunistas. 'Ih, conheço bem esse filme', diz a estudante Priscila Aprígio da Silva, que em 2007 ficou paraplégica depois de ser atingida por uma bala perdida num assalto a banco em Moema. A repercussão fez com que recebesse visita no Hospital Alvorada até do governador José Serra. Aparecia gente oferecendo emprego, docinho, carro. 'Aproveitei para pedir tudo o que queria. Fui até batizada pelo pessoal do São Paulo (Futebol Clube)', conta Priscila, que está grávida de nove meses.
Passados três anos, ela se diz esquecida. Conta que precisou procurar a produção de um programa de TV - o mesmo que arrumou o advogado para a mãe do menino Miguel - para que arranjassem um médico que fizesse seu parto. Eles arrumaram. E a médica também apareceu no programa.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Na estreia, Serra vai destacar ''valorização da vida'' e citar FHC


Por Ana Paula Scinocca e Julia Duailibi, estadao.com.br, Atualizado: 8/10/2010 2:22
Na estreia, Serra vai destacar ''valorização da vida'' e citar FHC
No momento em que a polêmica a respeito do aborto domina o debate eleitoral e desgasta a candidatura do PT, o programa de TV do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, vai destacar 'a valorização da vida' na estreia do horário eleitoral gratuito hoje. Também está prevista a exibição de uma imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - a aparição do tucano neste programa ainda dependia, na noite de ontem, da edição final da peça.
O programa de estreia, que foi gravado entre terça-feira e ontem, em São Paulo, não abordará a questão do aborto diretamente. Mencionará o tema apenas no contexto da importância de preservar a vida, numa referência indireta às supostas posições da candidata Dilma Rousseff em favor do assunto.
Numa tentativa de exibir força do candidato e de minimizar as acusações de que Serra estaria isolado politicamente, o programa também vai mostrar gravações com apoio de políticos aliados. Estava também prevista a aparição do senador eleito por Minas Gerais, o ex-governador Aécio Neves, que recebeu mais de 7,5 milhões de votos no Estado.
Na primeira etapa da campanha presidencial, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não apareceu nos programas de TV nem participou de atos da campanha de Serra.
A defesa de parte do seu legado foi feita pelo presidenciável tucano anteontem, no primeiro ato de campanha do segundo turno, em Brasília. Em evento para plateia tucana, Serra ficou à vontade para defender as privatizações conduzidas por Fernando Henrique.
O PT já deixou claro que vai utilizar o tema das privatizações para atacar a campanha tucana. Também vai aumentar a comparação entre os oito anos de gestão de Lula e o governo Fernando Henrique.
A avaliação do comando do PSDB é que, em razão disso, não se pode negligenciar a defesa da gestão do ex-presidente. Isso não significa que Fernando Henrique será o garoto-propaganda da campanha de Serra. Será mais um uso preventivo do que uma ferramenta de marketing propriamente dita.
O programa vai ainda adotar parte do receituário usado durante o horário eleitoral gratuito do primeiro turno. Haverá, mais uma vez, apresentação da biografia do candidato e a exibição de propostas-chave do tucano - Serra ainda não tornou público seu programa de governo e tem apostado na televisão como forma de divulgar suas propostas principais.
Novo cenário. Com clipe e cenário novo, o primeiro programa do presidenciável tucano no segundo turno também vai mostrar em pequena peça, com cerca de 15 segundos, a comparação da trajetória de José Serra com a de Dilma Rousseff.
O programa vai ainda explorar muitas imagens do candidato do PSDB falando diretamente com o telespectador.
Integrantes da equipe de marketing do partido afirmam que o programa está com um visual mais parecido com as peças exibidas nos últimos dias da campanha.
Na época, a equipe de comunicação apostou em filmes que vendiam a ideia de um Brasil grande, em peças otimistas quanto ao futuro do País.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dilma Rousseff diz ter compromisso com crescimento sustentável

Candidata do PT promete modelo que faça o país crescer a taxas elevadas e gere empregos. Dilma também acha que Marina Silva tem afinidades com ela.

Dilma Rousseff se reuniu com deputados, senadores e governadores eleitos no primeiro turno.
Eles foram escalados para ajudar na campanha para presidente. Vão pedir votos para a candidata nos estados.
Foi um dia inteiro de reuniões, telefonemas. Os aliados avaliaram o resultado da votação de domingo.
Durante entrevista coletiva, Dilma explicou por que a disputa ficou para o segundo turno.
“Os votos não foram suficientes. Faltou 3% dos votos. Isso a gente tem que ter humildade para reconhecer. Segundo: a candidata Marina fez campanha qualificada e uma parte dos votos, ela capturou e tirou do meu adversário também”, avalia a candidata do PT à presidência Dilma Rousseff.
A candidata do PT disse que o segundo turno é sempre uma oportunidade de discussão sobre propostas para o país. Prometeu, se eleita, erradicar a miséria e estimular a economia respeitando o meio ambiente.
“Esse compromisso é com o modelo de desenvolvimento sustentável, mas também um modelo de desenvolvimento e capaz de fazer o Brasil crescer a taxas elevadas que gere emprego na proporção que a população necessite”, diz a candidata do PT à presidência Dilma Rousseff.
Dilma Rousseff disse que telefonou para Marina Silva, candidata do PV, para dar os parabéns pelo resultado das eleições. E que não pediu apoio, por enquanto: “Dou muito valor ao apoio da Marina. Isso não significa necessariamente que a Marina deva me apoiar. Eu respeito a Marina como militante política e acredito que temos mais proximidades do que diferenças”.
Dilma Rousseff resumiu como será a estratégia da campanha nas próximas quatro semanas: “Fazer um debate qualificado apresentando as propostas e desenvolvendo as propostas na área de saúde e em parceria com os governadores desenvolver uma política de segurança pública que possa devolver, tanto nas grandes cidades quanto nas comunidades, a paz”, disse a candidata do PT à presidência.